sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

É Natal!

 Para marcar uma data tão significativa como o Natal, aí vai a crônica publicada dia 23/12, no jornal “A Tribuna”, aqui de Santos, na seção “Tribuna Livre”.

                       Os olhos castanhos de minha mãe


           Eram castanhos os olhos de minha mãe. Não um simples, mas um intenso castanho, profundo, luminoso. Eram olhos que, apesar da timidez, olhavam direta e profundamente, deixando transparecer bondade, mas também decisão. Os olhos de minha mãe revelavam sua personalidade, e foi com esses olhos que me encantei logo que comecei a me entender por gente.

            Da época de Natal, as primeiras lembranças são vagas, confusas, a não ser por um detalhe: eu adivinhava o clima de felicidade. Preparativos para uma festa, conversas sobre presentes, figuras de presépio, como não criar expectativas em uma criança muito pequena? Cores, muitas luzes, outras crianças, a casa cheia de parentes.

            E, naturalmente, sobressaindo, a tradicional figura vermelha, de barbas brancas e com um saco de presentes. Quando o Papai Noel chegou naquela Noite de Natal, eu me agarrava ao colo de meu pai, enquanto procurava minha mãe e meus tios queridos. Vi os tios, mas onde estava minha mãe?

E o Papai Noel se aproximando, em um misto de alegria, mistério e uma pontinha de medo. Ele distribuiu presentes e acariciou outras crianças. Quando chegou bem perto de mim, parecia que, por instantes, o mundo havia parado. Perguntou qualquer coisa com uma voz estranha, que, hoje, eu sei, tentava disfarçar.

 Mas, aí, já não havia mais volta. Eu tinha olhado nos olhos do Papai Noel. Eram castanhos, profundos, luminosos, os olhos... de minha mãe. Naquele exato momento, não existia mais Papai Noel. A voz disfarçada logo foi reconhecida. E eu entendi que era minha mãe embaixo das roupas vermelhas, da barba branca, dos gestos estudados.

Fiquei quietinha, não revelei minha descoberta. Decepção por não existir Papai Noel? Nenhuma. Era bom saber que minha mãe estava ali, procurando me alegrar (e também às outras crianças). Era um gesto de carinho. O amor que eu já conhecia de sobra. Amor de mãe travestida de Papai Noel.

Foi esse amor que ela procurou transmitir ao longo de toda a vida. Um amor que se derramava em compreensão, solidariedade, perdão, luta, retidão de caráter. Tudo aquilo que a pequena figura da Criança deitadinha no presépio se propôs a ensinar depois de adulta. A mesma mensagem de paz e bondade. Os mesmos valores que caracterizam homens e mulheres de bem. O mesmo difícil caminho trilhado por todos que compreenderam e seguiram os sinais que conduzem à evolução do gênero humano.

Sim, eu tive vários mestres em minha infância. Meus familiares que me orientaram em direção à estrela do bem. Entre eles, a inesquecível figura materna, em cujos olhos castanhos eu sempre podia ver as emoções e as nuances da vida. Por isso, hoje, esqueço por momentos todo o sofrimento e revolta contra o retrocesso vivenciado por parcela da humanidade.

Em meu mundo utópico, Papai Noel chega carregado de um saco de presentes: não existem mais assassinatos, escravidão e desprezo pelas mulheres, corrupção, crianças famintas, velhos morrendo desamparados. Até os animais são tratado com dignidade. Revejo os valores ensinados pela Criança do presépio. É Natal! E eram de um castanho profundo os olhos de minha mãe!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Luzes de Natal e Hino do Santos

Como sempre, nesta época, a Cidade se enfeita para o Natal e o Final de Ano. Luzes, muitas; cores, variadas. Uma época de alegria e, também, de recolhimento: parar para pensar no amor que nos foi ensinado pela Criança cujo aniversário estamos comemorando. E, também, na ausência desse sentimento, que tanto mal causa à humanidade. Quem sabe, cada um de nós fazendo nossa parte, possamos ver brilhar, esplendorosa, a Estrela Divina do Amor.
Quanto às luzes multicoloridas, ajudam, a pensar e comemorar. A orla da praia santista e muitas ruas e avenidas são dignas de cartões-postais, com seus prédios de apartamentos e casas decorados com esmero. Destaque para o bom gosto da iluminação da fachada da Pinacoteca Benedicto Calixto na Av. Bartolomeu de Gusmão. Aliás, o espaço da Pinacoteca, domingo, dia 18, à tarde, foi palco de mais um belo concerto coral, com apresentação do Madrigal Lavignac, regido por Adriana de Oliveira Ribeiro. Unindo música de várias épocas a textos literários ditos por Maria do Rosário Guillaume e projeção de imagens, o Lavignac foi aplaudido de pé, em sua viagem musical, que se encerrou com Villa-Lobos.
 Já à noite, a Pinacoteca, optando por focos de luz que ressaltam a beleza de todo o Casarão, consegue um visual que se destaca. Os responsáveis pelo projeto acertaram ao fazer se suceder uma variedade de tons, dos suaves verde e azul ao vibrante vermelho, passando pelo verde, lilás e muitos outros. Um espetáculo digno das belas noites santistas de verão.
Especialmente - como foi meu caso - se você está voltando do Gonzaga após ver, ouvir e aplaudir a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, em seu já tradicional Concerto de Fim de Ano, nas areias das praias de Santos. Uma iniciativa que arrancou aplausos da multidão, com repertório erudito, mas leve, apropriado para o momento e o local. Tanto instrumentistas quanto o regente Yan Pascal Tortelier mereceram os aplausos, por sua arte e entrega total à música.
E, também, por sua simpatia ao interpretar o Hino do Santos em arranjo para orquestra, tão bem escrito que conseguiu ficar bonito. E, tudo isso, em uma noite em que nós, torcedores do Santos, estávamos "de cabeça inchada". Mas, como disse o integrante da OSESP que apresentou o espetáculo, foi só uma preparação para a revanche, no ano que vem!!!    

sábado, 15 de outubro de 2011

João Vitor - Amor para sempre

                                   
                                   Emoções de uma avó

Você já tem um mês! Passou rápido demais! Mas a emoção continua a mesma. O mesmo sentimento impossível de descrever em palavras. Aquela mistura de vontade de rir e chorar do dia em que você nasceu. As lágrimas de alegria que inundaram meus olhos quando vi você pela primeira vez. O amor tão grande que transbordava do meu coração ao olhar para sua mãe com você no colo. A vontade de gritar para a maternidade inteira: “Sou avó! O João Vitor chegou”!


E tem sido assim desde então. A partir do momento em que, com muita emoção, pelo telefone, falei com sua mãe que tinha acabado de lhe pôr no mundo e já o amamentava. A pressa de chegar para ver você. O “embrulhinho” cor-de-rosa que a enfermeira trouxe até os braços de sua mãe. Seus olhinhos semicerrados, sua boquinha aberta buscando de novo o alimento. A tentativa de guardar para sempre, pelos séculos afora, a sua imagem naquele momento, suas feições, VOCÊ!


Seu pai sorridente e ainda um pouco assustado com a pressa com que você chegou. Seus quatro avós experimentando uma felicidade inédita, um quê de incredulidade, apesar de tudo. Sua mãe, linda e tranquila, afagando e alimentando você. Um turbilhão de emoções, sem palavras.


Depois, amanheceu. E veio o dia seguinte. E vieram os outros. Ainda na maternidade, visitantes queridos foram ver você. A poderosa emoção que me dominou quando, pela primeira vez, recebi você em meus braços. Olhar seu rostinho e ver a vida se renovando. Observar o imenso carinho de seu pai com você no colo. De sua mãe, olhando embevecida para você. Fotos, muitas, muitas fotos. Para registrar aqueles mágicos instantes.


 E, então, você foi conhecer sua casa. Começou sua deliciosa rotina de mamar, dormir, ter a fraldinha trocada, tomar banho. Visitas, presentes, a tudo e a todos você parecia olhar com tranquilidade. Mas, eu, só tinha para você olhos de amor.


O mesmo amor que tenho hoje e terei para a eternidade. O mesmo carinho que me faz um ser humano melhor. A mesma preocupação que conviverá comigo para sempre. O mesmo desejo de felicidade nos meses e anos que virão. Você chegou,  João Vitor! E, com você, um sentimento que me renova: sou avó!

domingo, 25 de setembro de 2011

Para sorrir e viver

Aqui, texto escrito para a coluna “Alto Astral”, de Durval Capp Filho, no “Jornal da Baixada”. É tempo de Primavera...

                                 
                               Renascer com cores e flores

 O sinônimo de Primavera deveria ser renascer. É na Primavera que a natureza, recém-acordada dos meses frios, renasce em todo o seu esplendor, com verdes, cores, flores e perfumes. É na Primavera que pássaros multicoloridos e delicadas borboletas voltam a voar ao redor das plantas e flores, em uma sinfonia de sons que nem o mais genial compositor conseguiu reproduzir em todo o seu esplendor.

É na Primavera que corações frios e tristes voltam a se aquecer e, timidamente, começam a espalhar seu calor. É o renascer dos sentimentos, da esperança, da fé, do amor. Na Primavera, crianças voltam a brincar ao sol, adultos despem-se de pesados agasalhos, para sentir na pele luz, calor, brisa. Há um clima mais leve, há risos no ar.

Mesmo morando em um País tropical, onde o Inverno é ameno e o frio não chega a causar depressão, é impossível não sentir a diferença com a chegada da Primavera. Apesar das mudanças climáticas, das alterações bruscas de temperatura, apesar das queixas que ultimamente temos ouvido, sobre “esse clima maluco”, é tempo de nos alegrarmos. A Primavera está aí! Olhemos para a natureza e aprendamos com ela que é tempo de renascer!

domingo, 28 de agosto de 2011

Sufoco na Serra

Este artigo  foi publicado na coluna "Tribuna Livre", do jornal "A Tribuna", de Santos, no último dia 26. Retrata momentos difíceis vividos não só por mim, como por todos que são obrigados a descer a Serra, de São Paulo para Santos, pela Via Anchieta, em meio a forte neblina. Um verdadeiro crime!



                                          Trem fantasma na Anchieta


Domingo, 31 de julho, por volta de 16 horas. Fim de férias, todos felizes no retorno para casa. O trânsito pela Imigrantes, no Planalto, sentido São Paulo-Baixada Santista, flui normalmente, mas o tempo já está chuvoso, com muita neblina. A esperança de que a situação melhore é a aproximação dos túneis. No pedágio, desembolsa-se uma quantia muito alta, mas ninguém reclama. Afinal, estamos em uma estrada das mais modernas e seguras, logo estaremos na Baixada.

Mesmo com cerração forte, alguém no carro prepara a câmera fotográfica para as fotos de encerramento das férias: “Esta estrada merece ser registrada, com tanta tecnologia e túneis espetaculares”. Com o aumento da neblina, a custo se consegue vislumbrar a placa avisando sobre a interligação com a Anchieta. Mas, o que é isso? Sinais luminosos e um aviso: desvio obrigatório de todo o trânsito para a interligação. Vamos descer pela Anchieta! E a ótima Imigrantes descendente? Ora, está com mão invertida, recebendo os carros que vão para a Capital.

Na interligação, não se enxerga quase nada. Quanto de visão? Difícil calcular. O carro corta uma neblina tão forte que mal dá para perceber o que há à frente. E o que vem atrás? Melhor nem pensar! A atmosfera alegre dentro do veículo murcha repentinamente e começa a ceder espaço a uma certa angústia. A câmera volta para dentro da bolsa, com um gesto de frustração. O caminho parece não ter fim. Velocidade reduzidíssima, até que, com suspiros de alívio, se chega à Anchieta.

Mas o alívio vem cedo demais. A Anchieta está tão ou mais perigosa que a interligação. Carros, caminhões e ônibus disputam espaço nas duas faixas totalmente envoltas em pesada cerração. Alheios aos veículos leves, caminhões desviam subitamente para a faixa da esquerda, a fim de ultrapassar os mais lentos. Condutores irresponsáveis abusam da velocidade, mesmo com pouca visão. “Por pouco tempo”, diz um otimista dentro do carro. “Logo vai aparecer fiscalização para impedir esses abusos”. E todos ficam esperando pela fiscalização, que não surge em momento algum.

                 O motorista do carro, driblando um trânsito sem regras, tem como único guia, a pintura de solo, que separa as duas faixas. Nem se preocupa com os radares, porque sua velocidade é baixíssima. Para tentar aliviar a tensão, alguém diz que o cenário se parece com um filme de terror: a qualquer momento, pode acontecer a tragédia. Ninguém acha graça. Enfim, se chega à Baixada a salvo. A neblina praticamente se dissipa.

Um dos passageiros lembra-se do alto pedágio pago por uma viagem que parecia a do trem fantasma dos parques. Sem diversão, claro! Na pista ascendente, movimento grande, mas sem congestionamento. Então, por que inverter a pista descendente da Imigrantes? E qual a importância da Baixada Santista?  Onde está a força política da região?  As reclamações são constantes na mídia, mas as inversões de mão são praticamente uma regra aos domingos. Não têm os que aqui moram o direito de sair, viajar para outras cidades e voltar em segurança para casa?

 Números, estatísticas, comboios – nesse 31 de julho nem comboio tinha! –, aprovação dos usuários em pesquisas, não querem dizer nada quando se está vivendo o perigo de descer pela Anchieta sem visibilidade e com trânsito caótico. E, apesar de parecerem moucos os ouvidos dos responsáveis pelas inversões, permanece a pergunta que praticamente encerrou os comentários dentro do carro: não é obrigação do Sistema Anchieta-Imigrantes oferecer segurança tanto para quem vai como para quem vem?

domingo, 21 de agosto de 2011

"Beau geste"

Um lindo gesto da família Elias resultou em momentos marcantes para diretores e frequentadores da Pinacoteca Benedicto Calixto: no último dia 18, em encontro que reuniu diretores e convidados da entidade, foi concretizada a doação de um piano de cauda Brasil para a Pinacoteca. Trata-se de instrumento musical que pertenceu a Zuleica Miguel Elias, um presente que recebeu do noivo, Elias Miguel Elias, e que marcou todos os momentos da vida do casal, ao longo de décadas.
Foi um dos filhos de Zuleica e Elias, Ricardo Elias, quem se encarregou de recordar a história do piano e da vida da família, em palavras que emocionaram os presentes ao encontro.Conforme contou, após o falecimento dos pais, a família se decidiu pela doação do bonito instrumento, tendo a Pinacoteca sido escolhida para recebê-lo. O concertista e compositor Ricardo Paulino, diretor cultural da Pinacoteca, após palavras de agradecimento, tocou algumas de suas composições, sendo intensamente aplaudido.
Também anunciou um novo projeto da Pinacoteca, somente possível de ser realizado agora, com a entrega do novo piano: um desafio mensal de pianistas. reunindo alguns dos melhores nomes da música, tanto da região como convidados de fora.
Como se vê, um passo a mais em prol da arte, só possível graças ao "beau geste" de uma família que entende o valor da cultura e de uma entidade sempre disposta a oferecer momentos de lazer de alta qualidade!  

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Homenagem aos pais

Excertos do poema “Pai-Amor”,
publicados na coluna "Alto Astral", de
Durval Capp Filho, para comemorar
o Dia dos Pais. Escrevi o poema na
década de 80, por ocasião da mesma data.




Pai-amizade, pai-fortaleza, pai-compreensão,

pai-sobrevivência, pai-caminho,

pai-carinho e até pai-herói.

Por que não pai-amor?

.........................................................................

Muito jovem, quase menino, quase

Igual a seu menino. É preciso apoiá-lo,

Estimulá-lo.

O futuro vai lhe exigir muito.

Ou enrugado, cabelos brancos, velhinho,

Encurvado. Seu passado é sua vida.

É preciso oferecer-lhe conforto,

Assistência, solidariedade.

Por que não mais amor?

...........................................................................

Durão, bonzinho, tímido, determinado.

Inúmeras vezes preocupado,

Poucas vezes revela que

Abriu espaço para a emoção.

Mas, afinal, por que não?

Ele não é pai-amor?

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Falta um Festival

   Aqui, crônica publicada no jornal "A Tribuna", de Santos, na seção "Tribuna Livre", em 13/07/2011.


                           Pouca cultura, muito frio


Sesc, Pinacoteca Benedicto Calixto, Secretaria de Cultura de Santos. Três entidades que vêm contribuindo, cada uma à sua maneira, para oferecer um pouco de arte à população santista. Será suficiente? Definitivamente, não! Principalmente em meses de férias, como este frio julho.

É nesta época que a Cidade recebe maior número de visitantes, oportunidade das melhores para colocar na vitrine seu amor à cultura. É repetitivo, mas não dá para esquecer o quanto Santos contribuiu para a arte brasileira, quantos nomes importantes do setor despontaram aqui, quantos festivais, eventos e outras iniciativas atraíram os olhares de brasileiros de todas as regiões e fartaram o público com sua arte de alto calibre.

E agora? Infelizmente, parece faltar empenho para aglutinar o que acontece na área cultural. E também para incrementar essa agenda com espetáculos patrocinados por outras entidades e fundações particulares e pelo Governo Estadual. Afinal, Santos não é cidade turística? Não estamos em mês de férias? Não recebemos mais visitantes? Com frio na praia, restam shoppings, cinemas e festas julinas estilizadas.

Bem pouco! Santos merecia programação elaborada em forma de festival, com atrações diversificadas, reunindo as mais variadas expressões artísticas. Da música erudita e popular às artes visuais, do teatro à dança, enfim, tudo o que fosse de boa qualidade e atraísse o público.

Infelizmente, no quesito atração do público, um grande obstáculo é a falta de divulgação. Coisas muito boas, de qualidade, são muitas vezes oferecidas a salas vazias. Falta interesse? Sem dúvida, mas há uma boa parcela de santistas e turistas que não são informados sobre o que Santos tem a lhes oferecer.

Daí, as salas vazias, às vezes acarretando vexames, como um grande artista nacional ou internacional sem ninguém para aplaudi-lo. Falta o quê? Dinheiro para ingresso? Muitos excelentes espetáculos são gratuitos ou têm preços irrisórios. Oportunidade? É só fazer a divulgação correta, que a plateia aparece. Mentalidade superficial da população, diferente do público de algumas décadas atrás? Motivemos as pessoas, prometendo-lhes programas que as façam sonhar e, paralelamente, pensar.

Às entidades públicas e privadas que tentam cumprir seu papel, poderiam se juntar outras, num grande esforço para a realização de evento de férias com repercussão estadual e nacional. Em alguns casos, bastam contatos com pessoas certas para acrescentar ao programa iniciativas isoladas; em outros, esses contatos precisam ser feitos para que mais e melhores atrações cheguem à Cidade.

É preciso unir o que de bom os artistas de Santos produzem com o que vem de fora. É preciso divulgar e prestigiar o que acontece nos teatros Guarany, Municipal e Coliseu. O que há para ser visto, por exemplo, nas ricas programações do Sesc e da Pinacoteca. Filtrar o melhor dos espetáculos populares, para muitos, e dos programas onde o intelecto é exigido, para menos.

Não queremos atrair turistas? Não pretendemos oferecer muito mais aos santistas? Para isso não podemos ser a Cidade que deixou morrer o Festival Música Nova. Para isso, são necessárias verbas oficiais e apoio de quem tem dinheiro para investir em arte. Então, mãos à obra. Comecemos já a trabalhar por esses objetivos. Julho está passando, pouco mais pode ser feito, a não ser divulgar o que já está programado. Mas as férias de verão não demoram. E aí? Praia, shopping e cinema, como sempre. Nada mais?

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tango e tambores

Dois excelentes espetáculos no último fim de semana tiveram casa lotada, o que confirma o já sabido: é só oferecer coisa boa, que o público comparece. E, principalmente, a precinhos altamente convidativos! Estou falando do Sesc, essa entidade à qual o Brasil em geral e Santos em particular devem muito na área de arte e cultura. Promotor, gerenciador e patrocinador de espetáculos de nível, o Sesc - o Sesi também - garante o acesso do público à arte bem feita, inclusive a espetáculos contemporâneos e até experimentais.
Nos últimos dias 8 e 9, uma plateia lotada e entusiasmada aplaudiu, respectivamente, o tango do grupo Lo Mejor Del Tango e o ritmo do grupo Taiko Wadaiko Sho. Lo Mejor Del Tango reúne argentinos e uruguaios e tem como grande estrela a cantora Susana Di Karlo, comunicativa e simpática, interagindo com instrumentistas e dançarinos de nível. Já o Taiko Wadaiko conseguiu também uma execlente comunicação com a plateia, utilizando apenas mímica, simpatia e um extraordinário ritmo nos tambores. Ambos os grupos levam de Santos ótimas lembranças, graças ao calor do público.
Por isso afirmo: não vale a pena promover e divulgar Santos para o turismo brasileiro como uma cidade onde bons espetáculos podem ser vistos?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pura barbárie

Comentário rápido, apenas para expressar o horror e a decepção com o ser humano: no povoado de Piargaon, distrito de Sunamjanj, no interior do nordeste de Bangladesh, uma mulher jovem foi intencionalmente queimada, enquanto dormia. Horror dos horrores: com ela dormiam seus dois filhos, de 3 e 5 anos. Sobre os três, foi atirado querosone e, em seguida, o fogo. As crianças morreram na hora e a mulher, Sabiha Begun, agoniza em um hospital em cidade próxima a Piargaon.
Quem socorreu as vítimas? Os vizinhos, atraídos pelos gritos de dor e que ,incrédulos, ainda tentaram salvar os três.O marido? Trabalhando em outro país, no Kuwait.  Os autores do crime? A família do marido de Sabiha - pai, irmão e irmã.O motivo? A família de Sabiha ainda não havia pago o dote de casamento.
Esse costume antigo, do dote a ser pago pela família da noiva, parece que foi abolido em Bangladesh, mas, no interior do país, nos povoados mais atrasados, ainda é levado muito a sério, podendo resultar em tragédias como esta.
Os três assassinos foram presos e o mínimo que a comunidade internacional espera é que paguem à altura pelo crime hediondo. Ou será que, em nome de tradições infames, vão abafar o caso? E, mais uma vez, mulher e crianças se transformarão em vítimas fatais, indefesas e sem qualquer valor? ´
É uma pena, lamentável que o ser humano, em muitos casos, ainda não tenha saído da barbárie. Assim como no Brasil se incendeiam mendigos, em Bangladesh se atira fogo em uma família. Motivos? Os mais torpes possíveis, de puro divertimento dos incendiários, a dinheiro amaldiçoado. Quando poderemos falar, realmente, em evolução humana? 

domingo, 3 de julho de 2011

Mais uma incômoda "Cãominhada"

Felizmente, a chuva deu uma mãozinha e a tal "Cãominhada" ficou reduzida aos fanáticos e aos que gastaram dinheiro nos pet shops da vida para enfeitar seus amigos caninos. Dessa forma, as duas pistas da praia - como sempre, totalmente interditadas ao trânsito - não foram tomadas pela multidão de humanos e animais, permitindo que a festa acabasse mais cedo e que os moradores da avenida da praia, com seus veículos "ilhados" nas garagens, pudessem sair devagarzinho, sem risco de causar acidentes ou de serem linchados pelos orgulhosos donos de cãezinhos.
Não é exagero! Isso vem acontecendo todos os anos por ocasião desse evento, deixando moradores da praia, entre Av. Conselheiro Nébias e Canal 6, com os nervos à flor da pele. Sim, porque além de todo o transtorno de se sentirem isolados - correndo o risco de não poderem ser atendidos em situação de emergência, como doença e incêndio - ainda são obrigados a ouvir as palavras de ordem do animador da "festa" e a música, no mais alto volume, sem contar os latidos dos estressados cachorros, que parecem perdidos no meio de tanta gente e tantos outros indivíduos de sua espécie.
Sim, há, como sempre, o lado positivo, com atendimento veterinário aos animais participantes do evento, recolhimento de ração para animais abandonados e até embelezamento dos cachorros, o chamado "tapa no visual".
Mas, será que compensa? Paralisa-se literalmente uma cidade - as ruas próximas à avenida da praia apresentam congestionamentos monstros - para que os cachorros sejam exibidos, com suas roupas e acessórios que chegam a ser ridículos. E que devem incomodar sobremaneira os bichinhos! Está certo tudo isso?
Eu sou contra. Acho o local inadequado e acho, também, que, apesar da movimentação de dinheiro gerada pela "Cãominhada", beneficiando pet shops, veterinários, empresas e publicitários, essa quantia poderia ser melhos utilizada. Como disse o zelador do meu prédio, em sua filosofia simples: "Não fariam melhor se, em vez de cães, fizessem tudo isso para crianças que passam necessidades"?   

domingo, 26 de junho de 2011

Pinacoteca marca gol com "Canções de Outono"

O resultado perfeito para uma iniciativa que exigiu empenho e dedicação. Assim pode ser resumida a série de espetáculos intitulada "Canções de Outono", promovida pela Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, com apoio da Associação de Amigos da Pinacoteca e de diversas outras entidades, privadas e oficiais.Sucesso de público, os espetáculos reuniram grupos corais de Santos e outras cidades, arrancando aplausos entusiásticos e agradando em cheio aos apreciadores de boa música.
O diferencial foi o posicionamento dos corais, na enorme varanda do casarão da Pinacoteca, voltados para o público, que não deixou vazia nenhuma do grande número de cadeiras estrategicamente colocadas nos jardins voltados para a avenida da praia. Turistas e santistas, apreciadores da música e curiosos, conhecedores e leigos, todos se uniram nos aplausos aos cantores e músicos. Aplausos que ecoaram até fora do casarão, partidos de pessoas que se acomodaram na calçada para não perder os espetáculos.
O que tudo isso significa? Que basta a iniciativa, a boa vontade. É só oferecer arte, que a plateia comparece, surge dos mais variados pontos, para vibrar, se emocionar e aplaudir. O que nos obriga à reflexão: quanto se perde de cultura pela passividade de quem poderia e deveria promovê-la! Quanta arte deixa de ser vivenciada pela falta de divulgação! Quanto o nosso povo poderia estar mais afeito à manifestação artística e, em consequência, mais rico em cultura, se lhe oferecessem mais e melhor produção nesse campo!
Quanto aos espetáculos, muito pouco a se falar, a não ser que corresponderam às melhores expectativas. Começando com a competência do Duo Hoizontes, formado pelos já reconhecidos pianista Regina Schlochauer e clarinetista Mário Marques, na quinta-feira, dia 23, e continuando, no dia seguinte, com a exuberância do Coral Zanzalá, de Cubatão. Depois, foi a vez do grupo paulistano Canto Ma Non Presto, 
demonstrando o entrosamento de seus musicistas em peças de difícil execucação. O encerramento, no sábado, dia 25, foi com o quarteto vocal santista Splendore, que conquistou a plateia especialmente com suas peças sacras, seguido do madrigal Voz Ativa, de Osasco, com belos "spirituals" e arranjos de músicas de consagrados compositores da MPB.
Enfim, foi "prato cheio" tanto para que curte música erudita quanto popular. O silêncio atencioso do enorme público durante as apresentações, os aplausos ao final de cada canção e os comentários garimpados "aqui e ali" ao término dos espetáculos comprovam o que todos sabem, mas muitos produtores culturais fingem ignorar: é só oferecer a doçura da boa arte, que as pessoas são atraídas como abelhas para o mel.    

sábado, 18 de junho de 2011

Disputa no céu de junho

Outro texto sobre Festas Juninas, escrito para a coluna “Alto Astral”. É tempo de quermesse...



Sem balões, com magia


"Cai, cai, balão, cai, cai, balão, aqui na minha mão. Não cai não, não cai não...” E não pode cair mesmo! Vai longe o tempo em que a música de roda animava as noites frias e era cantada pelas crianças a plenos pulmões. Os balões cintilavam no céu, disputando com as estrelas qual brilhava mais na escuridão noturna. Era tempo de Festas Juninas, e adultos e crianças se aqueciam ao redor das fogueiras, ansiando pelo momento de fazer subir o balão colorido e iluminado, tão caprichosamente confeccionado.

Tempo que já foi... Hoje, os balões foram banidos, não fossem eles tão perigosos, assassinos potenciais, capazes de matar e destruir. É o preço do progresso, que somente os irresponsáveis teimam em ignorar. Agora, em vez de “cai, cai, balão”, é: “Balão no céu, perigo da terra”. Uma pena, mas temos que nos adaptar aos novos tempos.

E, já que não podemos soltar nem correr atrás dos balões, vamos preservar a magia da época da melhor maneira possível. Com música, quadrilha, delícias da cozinha brasileira e, sobretudo, com muito calor humano. Vamos curtir as noites frias saudando os santos da época com alegria. Um sorriso para quem está ao lado, um abraço carinhoso e um beijo em quem está pertinho de nós.

Quermesses são ambientes mágicos, onde nossas raízes culturais se manifestam com muito vigor. Pelo menos, nas quermesses autênticas. Embalados pelo som dos sanfoneiros, tomando quentão, comendo paçoca e cocada, aconchegando-nos à fogueira, vivamos esses momentos especiais. E demos Vivas! A Santo Antônio, São João e São Pedro!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Os santos de junho

Este texto foi publicado na coluna "Tribuna Livre", do jornal "A Tribuna", de Santos, em 13/06/2011. Vejam se não tenho razão...


Preservar as lendas juninas




Onde foram parar Santo Antônio, São João e São Pedro? Sim, eles continuam nos altares, a receber pedidos e súplicas de seus devotos. Mas, o que aconteceu com as suas festas? Neste mês de junho, as noites frias costumavam ser aquecidas pelas fogueiras, enquanto fogos coloridos riscavam o céu escuro e sem nuvens. Hoje, os balões, real perigo ambulante, foram banidos; em lugar da beleza dos fogos de artifício, estrondos assustadores. As fogueiras são feitas de tiras de papel laminado e a simplicidade do “correio elegante” é substituída pelo “ficar”, de preferência com vários pares diferentes, na mesma noite. Cuidados especiais são tomados para impedir, em algumas quermesses, drogas, desrespeito, confusão, preconceito, brigas e agressões.

Felizmente, a maioria das festas juninas mantém a ordem e a alegria. Frequentadas por famílias, são realizadas em residências, escolas, associações, igrejas, clubes e outras entidades. Algumas têm caráter beneficente, mas, à exceção das festas nordestinas, perdeu-se muito do encanto e da autenticidade das quermesses. As raízes folclórico-culturais foram esquecidas, privilegiando-se, em contrapartida, comidas e bebidas – nem sempre da época – e música eletrônica em altíssimo volume.

Em que ponto deixamos para trás as sanfonas e as modinhas, as quadrilhas de movimentos espontâneos, os trajes autênticos – com os “noivos” e o “padre” –, os arraiais ao ar livre, as histórias contadas na roça, a origem das homenagens aos santos juninos? Certamente, em alguma curva de antiga estrada de terra. Mas, apesar do asfalto, da velocidade e do progresso, não seria possível retornar àquela curva? Não poderíamos resgatar o antigo encanto?

Se não sob o céu escuro, embaixo de tetos acolhedores. Se não com fogos de artifício, com pequenas “estrelas” a brilhar nas mãos das crianças. Mas, a essência da festa poderia ser preservada. O levantamento do mastro, por exemplo, de origem européia – como muitos dos costumes adotados nas festas juninas –, significa a garantia de fartura nas colheitas e de saúde para os animais domésticos. No Brasil, costuma-se adorná-lo com as bandeirinhas dos três santos juninos.

Quanto ao “casamenteiro” Santo Antônio, seria bom saber que essa crença teve origem em decisão do frei nascido de nobre família portuguesa: casar jovens que se amavam, mesmo pertencendo a classes sociais diferentes, o que, na época, era proibido. As quadrinhas que exaltam o milagroso santo são muitas: “Santo Antônio me case já/ enquanto sou moça e viva./ Porque o milho colhido tarde/ não dá palha nem espiga”.

Já na noite de São João, a tradição aponta para as adivinhações: as moças aproveitam que o santo está sempre dormindo em sua festa e tiram a sorte para saber com quem vão se casar. Lendas seriam preservadas: o santo teria nascido em uma noite muito bonita e sua mãe Isabel, para avisar Maria, mãe de Jesus, teria mandado erguer um mastro em sua casa e acender uma fogueira para iluminá-lo.

O protetor dos viúvos é São Pedro e, a ele, muitos recorrem com fé, especialmente na noite de sua festa. Também protetor dos pescadores, são incontáveis as embarcações coloridas e enfeitadas que percorrem mares e rios em louvor ao santo. Tudo isso seria contado, lembrado e revivido nas festas juninas. Pequenos exemplos do rico folclore que as cidades grandes ajudariam a preservar. Histórias, tradições e lendas que fazem parte da alma do nosso povo e que, lamentavelmente, correm o risco de não chegar às novas gerações.

domingo, 12 de junho de 2011

Amor sincero




Um texto especialmente escrito para a coluna "Alto Astral", de Durval Capp Filho.




Aconchego do Dia dos Apaixonados



Dia dos Namorados, dos Noivos, dos Casados, dos Companheiros, ou Dia dos Apaixonados? Não parece ser este último o nome mais apropriado para a data? Basta pensarmos em paixão não só como sinônimo de atração física, mas defini-la, também, como cumplicidade, admiração, respeito, confiança, apoio, carinho, companhia, ou seja, amor pleno e completo.




Nesse amor deveriam viver, em um mundo ideal, os verdadeiramente apaixonados. Mas, como é difícil! Na realidade do dia a dia, são muitos – e quase sempre grandes – os obstáculos a serem superados por duas pessoas que se amam. São dificuldades de toda a ordem, das materiais às psicológicas, das reais às imaginadas. Permitimos que os mais diversos motivos interfiram em nossas relações.




Por sermos imperfeitos, não conseguimos ver a perfeição do amor. Mas, ela existe e sobrevive nas mãos dadas de um casal unido há muitos anos ou no beijo apaixonado de dois jovens que mutuamente se escolheram para, juntos, enfrentarem a vida. É o amor verdadeiro que desculpa, alegra, faz chorar e faz sorrir.




É a paixão, em sua definição completa, que move o ser humano. Por isso é tão bom comemorar o Dia dos Namorados (Apaixonados)! É tempo de nos sentirmos amados e de retribuirmos com o mesmo amor. Não importa o muito ou pouco tempo juntos. Não é tão importante uma rosa, um chocolate ou uma joia. Importa, mesmo, a presença da pessoa amada. Bom, é o aconchego dos beijos e abraços!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Para rir

Para descontrair no meio da enxurrada de notícias ruins que recebemos todos os dias: foi contada por Ana Maria Braga, na abertura de um de seus recentes programas. E é muito boa! Vamos à historia:
O índio vai ao cartório e anuncia solenemente:
-- Índio quer mudar de nome.
O funcionário do cartório tenta argumentar:
-- Por que? Os nomes indígenas têm raízes culturais, que devem ser preservadas...
O índio, irredutível:
-- Índio quer mudar de nome.
Mais uma tentativa do funcionário:
-- Pense bem, preserve a tradição de sua tribo...
O índio, sem se deixar convencer:
-- Índio quer mudar de nome.
O funcionário, já sem paciência:
-- E qual é o seu nome atual?
-- Grande Nuvem Azul Que Leva Mensagens Para O Outro Lado Do Mundo Através dos Oceanos.
O funcionário, vencido:
-- Tem razão. E como o senhor quer se chamar daqui para a frente?
-- E-Mail.

domingo, 15 de maio de 2011

Dia das Mães


Novo texto escrito para a coluna “Alto Astral”, de Durval Capp Filho. Para marcar a data.





Presente, só se for com um abraço 

 


A imagem de um pássaro fêmea carregando em seu bico alimento para ser depositado nos biquinhos bem abertos de esfomeados filhotes resume bem esse misterioso elo mãe-filho, observado até entre os animais. São cuidados, carinho, dedicação, luta, preocupação, em resumo, é o amor que a mãe invariavelmente dedica à sua prole.

No ser humano, é esse amor sublime que, muitas vezes, faz com que valha a pena a vida ser vivida. Quanta dor é suavizada nos colos das mães! E quanta alegria é compartilhada com elas nesses mesmos colos orgulhosos! É tão especial a relação mãe-filho, que tem características eternas: quem não derramou uma lágrima ao se lembrar da mãe ausente? Quem não dedicou uma flor – ainda que em pensamento – à mãe que já não pode ser abraçada porque foi juntar-se aos anjos celestes?

Em datas como a deste domingo, é impossível permanecer indiferente. Que há mães e mães, é incontestável. Que algumas não merecem esse título, é verdade. Mas são muito poucas, se comparadas à arrasadora maioria das mães amorosas, capazes até de dar a vida pelos filhos.

Por isso, esqueçamos que o Dia das Mães é, também, uma data comercial. Vamos lembrá-las e homenageá-las com amor e gratidão. As que receberem um presente vão ficar felizes, sem dúvida! Mas, somente, se for acompanhado de um sincero e caloroso abraço. As que não receberem, ficarão felizes da mesma forma apenas com o abraço. Se possível, acompanhado de muitos e muitos beijos!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Doce chocolate




Aqui vai texto escrito a pedido do colunista Durval Capp Filho, publicado em sua coluna "Alto Astral



Repensar a vida, sem esquecer o ovo de Páscoa 





Recolher-se, meditar sobre erros e acertos, pedir orientação ao Ser Maior. Depois, relaxar e alegrar-se pelo que se tem – que muitos não têm – e também pelo que não se tem, mas que ainda se sonha ter – e só poder sonhar já é uma alegria. Em resumo, é este o ciclo destes dias da Semana Santa para muitas pessoas.

Aproveitar a lembrança da Paixão de Jesus para repensar a vida, verificando se a mensagem que Ele deixou permanece viva em nós e no mundo, é atitude saudável. Porque só assim poderemos nos lembrar de tantos e tão profundos atos de amor e compaixão gerados pelos nossos e por outros corações, em todo o mundo.

Só assim poderemos neutralizar os covardes atos de ódio, a ceifar vidas sem qualquer motivo, a buscar vingança na violência. Só assim chegaremos ao Domingo Radiante em que teremos esperança. Melhor, teremos certeza da evolução da humanidade em busca da nobreza de sentimentos.

E será assim, também, que saberemos o quanto valeu a pena a mensagem deixada por Aquele que sempre trocou o ódio pelo amor. É tempo de comemorarmos e nos alegrarmos. De nos transformarmos em “coelhinhos” a distribuir ovos de chocolate a nossas crianças. Está na hora de nos deliciarmos – por que não? – com o doce chocolate da Páscoa!


terça-feira, 29 de março de 2011

Um homem chamado Coragem

Morreu José de Alencar! Não quero aqui questionar seus méritos ou deméritos como ser humano, empresário ou político. Foram muitos os elogios ao longo de sua carreira pública e privada, mas também sofreu muitas críticas. Para mim, assim como - acredito - para muitos brasileiros, fica a lembrança de um homem de coragem. Mesmo com as facilidades resultantes de sua condição de político e empresário bem situado, enfrentar a grave doença durante tantos anos, combatê-la com vigor, submeter-se a todas as cirurgias e tratamentos dolorosos, sempre com otimismo, não é para qualquer um. Imagino as lágrimas derramadas na intimidade do quarto, para logo em seguida darem lugar a um sorriso que seria registrado pela mídia. Calculo o medo do sofrimento e do fim, normal em qualquer ser humano, imediatamente substituído por palavras de coragem e de fé, ditas aos repórteres, amigos e familiares. Definitivamente, ele foi exemplo para todos os que sofrem de males incuráveis. E uma chamada à consciência de todos nós, que nos aborrecemos ou desesperamos por tudo e por nada. Seu nome foi mesmo Coragem!

terça-feira, 22 de março de 2011

O bonde da evolução

Os acontecimentos no Japão e na Líbia são tão aterradoramente tristes, que fica difícil externar opiniões. Em todo o caso, aqui vai: nosso mundo não aprende nem as mais dolorosas lições. Após a natureza ter jogado o Japão e milhares de seus cidadãos na mais terrível tragédia, com mortes cujo número exato - creio - jamais será conhecido; após o terremoto e o tsunami que deixaram, além do elevadíssimo número de mortos, incontáveis pessoas em situação de penúria, com falta de água, alimentação, agasalho e teto; depois dos danos às usinas, com seríssima ameaça nuclear, qual seria a reação esperada do restante do mundo?
 Envio de toda a ajuda possível, material, tecnológica, psicológica e muito mais. Nada de se pensar em guerras, revoluções, ataques pró ou contra governos ou ditaduras. Enfim, seria tempo de o mundo se unir em prol do Japão, se não por outro motivo, pelo simples fato de sermos todos pertencentes à raça humana. Mas, não! Não foi o que aconteceu.
 O Japão sofre, o mundo tem medo da ameaça nuclear, mas não se intimida em provocar novas guerras, batalhas, conflitos, mais mortes, mais sofrimento! Não julgo méritos de guerras, não discuto quem está com ou sem razão, não nego que a miséria pode, sim, levar à revolta justificada. Mas, não seria possível ao ser humano se esquecer um pouco de seu próprio umbigo, tentar solucionar seus problemas com paz e dignidade, pedir auxílio a outros que pensam e agem pacificamente?
 Sim, é utópico querer que nossa raça tome esse tipo de atitude. É mais fácil encontrar na Internet imagens de bichos tradicionalmente inimigos se apoiando, se ajudando, se acariciando. Nós, homens, com nossa brilhante inteligência, somos muito orgulhosos para isso. Criamos mil desculpas para a violência. E não percebemos que, ao agir assim, por fazermos parte de um todo, de um corpo único, que é a humanidade, estamos nos prejudicando, atrasando, perdendo o bonde da evolução e sendo menores do que o cachorro e o gato que brincam juntos e mutuamente se protegem.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mulher

Para marcar o Dia Internacional da Mulher, um artigo não muito otimista, mas bastante realista. É, sinceramente, o que penso a respeito.

Em vez de flores, dignidade

De bom grado eu trocaria todas as homenagens que se fazem às mulheres, no dia internacionalmente a elas dedicado, por um pouco de paz às que fogem da guerra; por respeito às que são tratadas como lixo; por um mínimo de segurança às que são obrigadas a andar pelas ruas ou permanecer em suas casas sempre assombradas pela possibilidade de serem atacadas.
Ah! Eu trocaria as belas flores enviadas com carinho às mulheres, por comida para as que não têm como se alimentar, nem a seus filhos; as belas palavras dos discursos dos governantes, por assistência médica às que estão morrendo sem possibilidades materiais de buscar ajuda; a publicidade da data, por amparo real às que querem se ver livres das drogas e dos traficantes.
Eu trocaria, sim, presentes e jóias, por um olhar com mais dignidade às mulheres; paetês, por uma sociedade que desse menos valor a seios e glúteos e mais valia a caráter e personalidade; falsa compaixão, por um sistema de recuperação real das condenadas; esmolas, por condições de sobrevivência digna às mulheres chefes de família.
Se eu pudesse, trocaria discursos em louvor ao feminino, por trabalho duro para tirar das ruas e das estradas tantas meninas, jovens e idosas que também trocam seus corpos por um prato de comida ou por “uma pedra falsa, um sonho de valsa ou um corte de cetim”.
Até um jantar à luz de velas seria trocado com satisfação por reconhecimento à capacidade e ao trabalho estafante de executivas com filhos, maridos e casas para cuidar; e o que dizer de e-mails e cartões de felicitações, se pudessem ser trocados por salários mais justos para médicas, dentistas, enfermeiras, advogadas, arquitetas, balconistas e tantas outras profissionais?
Não poderíamos trocar simples cumprimentos às nossas empregadas domésticas por um gostoso abraço e um muito obrigado do fundo dos nossos corações? Sem dúvida, eu trocaria honrarias, por uma plena aplicação, em nosso País, da Lei Maria da Penha, e, no exterior, pela execração de leis pseudo-religiosas ou pseudopolíticas, capazes de levar uma mulher às piores circunstâncias de cárcere e morte.
Só não abriria mão de trocar as homenagens a todas as mulheres que, na história da humanidade, deixaram sua marca na luta por condições melhores para suas irmãs, pelo fim do preconceito, pela diminuição da miséria moral e material, pela tentativa de transformar homens e mulheres em seres melhores. Essas guerreiras, santas, mártires, heroínas, merecem ser homenageadas não em um único dia, mas sempre.
Assim como merecem, sim, carinhos, flores, abraços e mimos todas as mulheres de coração largo, que não se deixam contaminar pelo lado escuro da alma humana. E, se homens simples ou cultos, mas também sábios, souberem contribuir para diminuir o sofrimento de tantas mulheres, então, todos juntos, comemoraremos o Dia Internacional do Ser Humano. Sem precisar trocar por qualquer outra coisa, flores e carinhos que, convenhamos, nós, mulheres, adoramos!

sábado, 5 de março de 2011

Conto de Carnaval


Um conto bem a propósito da data. Inspirei-me em histórias de pessoas que têm medo de palhaços. Medo estranho, sem dúvida, mas cada um tem direito de ter o medo que quiser. Ou de que não pode se livrar. Divirtam-se!



Bendita coulrofobia!


A chuva lhe escorria pelo rosto, não mais forte do que as grossas lágrimas que teimavam em misturar-se às gotas d´água. Não conseguia evitar a íntima ironia: água doce do céu carrancudo somada à água salgada de um coração ainda mais sombrio. Na verdade, ainda não atinava com o motivo de estar ali, sentada naquela arquibancada, onde todos pareciam explodir de felicidade.


A chuva pesada não impedia que aqueles milhares de rostos se iluminassem e sorrissem a cada colorida fantasia, a cada bela mulher seminua, a cada samba bem marcado. Passistas, baterias, carros alegóricos capazes de fazer inveja, por sua beleza e riqueza, ao Rei de Sião. Seria lindo – e sempre fora, ao longo dos anos – se, naquela noite, ela não se sentisse tão insignificante quanto serpentinas molhadas e pisoteadas pela multidão.


Colados a seu corpo e suas roupas, confetes que já haviam tido cores brilhantes formavam agora uma espécie de massa disforme e sem cor. Olhou para os lados, viu as amigas de toda a vida pulando, cantando, batucando, azarando. Vez ou outra tentavam fazê-la reagir, o que a deixava ainda mais magoada. Ou raivosa, já nem sabia distinguir seus sentimentos.


O samba era cada vez mais ritmado, e ela fazia um balanço de sua vida. Desempregada, sem apoio de pai e mãe, sem irmãos, de mudança para um quartinho de favor e abandonada por seu grande amor. Para coroar o desfile de desgraças, fortemente gripada, com febra, a caminho de uma pneumonia.


O que fazia, então, na arquibancada do desfile? Por que não ouvira a razão e ficara em casa, remoendo a tristeza? As amigas, sim, a haviam influenciado, quase intimado a ir. Ou seria uma espécie de tradição, daquelas impossíveis de quebrar? Como tinham sido bons todos aqueles anos! Ao lado da grande paixão, trocando carícias e beijos e sendo zoados pelo grupo. Podiam se considerar, com os namorados, maridos e filhos das amigas, uma grande família.


E como era bom assistir aos desfiles, cantar bem alto, dançar, gritar, torcer pelos prediletos! Aquilo era alegria em sua melhor expressão. A essência da felicidade. Ela não contava com o reverso. Que veio avassalador, uma espécie de bola de neve arrasando tudo em seu caminho. A separação e mudança dos pais, a dispensa do emprego estável da firma em dificuldades financeiras.


Sem dinheiro, sem parentes na cidade grande, só lhe restaram o grande amor e as amigas. Foram estas que a socorreram quando teve que deixar o apartamento por não poder pagar o aluguel. Arrumaram o pequeno quarto na casa de uma avó, onde ela deu graças aos céus por não ter que ir para a rua. E tinha a grande paixão, a força que, apesar de tudo, a sustentava.


Com carícias e promessas de ficarem juntos, superando todas as dificuldades, ela conseguia dormir feliz, enquanto, durante o dia, aceitava pequenos trabalhos e buscava com garra um novo emprego. Carnaval se aproximando, ela economizando para assistir ao desfile junto com os amigos e o grande amor. Até que, bem antes da Quarta-Feira, a grande paixão virou Cinzas.


Falta de sintonia, relação desgastada e uma série de desculpas das quais ela nem queria se lembrar. E ele partiu, sem um carinho, um beijo de despedida, sem nem olhar para trás. Para ela, mundo desabado. Reagir à tristeza, não podia. E nem queria. Soube depois, por proposital indiscrição dos amigos, que ele não curtia mulher sem emprego e sem dinheiro.


Por que, então, estava ali? O pensamento recorrente na cabeça que estalava de dor, não a deixava raciocinar. Teve que fazer esforço para entender o que uma das amigas lhe dizia ao ouvido: alguém estava muito intrigado com a tristeza dela, gostaria de lhe falar, se aproximar, ver alegria naqueles olhos molhados. Ela gostaria?


Em meio a um acesso de tosse e já quase sem forças para decidir qualquer coisa, concordou com um aceno de cabeça. A amiga sorriu e apontou para o outro lado. Ali, bem pertinho de seu rosto, com os olhos brilhando de excitação, estava... um enorme palhaço.


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Ela acordou no hospital, o barulho das baterias substituído por um silêncio quase absoluto. Enxuta, quentinha embaixo das cobertas, sem pensar, sem sofrer. Paz tomando conta de seu corpo e mente. A seu lado, um homem ainda jovem, com ar de preocupação:


– Que bom você acordou! Como se sente?


– Muito bem! O que houve? Você é médico?


– Não, apenas alguém que se preocupa com você. Me desculpe, eu jamais poderia imaginar que você sofresse de coulrofobia.


– ?????????


– É, medo de palhaço.


– Medo de palhaço, eu sempre tive, nunca fui a circos, nunca pude tocar em bonecos vestidos de palhaços. Chama-se coulrofobia? Mas o que tem isso a ver com este lugar, parece um hospital...


Só então a cena voltou à sua mente, o palhaço sorrindo, se aproximando dela na arquibancada, os olhos faiscando, a alegria no ar...


Deu um grito, quase desmaiou novamente. Recuperou-se, raciocinou e, só então, conseguiu perguntar bem baixinho:


– Você era o palhaço?


Diante da afirmativa dele, com a cabeça, ela conseguiu sorrir. E diante da pressa dele, de dizer que nunca mais se fantasiaria de palhaço, o sorriso ficou mais largo. Carnaval tem tudo a ver com palhaço. Mas, se ele não fazia questão da fantasia, quem sabe os próximos Carnavais não poderiam ser muito melhores? Com a tal de coulrofobia, mas também com muito confete, serpentina e samba no pé.






quinta-feira, 3 de março de 2011

Dias alegres

Em ritmo de Carnaval, aí vai texto que escrevi para a coluna “Alto Astral”, de Durval Capp Filho, no "Jornal da Baixada". Rasguem a fantasia ou descansem para recuperar energias.

 
 
Sem confetes, com alegria


 


“Mas é Carnaval...” A frase da antiga marchinha ecoa ano após ano, revivendo um tempo de fantasias, confetes, serpentinas e grupos musicais.
Um Carnaval baseado em desfiles de blocos, corsos e bailes nos clubes sociais. Carnaval diferente do atual, deixando saudosistas os que viveram aqueles tempos.
Mas tudo evolui, a sociedade muda, os costumes também. É bom lembrar o passado, mas é melhor viver o agora. Então, vamos ao preparo físico para seguir as bandas nas ruas; cuidemos do “arsenal” de “comes e bebes” para acompanhar, comodamente instalados no sofá, os desfiles das escolas de samba no Rio e o Carnaval da Bahia.
Ou, se pudermos, façamos as malas para ver tudo isso ao vivo e cair na folia. Para os que preferem – e podem –, os dias serão de tranquilidade na praia ou nas montanhas. O que importa é que é tempo de alegria. Quem está triste, pode melhorar o astral; os já alegres expandem sua felicidade.
Se soubermos viver bem nosso Carnaval, sem excessos, com consciência de que, após os descontraídos momentos, a vida continua, seremos verdadeiros foliões. Ainda que passando bem longe das fantasias, do samba, do axé, dos confetes e das serpentinas.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Manter o debate

Olá. Aí vai artigo publicado no jornal “A Tribuna”, aqui de Santos, na seção “Tribuna Livre”, edição de domingo, dia 20/02. Aproveitei alguma coisa do blog e resumi meu pensamento a respeito do tema. Espero que gostem. E comentem, contra ou a favor. O importante é não deixar o assunto morrer.

Tirar a fantasia

antes que chova

“Não esperaremos as próximas chuvas para chorar as próximas vítimas”. Com essa frase de efeito, dita na primeira sessão legislativa do ano, do Congresso Nacional, a presidente Dilma Roussef não só resumiu sua disposição de ajudar a solucionar um dos mais graves problemas brasileiros, como descreveu o que a população espera da ação do Governo: não ficar apenas na frase de efeito. Se a disposição da presidente vai se concretizar ou não, só daqui a algum tempo saberemos.

Dilma alertou que nenhum país é imune às tragédias naturais, cabendo aos governos e populações se precaverem e agirem para evitar consequências irremediáveis. Enfim, se posicionou como deveria. Aguardemos, agora, as ações concretas. Mas, não nos esqueçamos de que vivemos em um País chamado Brasil, onde a corrupção continua a seduzir pessoas de todas as camadas sociais, culturais e econômicas!

O excesso de chuva na região serrana do Rio de Janeiro, logo após as festas de fim de ano, provocou a catástrofe das enchentes, desabamentos, soterramentos, perda de vidas humanas e de bens materiais. E não foi só o Rio a sofrer; São Paulo e outros Estados passaram por situações semelhantes. De crianças a adultos e idosos, a natureza não poupou quem se atreveu a cruzar seu caminho. Quem pôde, ajudou de várias maneiras, com mantimentos, dinheiro, trabalho voluntário e até apoio psicológico. Os governantes também se apressaram a anunciar liberação de verbas e outras iniciativas.

Mas será que tudo isso não podia ser, se não totalmente evitado, pelo menos muito reduzido? Se todos sabemos que verão, no Brasil, é tempo muita chuva, não poderíamos manter um plano de prevenção e emergência?
Se estivéssemos atentos às previsões meteorológicas; se contássemos com estações e meteorologistas bem equipados; se não jogássemos lixo fora do lugar a ele destinado; se não tivéssemos expulsado a natureza de nossas encostas e morros para nelas erguermos casas e casebres; se tivéssemos planos eficientes de defesa civil; se verbas oficiais tivessem sido corretamente utilizadas; se não houvesse tanta demagogia e barganha de votos...
Para piorar, no meio da tragédia, apareceram "espertos" a desviar donativos; políticos mal intencionados; marginais roubando o que restara às vítimas. Lamentavelmente, hoje, ainda choramos mortos e contamos prejuízos. Mas, e depois? Aos poucos, outras notícias, outras tragédias irão tomando conta dos noticiários. Devagarzinho, novas casinhas irão surgindo no solo já seco das encostas desmoronadas; lentamente, bens materiais serão repostos, com suor e sacrifício; animais de estimação perdidos encontrarão novos donos; as crianças voltarão a brincar e sorrir, porque é de sua natureza; os pesadelos não serão mais tão recorrentes; os mortos não serão mais tão lamentados.

E a vida prosseguirá triunfante neste País tropical. Afinal, o Carnaval está chegando. Nem incêndios, nem apagões, nem inundações terão o poder de prejudicá-lo. Já é quase tempo de esquecer tudo e vestir a fantasia para cair no samba. Tomara que dê tempo de tirá-la antes que cheguem o próximo verão, as próximas chuvas e as novas tragédias.

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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Muitos aplausos para Ronaldo

E nosso "gordinho" despediu-se do futebol! O adeus de Ronaldo aos gramados - pelo menos, em partidas oficiais de futebol - foi cercado de emoção, a começar pelo próprio atleta, que não conseguiu esconder as lágrimas. E teve um elemento surpresa: a revelação do hipotireoidismo do jogador, segundo ele próprio, a causa de sua impossibilidade de perder peso.
Realmente, Ronaldo deve ter vivido um drama: vontade e habilidade de jogar, comprometidas por falta de mobilidade resultante do excesso de peso. Uma pena! Ronaldo foi, no futebol recente, um verdadeiro Fenômeno, capaz de encantar multidões com suas jogadas e gols geniais. Recebeu homenagens em todo o mundo e deve receber ainda mais, todas justíssimas.
Pena que, no Brasil, tenha recebido, nos últimos dias de sua carreira profissional, uma "homenagem" tão mal-educada e violenta. As críticas e ameaças de parte da torcida de seu clube foram uma perfeita expressão do baixíssimo nível cultural da população brasileira, assim como do fanatismo levado ao extremo, capaz até de gerar violência.
Uma pena mesmo! A mídia nacional deveria exaltar muito quem elevou o nome do Brasil, por diversas vezes, ao Olimpo das grandes conquistas, É isso o que interessa, e não fatos de sua vida particular ou suas fraquezas. Porque, no final, Ronaldo é um homem de bem e um atleta excepcional. Aplausos, e muitos! Homenagens, várias, e que sejam sinceras e espetaculares, à altura do Fenômeno.!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Prisão para ladrões de donativos

Ainda a tragédia das chuvas: o que leva uma pessoa, perfeitamente ciente do sofrimento de seres humanos vítimas das inundações e soterramentos, a impedir que o auxílio chegue até eles? É tão monstruosa essa atitude, que não dá para classificá-la. Estou falando de "espertos" que desviam donativos, de irresponsáveis que se "livram" do material doado despejando-o no primeiro buraco que encontram; de marginais que fazem pouco do sofrimento de quem está desesperado e roubam o que restou a essas pessoas.
Enquanto todo um País se mobiliza para amparar e auxiliar as vítimas das chuvas, em uma campanha de solidariedade característica da alma boa do brasileiro, essas aberrações se locupletam às custas da desgraça alheia. Roubam donativos, jogam fora alimentos, água e roupas destinados a diminuir muito sofrimento.
Não terão eles filhos, pais, família? Provavelmente têm, mas seus corações estão calcificados pela insensibilidade e pela maldade. Não conseguem se colocar no lugar das vítimas e, com suas imperdoáveis atitudes, prejudicam-nas ainda mais: muitos possíveis doadores se retraem, acreditando que seu auxílio jamais chegará ao destino final, mas, antes, será desviado por esses marginais.
Recomeçam então os apelos de autoridades e entidades particulares e oficiais, todos garantindo que não permitirão desvios nem desleixo por parte de encarregados de transportar donativos. Felizmente, a maioria da população acredita e continua ajudando. Afinal, já que não se preveniu, vamos remediar. Assim caminhamos. Assim continuamos a viver. Esquecendo os marginais que desviam donativos. E que, se vivêssemos em um País realmente sério, iriam passar uma boa temporada atrás das grades, trabalhando para comer e para ressarcir a sociedade que prejudicaram.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Chuva, tragédia e fantasia

Após uns dias de recesso, volto ao blog. Passada a euforia das Festas de Fim-de-Ano, comemoradas com champanhe, fogos e alegria, a tristeza tomou conta do País. O resultado catastrófico do excesso de chuva na região serrana do Rio só podia mesmo causar choro e desespero. E não foi só o Rio a sofrer; São Paulo, Estados do Sul e até alguns do Nordeste, Norte e Centro-Oeste sentiram os efeitos dessa deformação climática, com enchentes, desabamentos, soterramentos, perda de bens materiais e - o pior - perda de vidas humanas.
De crianças a adultos e idosos, a enchente enraivecida não poupou quem se atreveu a cruzar seu caminho. E a tragédia deixou o Brasil, mais uma vez, em choque. Quem pôde, ajudou de várias maneiras, com comida, produtos, dinheiro, com trabalho voluntário e até com apoio psicológico. Os governantes também se apressaram a liberar verbas e a tomar iniciativas para minorar o sofrimento das vítimas.
Até aí, tudo bem, uma reação lógica, uma atitude humanitária. Mas, será que tudo isso não podia ser, se não totalmente evitado, pelo menos muito reduzido? Se todos nós, população e governantes, sabemos que verão, no Brasil, é tempo de calor e muita, mas muita chuva, não podiamos manter um plano de prevenção e emergência para funcionar nestas ocasiões? Está certo que o volume de chuva, este ano, ultrapassou todos os limites e todas as previsões.
Mas, se estivéssemos atentos às previsões meteorológicas; se contássemos com estações e meteorologistas bem equipados; se não tivéssemos expulsado a natureza de nossas encostas e morros para nelas erguermos casas e casebres; se tivéssemos planos eficientes de defesa civil; se verbas oficiais tivessem sido corretamente utilizadas; se não houvesse tanta demagogia e barganha de votos por parte de políticos; se...
Sempre existem vários "se". Por causa deles, lamentamos o que não deviamos lamentar; choramos nossas crianças mortas, que deveriam estar vivas e saudáveis; contamos prejuízos que não podem ser suportados em um País como o nosso. A mídia denuncia; a população, os empresários e os governos ajudam como podem; todos os dias aumentam os números de mortos e são atualizados os dos desaparecidos, temendo-se que logo cheguem aos quatro dígitos; famílias choram e ainda esperam o resgate dos corpos de seus mortos; a comoção é geral.
Mas, e depois? Aos poucos, outras notícias, outras tragédias, outros lances da vida vão tomar conta dos noticiários. Devagarzinho, novas casinhas irão surgindo no solo já seco das encostas desmoronadas; lentamente, bens materiais serão repostos, com suor e sacrifício; as equipes de socorro retornarão a seus lares; animais de estimação perdidos encontrarão novos donos; as crianças voltarão a brincar e sorrir, porque é de sua natureza; os pesadelos não serão mais tão recorrentes; os mortos serão esquecidos.
E a vida prosseguirá triunfante neste País tropical. Afinal, o Carnaval está chegando. Já é quase tempo de esquecer tudo e vestir a fantasia para cair no samba. Tomara que dê tempo de tirá-la antes que cheguem o próximo verão, as próximas chuvas e as novas tragédias...