quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Natal

Olá amigos

Esta crônica de minha autoria foi publicada na edição de 23/12/09, no jornal “A Tribuna” de Santos.

Sem medo de ficar grande

Olhos brilhantes, o garoto se aproxima mais do presépio armado com capricho no altar lateral da igreja. Procura, ansioso, a figura do Menino deitado na palha, protegido pelo amor de Maria e José, pelos olhos atentos do Anjo, pelo brilho da estrela.

“Ele está feliz”, comenta com o pai, dedinho apontado para a figura da Criança dormindo placidamente na manjedoura. “É por isso que eu não vou ficar grande nunca”! O pai reage: “Não diga isso. Você vai crescer, ser um homem... Jesus também cresceu”.

A resposta vem rápida: “E foi morto daquele jeito! Se fizeram isso com Ele, imagine o que podem fazer comigo se eu ficar grande”!

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Mais uma vez, é Natal. E este Conto Rápido ilustra o estado de espírito das pessoas, assustadas e com medo. Temos motivos para comemorar? Vejamos: a violência no Brasil e no mundo cresce e se sofistica, a ponto de, muitas vezes, duvidarmos de que seus agentes sejam humanos; a corrupção continua escancarando aos quatro ventos pessoas e hábitos que roubam o que de mais precioso um povo pode ter: seu caráter; crianças e idosos são as maiores vítimas da miséria e da fome.

Mais: para acabar com a guerra, promove-se mais guerra; fanáticos do Islã perseguem, humilham, barbarizam, torturam e matam mulheres, pelo simples fato de elas serem mulheres; ecologistas apontam dedos acusadores para os saquinhos de plástico dos supermercados, em vez de ensinarem reciclagem e temendo mais os saquinhos do que os gazes industrias atirados na nossa pobre atmosfera.

Mais ainda? É só sintonizarmos na TV as cenas de selvageria protagonizadas, nos estádios e nas ruas, por torcidas de todos os times de futebol, inclusive os fãs dos clubes campeões; as chuvas e as enchentes, que deveriam ser previstas pelos governantes, a fim de que delas se precavessem, matam, arrasam, deixam pessoas sem teto, além de manterem toda uma frota de carros, ônibus e caminhões, com seus motoristas e ocupantes, reféns dos absurdos alagamentos.

Ah, sim, e há os temidos stress e depressão, fazendo a cada dia um número maior de vítimas e resultando em assassinatos de crianças pelos próprios pais, suicídios e todo um amplo leque de dramas individuais. Enfim, horrores impossíveis de serem todos relacionados.

O que aconteceu conosco? Não levamos suficientemente a sério a mensagem de amor e paz deixada pelo Menino cujo nascimento comemoramos nestes dias. Seu tempo também era de violência e desamor, mas Ele apontou novos caminhos, trilhados por muitos. Sua importância é reconhecida no mundo todo porque, por causa Dele, evoluímos. Mas ainda falta muito. Ainda fazemos sofrer o semelhante, nosso coração não se abrandou.

Temos motivos para comemorar o Natal? Teimosos que somos, temos, sim. Porque ainda sonhamos. Com justiça, fartura, paz e amor. Sonhamos com a mensagem de Natal motivando pessoas de todas as raças, de todas as crenças, atéias, até. Sonhamos com as religiões e filosofias de vida se respeitando e compreendendo que estão todas em busca de Deus. Sonhamos com o talvez utópico mundo melhor.

Mas precisamos começar a concretizar nossos sonhos. Com solidariedade e respeito, inspirando-nos nos grandes gestos que, felizmente, ainda garantem a dignidade do ser humano. Com os pequenos gestos ao nosso alcance, estaremos contribuindo para que o Menino sorria na manjedoura. E para que, junto com a criança que o observa, não tenhamos mais medo de crescer.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Slowdown

Natal chegando, ano acabando. Passou rápido, não? Este é um sentimento que parece comum à grande maioria da população: não vimos o ano passar. Na verdade, de há muito tenho uma convicção a respeito dessa velocidade do tempo: velozes somos nós. Somos nós que assumimos mil e um compromissos, mais uns dois ou três que um amigo ou parente pediu, sempre achando que correndo um pouco dará tempo.

Mas não dá. Quanto mais corremos, menos tempo temos. Quanto mais compromissos assumidos, perante outros ou nós mesmos, menos tempo. Quanto menos espaço para o lazer, para o teatro, o cinema, o livro, o bom filme na TV, o papo entre amigos, menos tempo. Na verdade, nós é que estamos na tal "vertigem da velocidade". E, aí, o dia, a semana, o mês, o ano é que nos parecem passar correndo.

Recebi há pouco um e-mail que roda na Internet há algum tempo, exaltando o modo "slowdown" de vida dos suecos. Tudo é feito após várias reuniões e discussões produtivas, com calma e com um alto senso de civilidade. Sem falar no excelente grau de cultura daquele pequeno país. Até para comer, eles adotam o "slow food", alimentando-se calmamente, saboreando o alimento e curtindo a companhia dos que estão próximos. Tudo, naturalmente, em oposição ao "fast food" americano e de inúmeros outros países. O mais interessante é que, sempre de acordo com o e-mail, a produtividade sueca é alta, maior do que nos países que adotam o modo frenético de vida.

Todos esses dados aumentaram minha convicção de que nós é que estamos fazendo o tempo passar rápido. Não estará na hora de pararmos só um pouquinho para pensar sobre o que estamos fazendo a nós mesmos? Será que precisamos mesmo de toda essa correria do dia-a-dia? A não ser se absolutamente necessário, deveríamos diminuir o ritmo, curtir o momento, pensar mais no hoje e no agora. Só assim poderemos ter uma qualidade de vida melhor, envelhecer menos rápido e parar de dizer que "o tempo está passando rápido demais"...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Battisti

Olá amigos. Aí vai a crônica de minha autoria, publicada no início deste ano, no jornal “A Tribuna”, de Santos.

O que é isso, senador?

O rumoroso caso Cesare Battisti continua a produzir “pérolas” de declarações e atitudes nada convencionais de envolvidos diretamente no assunto, autoridades e pessoas comuns, no Brasil, Itália e outros países. A ponto de o próprio Battisti declarar-se surpreendido com a repercussão que vem obtendo e o rebuliço que vem causando.

Não se pretende aqui discutir quem está certo ou errado, se o italiano matou alguém ou “apenas” participou de ações armadas em seu país durante os chamados anos de chumbo. A partir da divulgação da primeira notícia de concessão, pelo Brasil, de refúgio político – e, em consequência, de liberdade –, a um condenado à prisão perpétua na Itália, a bola de neve só fez aumentar.

Protestos veementes e ameaças por parte da Itália; possível – e desmentido – envolvimento da França no “imbroglio”; posições político-partidárias cada vez mais exacerbadas; situação individual transformada em caso de soberania nacional; entrada do Tribunal de Haia na encrenca; declarações do próprio Battisti passando imagem de bom moço e pai de família, apenas interessado em viver a vida na cidade que ele diz considerar realmente maravilhosa, o Rio de Janeiro.

Para completar, ele afirma nunca ter matado ninguém e que o julgamento à revelia em seu país foi político; diz que antigo companheiro o acusou pressionado pelo governo italiano; descreve as condições da prisão na Itália como “privação da luz do sol” e, portanto, como condenação à morte. E completa afirmando que vai trazer as duas filhas e a mãe delas para morar com ele, no Rio.

Do outro lado, políticos de diversos matizes se aproveitam da confusão em andamento para criticar com veemência o presidente e o ministro da Justiça. Declarações de possíveis vítimas de Battisti na Itália são fartamente divulgadas. E a bola de neve só faz aumentar...

A “cereja do bolo” foi a entrada para valer do senador Eduardo Suplicy na defesa do italiano e do governo brasileiro. Acostumado a visitar na cadeia pessoas acusadas ou condenadas por crimes graves, o senador, em nome de seu espírito humanitário – que, diga-se a bem da verdade, é realmente uma de suas características – tem ido ver Battisti na prisão.

Além de defendê-lo com veemência, já se propôs a pegar um avião e ir fazer o mesmo junto ao governo italiano (e eu aqui, fazendo planos e contas para visitar Roma, Veneza, Turim!...). Enquanto isso, crianças brasileiras são assassinadas sob os mais variados pretextos, de “queima de arquivo” a vingança contra pais ou mães.

A criminalidade é tão banalizada que a notícia de um latrocínio quase no quintal da nossa casa não assusta ninguém. A delicadeza e sensibilidade, até há pouco tempo escudos contra o desabrochar da violência feminina, são neutralizadas pela quantidade cada vez maior de crimes cometidos por mulheres. Os que são cometidos contra elas também crescem em quantidade e crueldade.

Nos morros, quando há ação policial, alguns moradores descem “indignados” para defender os traficantes. Brigas no trânsito resultam em mortes, trabalhadores em segurança são friamente assassinados por assaltantes, isso sem contar um elenco enorme de outros crimes, que vão de pedofilia ao “colarinho branco”.

É nesse cenário que o País se debate em torno de um italiano que nega ter sido terrorista e assassino e se declara escritor em busca da divulgação de seus ideais. De que lado está a verdade? A Justiça brasileira vai dar a última palavra? É uma questão de soberania nacional? Tudo pode se transformar em um problema internacional?

Estamos errados nesse enfoque da violência. Temos aqui questões muito graves a serem debatidas. Em vez de gastar energias discutindo o caso Battisti, deveríamos direcioná-las para começar a resolver nossos problemas, iniciando por uma polícia capaz e justamente remunerada e terminando pelo combate à miséria e pela disseminação, na medida do possível, entre jovens e crianças, de cultura e humanismo.

Em um país tropical, a bola de neve Battisti, tão aumentada pela mídia, deve ser derretida. No último dia 18 de dezembro, o aniversário do italiano foi comemorado na cadeia, com bolo e tudo, levado por amigos e até autoridades. Autoridades que deveriam voltar-se para nosso próprio “bolo” de desencontros e dificuldades. Quanto à cereja, é caso de se perguntar: “O que é isso, senador Suplicy?”

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Hélio Oiticica

Sem segurança, arte vira cinzas

A perda da maior parte das obras de Hélio Oiticica é mais uma consequência da falta de respeito com que a arte é tratada neste País. É o mínimo que se pode afirmar após o incêndio que atingiu, na última sexta-feira, a casa do irmão do artista, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Se somarmos este a outros incidentes, teremos uma boa idéia da falta de recursos e do pouco caso com a segurança das obras de arte no Brasil.

Incêndios, perdas e roubos de obras não são novidade por aqui. As notícias se sucedem, mas não sensibilizam autoridades nem demais responsáveis. A grande maioria da população, por sua vez, com sua crônica falta de interesse pela cultura, não reclama. E assim vamos caminhando, eufóricos com a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, mas fornecendo combustível para a fogueira onde a arte é atirada.

Há também brigas entre egos inflamados e tentativas de se levar vantagem. Enquanto isso, trabalhos importantes permanecem em exposição sem cuidados básicos ou ficam amontoados em alguma sala escura e mal ventilada.

No caso do acervo de Hélio Oiticica, declarou César, o irmão e dono da casa, que estava em local com sensores de temperatura e umidade, além de alarme anti-incêndio. Só que um possível curto-circuito iniciador do fogo não foi capaz de fazer o alarme funcionar e, em pouco tempo, pinturas, esculturas, os famosos parangolés e até textos manuscritos nos quais o artista exprimia seu pensamento desapareceram.

O prejuízo material foi avaliado em US$ 200 milhões – as obras não estavam no seguro. Já se fala em tentativas de refazer alguma coisa salva das cinzas e existem ainda registros em CDs e arquivos de computador não atingidos pelo fogo. Discordâncias entre a família do artista e o Centro de Artes Hélio Oiticica, da Prefeitura do Rio, em nada contribuíram para a segurança dos trabalhos.

Falecido em 1980, Oiticica começou a se destacar internacionalmente nos anos 50. Morou algum tempo em Nova Iorque e tem obras em museus como o Tate Modern, de Londres, o MoMa, de Nova Iorque, e o Malba, de Buenos Aires. No Rio, estava a maior parte do seu trabalho, agora destruída. Fez parte do movimento neoconcretista, inspirou o Tropicalismo com sua obra “Tropicália”, polemizou na arte, destacou-se com seus parangolés (espécie de capas para serem vestidas e movimentadas por pessoas) e penetráves (instalações).

Pode-se gostar ou não de seu trabalho contemporâneo, concordar ou não com suas idéias. Mas não se pode negar a repercussão nacional e internacional de sua obra. Com a notícia do incêndio, que provavelmente teve mais destaque no exterior do que no Brasil, fica a pergunta: que país terá coragem de enviar para ser exposta aqui qualquer obra valiosa? Afinal, se nem cuidamos do que é nosso...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Tribuna Livre

Emoções do galo

Olá amigos. Aí está a crônica que foi publicada na edição de 09/10/09 , no jornal “A Tribuna”. Também postei a imagem digitalizada, como saiu na página 2 do jornal

O galo que gostava de gente

Inesquecível é o sol das manhãs de primavera na imensa varanda do casarão da minha infância. Dali, podia ver o quintal, onde árvores frutíferas garantiam o ar fresco até mesmo quando os dias iam se tornando mais quentes. Ali, eu olhava, brincava e sonhava. Pois foi nessa varanda dos meus sonhos que aconteceu o que, para mim, foi admirável. Havia cachorros no casarão, havia pássaros nas árvores, mas o pintinho comprado na feira era o centro das minhas atenções.

Bem alimentado, bem tratado, “ouvindo” minhas confidências, logo se tornou um frango esperto e, pouco depois, um imponente galo branco, de peito estufado e crista altiva. Não era considerado animal de estimação, não fazia gracinhas nem abanava o rabo. Até o dia em que resolveu demonstrar suas “emoções”. Na manhã preguiçosa, sentada em um banquinho, estiquei as pernas. Silenciosamente, ele veio. Fez o possível para chamar minha atenção, e eu fingi que não o estava vendo. Foi quando ele começou, cuidadosamente, a “escalar” uma de minhas pernas.

Apesar da surpresa, permaneci imóvel. A escalada continuou até meu colo e, quando ele se sentiu seguro, começou a fazer, baixinho, o som que sempre fazia quando “conversava” comigo. Não queria alimento, só queria atenção. A partir desse dia, a cena se repetiu muitas vezes, naquilo que interpretei como demonstração de carinho.

Na verdade, apesar de tudo o que aprendi a respeito do cérebro dos galos – do tamanho de uma ervilha –, até hoje penso se não era isso mesmo. Um simples galo, de cérebro pequeno, mas com apego ao ser humano! E penso nos homens que escalaram o muro de uma casa para roubar e aterrorizar os moradores. Em busca de um possível cofre, não se detiveram nem com a presença de uma criança. Ao contrário, usaram-na nas brutais ameaças aos adultos.

E penso no assaltante que, ao verificar que sua vítima não tinha dinheiro, atirou contra ela e contra a criança de pouco mais de um ano que o homem carregava no colo. Na Guiné, onde, por participarem de ato em favor da democracia, mulheres foram estupradas e homens, fuzilados. Nos homens-bomba a se explodirem em nome de Deus e a levarem com eles dezenas, centenas de inocentes. Nos pais que vendem seus filhos para a prostituição e até para serem transformados em crianças-bomba. Nos sequestros de toda a ordem.

Como em um carrossel de terror, a violência se sucede no Brasil e no mundo. Algumas vezes, por golpe de sorte ou porque o Poder Superior assim determina, vítimas escapam com vida, mas com ferimentos no corpo e na alma. Os do corpo curam-se, já os da alma...

No entanto, os autores de tamanhas atrocidades têm cérebro complexo, podem raciocinar. Mas não demonstram qualquer emoção. Sem sentimentos, não agem como gente. No lugar de contribuírem para a evolução, voltam aos tempos da barbárie. Culpa de quem? Da fome e da miséria? Do fanatismo? Da falta de educação? Dos governos? Da sociedade? Nossa?

Um pouco de tudo. Razões são muitas, cada bandido, cada causador de sofrimento tem uma história para contar, quase sempre datada do início de suas inúteis vidas. Mas eles podem pensar e sentir. Se não o fazem é porque não querem, anestesiados pela maldade. O semelhante, para eles, é nada, assim como nada significam a repressão do Estado ou os caminhos além do mundo material. Enfim, não são humanos. Seriam animais? Penso no galo de cérebro pequenininho que gostava de gente. Não, os animais não merecem essa ofensa.

domingo, 4 de outubro de 2009

Domingo na praia

Crônica escrita no dia da "Cãominhada"

“De cachorro, já é demais”!

As manhãs de domingo continuam sendo uma “festa” para os moradores da orla da praia, em especial do Embaré, Boqueirão e Gonzaga! Eventualmente, Ponta da Praia e José Menino. Quando o tempo permite, é só descer dos prédios e aplaudir participantes das mais variadas corridas, de maratonas a passeios a pé, passando por biathlons, triathlons e desafios. O clima de festa fica por conta de animadores que, equipados com poderosos sistemas de som, acordam os moradores quase sempre bem cedinho, com músicas barulhentas e palavras de ordem.

Como não dá para continuar no delicioso sono das manhãs de domingo, o cidadão levanta-se, toma café ao som das músicas que organizadores da corrida consideram apropriadas – ainda que algumas nem possam ser chamadas de música, tamanhas a gritaria e as letras de mau gosto –, troca de roupa e, como ler, ouvir música de seu próprio gosto, ir para o computador ou simplesmente raciocinar, fica difícil, o melhor é render-se.

Vai para a rua aplaudir atletas e apreciar o movimento. Lembra-se que melhor seria aproveitar a oportunidade para fazer sua caminhada de fim de semana. Mas é difícil caminhar nos calçadões apinhados, com adultos, crianças, cachorros, carrinhos e ambulantes disputando cada qual o seu espaço. Tudo no tal clima de festa!

Após permanecer por vários minutos caminhando lentamente atrás de “distraídos” que formam intransponíveis paredões ao ocupar as calçadas de ponta a ponta, depois de driblar buracos e “cacas de totós”, cansado do alarido que impossibilita ouvir o mar, volta para casa um tanto deprimido, mas disposto a não perder o domingo.

Vou almoçar fora, decide. Mas se esquece de que a avenida está interditada nos dois sentidos, ainda que o evento esteja ocupando apenas a pista do lado do mar. Ônibus estão impedidos de circular, motoristas de táxi se recusam a ir buscar passageiros na avenida da praia e carros particulares devem permanecer recolhidos às garagens, se seus condutores não quiserem se aborrecer e correr o risco de se envolver em algum incidente.

Só que, duro na queda, o cidadão decide sair assim mesmo. Opta por tirar o carro da garagem e ir dirigindo a um quilômetro por hora, tomando cuidado para não atingir os que caminham calmamente pela faixa de rolamento. Um pensamento aflito passa então pela sua cabeça: e se eu ou alguém da minha família, um vizinho, um amigo se machucar ou passar mal? Em quanto tempo chegará o resgate? Para afastar o temor, passa a prestar ainda mais atenção à direção do carro e às pessoas que caminham ao lado e à frente, todas olhando feio para ele, um motorista que ousa utilizar a pista, rodando no asfalto de domínio exclusivo de pedestres.

Quando finalmente consegue chegar a uma rua cuja mão de direção lhe permite sair da avenida da praia, tem que se explicar com a “autoridade” de trânsito que ali se encontra, para que esta retire o cavalete que impede a passagem de veículos. Ele se vê, então, no meio de um trânsito caótico, desviado da avenida da praia, praticamente parado, com carros e ônibus tentando cruzar em todas as direções. Após um bom tempo em meio à confusão, consegue se desvencilhar e, finalmente, chegar ao restaurante onde vai almoçar.

Exausto, acomoda-se em uma mesa, pede um chope e só então começa a relaxar. E a pensar. Reconhece que, para a imagem turística de Santos, eventos como o daquela manhã são benéficos. Mas não se conforma com a interdição das duas pistas e muito menos com o barulho, com a pseudo-música e com a montagem, durante a madrugada, das tendas de suporte ao evento. Pondera para si mesmo que paga seus impostos corretamente, sem atrasar um só dia, e que deveria receber maior consideração por parte do Poder Público. Afinal, tudo tem limite: corridas, desafios, desfiles cívicos, vá lá!... Mas passeio de cachorro, já é demais!

Voltam à sua mente as cenas que havia acabado de assistir: cachorros e seus donos desfilando a última moda para os animais; crianças correndo e gritando na disputa de bolas de gás; barulho insuportável estressando e assustando muitos cães; um cachorro “fazendo caca” na areia da praia, junto ao calçadão, sob os olhares “divertidos” de seus donos.

Claro, há o aspecto benéfico, como o atendimento veterinário e estético aos animais, o clima de confraternização. Mas tem que ser na avenida da praia? É preciso interditar as duas pistas? E se resolverem realizar também um passeio de gatos? Ou de papagaios? Olha assustado para os lados, temendo ter pensado alto e sido ouvido por algum entusiasta da idéia. Mergulha o rosto no cardápio, não sem antes resmungar: “O pior é que até taxa de marinha eu pago”!...

sábado, 3 de outubro de 2009

Olimpíadas no Rio

E então, amigos? Gostaram do Rio de Janeiro sede das Olimpíadas 2016? Não deixa de ser emocionante ver nosso País escolhido entre outras capitais mundiais tão importantes. Foi lindo ver a reação popular e, até, a emoção dos nomes importantes que estavam lá. Mas, vamos colocar nossos pés no chão e pensar na imensa responsabilidade que o Brasil assumiu perante o mundo.

Concordo com os que afirmam que o Brasil tem que fazer a "sua" Olimpíada, sem se importar com outras já realizadas e marcadas por tecnologia no mais alto grau. Mas é preciso nos conscientizarmos de que há aspectos indispensáveis de infra-estrutura, a começar por segurança, transporte, hospedagem etc. etc. etc. Enfim, é preciso começar a trabalhar já e a fiscalizar com rigor a movimentação das verbas. Será que conseguiremos?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Luiz Hamen

Este artigo foi escrito na noite de 13 de junho deste 2009, horas depois da morte de Luiz Hamen, artista plástico que deixou seu nome em destaque na cultura santista e brasileira.

Na arte, a busca da vida

A mãe era espanhola; o pai, holandês. Ele, santista nascido na Rua Comendador Alfaia Rodrigues, herdou pele e olhos claros e um quê europeu, que o mantinha em busca de novas técnicas com que pudesse expressar a sua arte. E como europeus que enfrentaram mares e lendas para chegar ao Novo Mundo, ele mergulhou profundamente em sua alma para tentar alcançar a plenitude da arte e o sentido maior da existência.

Luiz Hamen sabia que o seu ciclo estava terminando. Nem por isso se aquietou. Nos últimos anos, manteve-se dedicado, como na maior parte de sua vida, à pintura, gravura, escultura, artesanato e aos estudos místicos. Os que com ele conviveram jamais esquecerão o sorriso que iluminava seu rosto enquanto conversava, seu interesse pelas pessoas, sua vontade de apoiar novos talentos.

Os que conheceram sua arte têm certeza de que prêmios conquistados e opiniões elogiosas de críticos consagrados são resultado de inspiração e dedicação. Uma arte que permanecerá.

Luiz Hamen foi mais um santista a aceitar o desafio e se destacar no difícil panorama das artes visuais.

Apesar de ter obras em coleções e galerias de todo o Brasil, poderia ter buscado um maior reconhecimento, o que certamente teria conseguido. Mas era tranquilo demais para gastar energias em combates que considerava inúteis. Em sua casa-atelier, na Praia de Paranapuã, em São Vicente, criou um mundo particular, repleto de esculturas, quadros e objetos com características próprias, muitos deles cheios de simbologia mística.

Ali vivia o ex-funcionário da Companhia Docas de Santos que, na década de 50, passou a se dedicar às artes visuais e nunca mais as abandonou. Naquele recanto integrado à natureza, criava, estudava e tinha paz. Em 2007, chegou a anunciar sua mudança para o Espírito Santo, onde pretendia se integrar a uma comunidade ligada ao xamanismo.

Mas a mudança não se concretizou e Hamen viveu seus últimos anos na região onde nasceu. Aqui, ficaram seu talento, sua criatividade e sua arte. Com ele, foram seu sorriso, sua tranquilidade e sua busca constante. No nome Luiz Hamen, permanece a força disfarçada de suavidade.

Conto

Este conto de minha autoria foi vencedor do Concurso Nacional “Escreva Pela Paz”, promovido pelo Yazigi Internacional-Internexus, 1998. Na ocasião, fiquei muito feliz, principalmente pelo prêmio, que foi uma viagem de 15 dias a Nova Iorque .

Pela fresta da janela

Já não mais ousava falar de sua estranha experiência de vida. Tornara-se cada vez mais isolado, solitário, como se a cada dia se estreitasse um pouco a já reduzida janela interior em que se debruçava para manter contato com o mundo. E, no entanto, como ansiava por esse contato! Chegou a acreditar que para permanecer vivo tinha mais necessidade de gente do que de ar. Mas a janela não passava agora de uma fresta, que o sufocava.

Não fora sempre assim. As lembranças da infância eram alegres, comuns às de um garoto esperto, bem amado pela família financeiramente estável. Boa educação, aliada à natural inteligência, o tinha preparado para a vida. Mas agora reconhecia que o pesadelo era antigo, começara nesse tempo em que a vida deveria resumir-se a risonhas inconsequências.

Enquanto os outros garotos não perdiam filme ou seriado de guerra simplesmente pelo prazer da aventura, ele sempre saía do cinema com a cabeça fervilhando e a alma se debatendo entre sentimentos de tristeza pelos males que as batalhas de mentirinha faziam desfilar na tela e de revolta contra o mundo – que gerava o terrível monstro – e contra si próprio – incapaz de degolar o monstro ou sequer arranhá-lo.

Bem que tentara falar com o pai, o padre, a professora e os colegas mais chegados. Mas ninguém o levara muito a sério. Por falta de tempo ou de interesse naquele garoto chato, sempre com um único assunto, cada um lhe dava uma resposta evasiva ou malcriada: ‘‘A vida é assim mesmo’’, ‘‘Guerra existe desde que o mundo é mundo’’ e ‘‘Vê se não enche’’, eram as mais comuns.

Mas ele não se conformava nem entendia a guerra. Vivia cercado de paz, porém não esquecia a luta. Como não encontrava ninguém para falar, passou a pensar. Fechava-se na própria concha, como dizia sua preocupada mãe. Tornou-se a cada dia mais introvertido, não tanto que o impedisse de estudar – principalmente ler e pesquisar a história das guerras – e se formar.

Entre a formatura e o início da vida profissional e adulta, passara um período quase normal, voltado para os temas prosaicos das pessoas comuns. Graças aos bons conhecimentos do pai e à sua própria capacidade, conseguira lugar de redator em um grande jornal, onde sua estrela começara a brilhar. Não fora difícil encontrar, apaixonar-se e casar-se com a bela jovem de longos cabelos negros, dando início à estável relação de toda uma vida. Mas, mesmo nesses tempos de calmaria, o assunto não lhe saía da cabeça.

Sabia tudo sobre as guerras que devastavam o mundo. Cada luta, cada grito de dor, a destruição, os mortos, os feridos, as viúvas, os órfãos. Sua produção profissional e suas incursões literárias eram brilhantes quando o tema era guerra. Tanto que chamou a atenção de colegas e chefes. Elogiado, estimulado, foi-se aprofundando cada vez mais, até tornar-se um “arquivo ambulante” sobre o assunto, como brincavam os jornalistas.

Foi quando os problemas realmente começaram. A pessoa afável, quase tímida que era, passou a dar lugar a um profissional fechado, voltado apenas para si e suas preocupações. Respostas duras substituíram atitudes normalmente gentis e poucos ousavam dirigir-lhe a palavra, temendo interromper suas pesquisas e pensamentos. Também em casa o ambiente transformava-se.

A morena de longos cabelos, que lhe dera dois filhos saudáveis e que era feliz em uma casa confortável ao lado do marido inteligente e famoso, já não sorria com facilidade. Procurava conformar-se com a idéia de que a profissão exigia dedicação completa do companheiro, mas logo teve que abandonar esse pensamento ao qual se agarrava como salvação: ele estava cada vez mais distante e agressivo, nem pai nem amante. Era um homem em guerra permanente contra o mundo.

Esquecido de si, da família, dos amigos e da realidade, mergulhara inteiramente nos horrores das guerras, na revolta contra a demência dos homens que as manipulam e na sua impotência para impedi-las. Era capaz de adivinhar sentimentos, pensamentos e emoções de soldados, comandantes e vítimas de todas as guerras do mundo, desde os primeiros homens pré-históricos que se matavam em nome da sobrevivência.

Conhecia motivos e desculpas de todas as lutas. Descobrira interesses inconfessáveis por trás das batalhas e tornara-se cada vez mais contundente em suas críticas. Como correspondente de guerra, sentira na própria pele os horrores dos tiros, das bombas e das explosões, vira mutilação, morte e degradação do ser humano. Por sua experiência e conhecimento da violência, fora destacado para as grandes reportagens sobre marginalidade e violência urbana, suas terríveis causas e consequências.

Não poderia mais lembrar-se de todos os prêmios e reconhecimento ao seu trabalho, tantos haviam sido ao longo da carreira. Alcançara seu objetivo de denunciar a violência, fora capaz de arranhar o monstro, mas não conhecera a sua própria paz. Sentado à mesa de trabalho, redigia indignado artigo enumerando todos os motivos pelos quais a humanidade se oprime e se mata: cobiça, poder, miséria, riqueza, ódio, paixão e até crença religiosa. Encontrou uma frase de efeito para o encerramento – ‘‘O homem mata até em nome de Deus!’’ – e gostou.

Não sorriu, porque há muito não sabia fazê-lo. E também porque não sentia mais o prazer do grito contra a violência ou mesmo do trabalho bem feito. Só o vazio, o isolamento, a sensação da própria vida desperdiçada. Nada mudara. Havia guerras e havia violência.

Sentia agora uma incontrolável necessidade de falar com os colegas, de ter amigos, de passar a mão nos negros cabelos da mulher, de ouvir e entender o que os filhos lhe queriam contar. Mas chegara a um ponto de onde era impossível retroceder. Pela fresta da janela passava agora somente um filete de luz.

Olhou à volta e viu-se, como sempre, isolado em meio à redação. Havia um respeitoso espaço entre ele e os outros, da maneira como gostava, para evitar ser perturbado em seu trabalho. Alguns o observavam furtivamente, entre admirados e temerosos de suas irascíveis reações. Aliás, sentia que não ia demorar para acontecer. Sua vontade era levantar-se e gritar por socorro, pedir que falassem com ele, lhe estendessem a mão, o ouvissem. Mas sabia que não conseguiria. Ao invés disso, ia fazer qualquer mal-humorada e hostil observação sobre a humanidade e “quem não tem mais nada o que fazer a não ser ficar olhando para os outros”.

Chegou a levantar-se, mas parou fascinado pelo sorriso de uma jovem colega que dele se aproximava com naturalidade. Não havia medo nem ironia em seu rosto cordial. Incrédulo, constatou que o sorriso era mesmo dirigido a ele e foi logo completado por frases diretas: “Tenho que lhe dizer como acho seu trabalho importante. Com seu estilo de denúncia, é mais eficaz do que cem comitês de paz juntos”.

A moça seguiu seu caminho, não sem antes lhe dar um novo sorriso, que ele, quando percebeu, já havia retribuído. Olhou para os espantados rostos à volta e sentiu que podia ampliar o sorriso até chegar a um comovente, simples e sincero “Até amanhã!”. Não sabia bem por quê, mas quando pegou o casaco de cima da mesa e encaminhou-se para o elevador, parecia ter de volta sua própria vida. Por pouco não ensaiou um assobio.

Já na rua, contra todos os seus hábitos, teve tempo suficiente para uma longa caminhada sob o tímido sol de primavera. Na banca de jornais, em destaque, seu mais recente trabalho, junto com a notícia de que seria debatido em reunião de governantes dispostos a evitar mais uma guerra. Sorriu novamente e percebeu como era fácil fazê-lo. Apressou o passo, querendo encurtar o tempo para chegar em casa. Ia passar a mão nos longos cabelos da mulher. Já não eram tão negros, teria que soltar os pentes que há muito os prendiam, mas sabia que seria tão bom quanto antes. Nem percebeu quando pombas brancas voaram em direção às árvores, buscando abrigo para passar a noite.

Clara Becker

Fui ver o show desta intérprete excelente, realizado aqui em Santos, no Teatro Municipal, dia 22/09/09. Aqui, o que achei:

Clara, “mais maior de bom”

Um show como raras vezes se pode ver. Foi assim o espetáculo de Clara Becker no Teatro Municipal, parte do projeto cultural itinerante do Banco do Brasil. Clara é dessas intérpretes que colocam a alma no que cantam, entregando-se de tal forma à música que é impossível desviar os olhos de sua figura. Ela tanto pode assumir a dramaticidade como a brejeirice, o ritmo ou a languidez das composições. Dificilmente um compositor encontrará melhor tradução.

A voz grave, a expressão corporal e a total sintonia com seus músicos são sob medida para a homenagem que Clara presta a dois grandes nomes da música brasileira, compositores de temas e estilos diferentes, pai e filho unidos, no entanto, pela expressão da alma brasileira: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e Gonzaguinha.

O cenário e a iluminação que não deixam vazios no palco, a competência dos músicos Pedro Macedo no contrabaixo, Kiko Horta no acordeom – instrumento que não poderia faltar quando se toca o Rei do Baião e, aqui, perfeitamente entrosado com a harmonia do conjunto –, Edson Ghilardi na percussão e, especialmente, João Cristal no piano completam os acertos de Dois Maior de Grande. Uma linda homenagem que Clara presta a Gonzagão e Gonzaguinha, com arranjos e direção musical assinados pelo pianista Leandro Braga.

O título do espetáculo – e do CD no qual se baseia – remete à composição de Gonzaguinha Coisa Mais Maior de Grande, e no roteiro do show a cantora opta por mostrar um repertório não tão conhecido do grande público, mas repleto de inspiração e sentimento. Sem faltarem, é claro, sucessos como Asa Branca, Assum Preto e Estrada de Canindé. O resultado é um clima intimista, que, aliás, encontrou no Teatro Municipal o ambiente perfeito.

Pequena jóia entre os shows de música popular, Dois Maior de Grande valeu o suor de sua intérprete e foi uma oportunidade única para o público da região conhecer melhor Clara Becker, que provou saber dosar música e teatro. Cantora, sim, mas também atriz – e das boas –, não fosse ela filha de Cacilda Becker e Walmor Chagas.

sábado, 12 de setembro de 2009

Políticos

De vez em quando, é bom externar um pouco de nossa indignação...

Respeito, sem sapatadas

Recebi e-mail agressivo: se você encontrar algum político, dizia, vire o rosto, mude de calçada e cuspa no chão. Só faltou sugerir que atirasse um sapato no objeto de meu desprezo, à maneira do que fez o jornalista iraquiano contra Bush. Opa! “Meu” desprezo, não. Desprezo de quem redigiu, produziu e repassou o e-mail. Alguém profundamente desiludido e revoltado contra políticos de todas as esferas e matizes.

Após a primeira leitura, achei a mensagem inútil e de mau gosto. Violenta, até. Afinal, não se pode colocar todos os políticos no mesmo saco, não se pode condenar sem provas etc. etc. etc... Meu velho otimismo já se insinuava, certo de que triunfaria, quando uma notícia na TV me chamou a atenção: novo escândalo financeiro explodia envolvendo legisladores.

Foi impossível deixar de considerar todas as acusações e comprovações de corrupção nas várias áreas do Poder, ignorar a lama cada dia mais caudalosa serpenteando entre elas. Voltei a ler o e-mail antipolíticos, perdido entre conselhos sobre a melhor forma de encarar a vida, a velhice, sugestões de autoajuda, anjinhos da fortuna, correntes e mil outras mensagens inúteis.

Comecei a achar que o sujeito que queria cuspir no chão quando avistasse algum político, até que tinha alguma razão. Revi imagens de gente miserável tornada ainda mais miserável pela fúria da natureza, sem contar com nenhuma ajuda dos governantes. Crianças em arremedos de escolas; pais sem perspectivas chafurdando em álcool e drogas; mal pagos professores, médicos, policiais e outros profissionais indispensáveis à dignidade de um povo.

Pensei na cara-de-pau, na vida boa dos políticos e em sua habilidade mágica de desviar as sagradas verbas destinadas a melhorar estradas, financiar pesquisas científicas, salvar vidas, ajudar todas as camadas da população. Passei a considerar seriamente os sapatos, ainda que simbólicos, que todos deveríamos atirar em direção aos políticos. E em formas criativas de exigir deles respeito, no mínimo.

Um resto de bom senso (ou de otimismo?) me advertiu: há, sim, entre políticos de todas as áreas, gente digna, honesta, que trabalha bem. Em vez de sapatos e cusparadas no chão, deveríamos aplaudi-los e reelegê-los. Difícil, mesmo, especialmente quando atuam longe de nossas cidades, é identificá-los!