Natal apressado
Guardei ontem as bolas brilhantes e as luzes coloridas
que serviram para enfeitar o Natal. Como? Não foi ontem? Já se passou um ano? E
já estamos de novo no Natal?! Sou obrigada a reconhecer: a cada ano as Festas parecem
chegar mais cedo. Mas, desta vez, bateram recordes: acho que emendaram com as
do ano passado!
Como eu, a maioria das pessoas tem a
sensação de que o tempo está galopando, atirando-nos em um redemoinho de
compromissos, preocupações, metas. Será o nosso estilo de vida o responsável?
Será nossa a culpa de não saborearmos a vida?
Com certeza, temos uma parcela de culpa
por não sabermos gerenciar nosso tempo. Mas não é apenas isso. O tempo passa
célere porque está contaminado por notícias e acontecimentos que diariamente
mostram a miséria moral e física do ser humano. Como pensar na beleza da vida,
se temos que enfrentar a violência, o terror, a fome, as convulsões sociais, as
religiões dogmáticas e distorcidas?
Ou seja, como curtir a paisagem – ainda
que urbana – se não sabemos como será o amanhã? Ou o próximo minuto? As luzes
multicores brilham na noite, mas as sombras trazem medo e bandidos. Papai Noel
se multiplica a cada shopping, cada loja, mas não há dinheiro para os
presentes. As igrejas tocam sinos e montam presépios, mas ninguém repara na
figura da Criança deitada na manjedoura.
Nosso Natal tem, sim, muitos gestos de
solidariedade e amor. Mas, o tempo, que passa na velocidade da luz, não nos
deixa parar, empurra-nos para uma realidade totalmente esquecida da palavra
Daquele para quem preparamos a festa.
Limpamos e decoramos a casa de olho na
televisão, que noticia o mais recente atentado terrorista; organizamos a ceia,
ao mesmo tempo em que pensamos na segurança dos participantes, contra a ação de
possíveis marginais; saímos à rua com o “espírito natalino” ativado, mas
encontramos rostos tristes, irritados, estressados; ficamos presos no
congestionamento e, em vez de ouvirmos música no rádio do carro, permanecemos
atentos às notícias políticas e econômicas de um País cada vez mais
desequilibrado.
Roubo, corrupção, delação, traição, investigação
são palavras corriqueiras no dia a dia. Desemprego, saúde e educação abaixo da
crítica, dramas familiares e pessoais ocupam quase todos os nossos pensamentos.
Como parar e fazer o tempo parar junto?
Não temos o poder de modificar os
acontecimentos. As coisas ruins devoram o nosso tempo, e já nada nos sobra para
o recolhimento, a meditação, o encantamento com a natureza, com o sorriso de
uma criança. Mas, quem sabe possamos ainda fazer alguma coisa? Poderíamos
começar neste Natal, levando a sério os votos de paz e amor.
Poderíamos contribuir com uma gotinha
de nossos bons desejos para o Brasil e o mundo. Correr menos, ajudar mais,
esquecer um pouco os fatos tristes e lembrar bastante dos que dignificam o ser
humano. Poderíamos constatar com mais frequência a nossa fragilidade e a nossa
grandeza. Afinal, a festa é para Alguém que veio ensinar tudo isso. Quem sabe,
dessa forma, o Natal de 2016 não chegue tão apressado?