domingo, 28 de agosto de 2011

Sufoco na Serra

Este artigo  foi publicado na coluna "Tribuna Livre", do jornal "A Tribuna", de Santos, no último dia 26. Retrata momentos difíceis vividos não só por mim, como por todos que são obrigados a descer a Serra, de São Paulo para Santos, pela Via Anchieta, em meio a forte neblina. Um verdadeiro crime!



                                          Trem fantasma na Anchieta


Domingo, 31 de julho, por volta de 16 horas. Fim de férias, todos felizes no retorno para casa. O trânsito pela Imigrantes, no Planalto, sentido São Paulo-Baixada Santista, flui normalmente, mas o tempo já está chuvoso, com muita neblina. A esperança de que a situação melhore é a aproximação dos túneis. No pedágio, desembolsa-se uma quantia muito alta, mas ninguém reclama. Afinal, estamos em uma estrada das mais modernas e seguras, logo estaremos na Baixada.

Mesmo com cerração forte, alguém no carro prepara a câmera fotográfica para as fotos de encerramento das férias: “Esta estrada merece ser registrada, com tanta tecnologia e túneis espetaculares”. Com o aumento da neblina, a custo se consegue vislumbrar a placa avisando sobre a interligação com a Anchieta. Mas, o que é isso? Sinais luminosos e um aviso: desvio obrigatório de todo o trânsito para a interligação. Vamos descer pela Anchieta! E a ótima Imigrantes descendente? Ora, está com mão invertida, recebendo os carros que vão para a Capital.

Na interligação, não se enxerga quase nada. Quanto de visão? Difícil calcular. O carro corta uma neblina tão forte que mal dá para perceber o que há à frente. E o que vem atrás? Melhor nem pensar! A atmosfera alegre dentro do veículo murcha repentinamente e começa a ceder espaço a uma certa angústia. A câmera volta para dentro da bolsa, com um gesto de frustração. O caminho parece não ter fim. Velocidade reduzidíssima, até que, com suspiros de alívio, se chega à Anchieta.

Mas o alívio vem cedo demais. A Anchieta está tão ou mais perigosa que a interligação. Carros, caminhões e ônibus disputam espaço nas duas faixas totalmente envoltas em pesada cerração. Alheios aos veículos leves, caminhões desviam subitamente para a faixa da esquerda, a fim de ultrapassar os mais lentos. Condutores irresponsáveis abusam da velocidade, mesmo com pouca visão. “Por pouco tempo”, diz um otimista dentro do carro. “Logo vai aparecer fiscalização para impedir esses abusos”. E todos ficam esperando pela fiscalização, que não surge em momento algum.

                 O motorista do carro, driblando um trânsito sem regras, tem como único guia, a pintura de solo, que separa as duas faixas. Nem se preocupa com os radares, porque sua velocidade é baixíssima. Para tentar aliviar a tensão, alguém diz que o cenário se parece com um filme de terror: a qualquer momento, pode acontecer a tragédia. Ninguém acha graça. Enfim, se chega à Baixada a salvo. A neblina praticamente se dissipa.

Um dos passageiros lembra-se do alto pedágio pago por uma viagem que parecia a do trem fantasma dos parques. Sem diversão, claro! Na pista ascendente, movimento grande, mas sem congestionamento. Então, por que inverter a pista descendente da Imigrantes? E qual a importância da Baixada Santista?  Onde está a força política da região?  As reclamações são constantes na mídia, mas as inversões de mão são praticamente uma regra aos domingos. Não têm os que aqui moram o direito de sair, viajar para outras cidades e voltar em segurança para casa?

 Números, estatísticas, comboios – nesse 31 de julho nem comboio tinha! –, aprovação dos usuários em pesquisas, não querem dizer nada quando se está vivendo o perigo de descer pela Anchieta sem visibilidade e com trânsito caótico. E, apesar de parecerem moucos os ouvidos dos responsáveis pelas inversões, permanece a pergunta que praticamente encerrou os comentários dentro do carro: não é obrigação do Sistema Anchieta-Imigrantes oferecer segurança tanto para quem vai como para quem vem?

domingo, 21 de agosto de 2011

"Beau geste"

Um lindo gesto da família Elias resultou em momentos marcantes para diretores e frequentadores da Pinacoteca Benedicto Calixto: no último dia 18, em encontro que reuniu diretores e convidados da entidade, foi concretizada a doação de um piano de cauda Brasil para a Pinacoteca. Trata-se de instrumento musical que pertenceu a Zuleica Miguel Elias, um presente que recebeu do noivo, Elias Miguel Elias, e que marcou todos os momentos da vida do casal, ao longo de décadas.
Foi um dos filhos de Zuleica e Elias, Ricardo Elias, quem se encarregou de recordar a história do piano e da vida da família, em palavras que emocionaram os presentes ao encontro.Conforme contou, após o falecimento dos pais, a família se decidiu pela doação do bonito instrumento, tendo a Pinacoteca sido escolhida para recebê-lo. O concertista e compositor Ricardo Paulino, diretor cultural da Pinacoteca, após palavras de agradecimento, tocou algumas de suas composições, sendo intensamente aplaudido.
Também anunciou um novo projeto da Pinacoteca, somente possível de ser realizado agora, com a entrega do novo piano: um desafio mensal de pianistas. reunindo alguns dos melhores nomes da música, tanto da região como convidados de fora.
Como se vê, um passo a mais em prol da arte, só possível graças ao "beau geste" de uma família que entende o valor da cultura e de uma entidade sempre disposta a oferecer momentos de lazer de alta qualidade!  

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Homenagem aos pais

Excertos do poema “Pai-Amor”,
publicados na coluna "Alto Astral", de
Durval Capp Filho, para comemorar
o Dia dos Pais. Escrevi o poema na
década de 80, por ocasião da mesma data.




Pai-amizade, pai-fortaleza, pai-compreensão,

pai-sobrevivência, pai-caminho,

pai-carinho e até pai-herói.

Por que não pai-amor?

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Muito jovem, quase menino, quase

Igual a seu menino. É preciso apoiá-lo,

Estimulá-lo.

O futuro vai lhe exigir muito.

Ou enrugado, cabelos brancos, velhinho,

Encurvado. Seu passado é sua vida.

É preciso oferecer-lhe conforto,

Assistência, solidariedade.

Por que não mais amor?

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Durão, bonzinho, tímido, determinado.

Inúmeras vezes preocupado,

Poucas vezes revela que

Abriu espaço para a emoção.

Mas, afinal, por que não?

Ele não é pai-amor?