terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Mais uma vez, Petrópolis

 Publicado na "Tribuna Livre" do jornal "A Tribuna", em 22/02/2022


                         Fantasiados à espera da chuva

                                                                                 

 Em um momento, o menino de oito anos estava no ônibus com sua mãe; nos momentos seguintes, o ônibus era arrastado pela torrencial água da chuva para dentro de um rio, o menino tentava de várias formas sair do ônibus antes que o veículo afundasse, mas era levado pelo rio em turbilhão. Em um momento, a mãe do menino estava com ele dentro do ônibus; nos momentos seguintes, o ônibus estava dentro do rio, e ela tentava desesperadamente salvar o filho, sem sucesso.

            Momentos depois, ela olhava para o repórter e a câmera com um olhar ausente, dolorido, sem conseguir responder às perguntas, ainda sem se dar totalmente conta da tragédia. Apenas mais um drama entre os incontáveis vividos pela população de Petrópolis. Somente uma história triste entre as tantas que se sucederam escancaradas pela mídia.

            Não sei o nome do menino, de sua mãe e nem o final da história. Só sei que tanta dor e tristeza não cabem no peito de uma só pessoa. Nem no de tantas outras mergulhadas no luto e no desespero, no Rio, em São Paulo, Minas, Bahia e outras regiões do País.

            Enchentes, lama, desmoronamentos, soterramentos. Perda de vidas e de bens materiais tão sofridamente conquistados. Caos. A sempre solidária população brasileira ajuda com doações de todo o tipo. Administradores transvestem-se de meteorologistas para explicar fenômenos da natureza causadores das violentas chuvas.

            Mas, não conseguem explicar por que deixaram de aplicar recursos públicos que poderiam, se não evitar, reduzir o caos. Em 20 de janeiro de 2011, neste mesmo espaço da “Tribuna Livre”, após violentas chuvas e grande tragédia que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro, foi publicado o artigo “Tirar a fantasia antes que chova”.

            A dirigente máxima da Nação prometia não esperar as “próximas chuvas para chorar os próximos mortos”. Desejei que não se ficasse na frase de efeito, mas que essa declaração fosse traduzida em ações concretas de administradores em todos os níveis, dos locais aos federais.

            Infelizmente, nos meses de janeiro de 2012 e 2013, repetiram-se as tragédias. Que continuaram de modo recorrente, em incontáveis regiões do País, inclusive na Baixada e Litoral. Alguns governantes sérios tomaram atitudes para minimizar o problema.             Mas, a demagogia e a corrupção na política são uma praga que se multiplica na mesma velocidade em que as tragédias são esquecidas.

 A falta de planejamento e de aplicação de recursos, que reduziriam o impacto das chuvas no verão, também é esquecida rapidamente. Os meteorologistas (os verdadeiros) alertam, mas a construção de casas em locais perigosos continua. Quando se percebe, já há duas ou três casinhas erguidas na mesma encosta que desabou, matando pessoas.

             Mas, nós só lamentamos e ajudamos como podemos. Não cobramos de quem tem o dever de zelar pela vida e bem estar da população. Votamos por ideologia ou simpatia, sem nos preocuparmos com capacidade, coerência e honestidade.

            Afinal, o Carnaval já está aí, às portas. E mesmo com pandemia, vamos nos divertir. A máscara não pode ser de paetês, mas vamos usar a outra a que já estamos acostumados, para nos proteger do vírus e da tristeza. Vamos vestir a fantasia, mas tirá-la antes que cheguem as próximas chuvas. Porque, atrás delas, virá o habitual cordão de caos, horror e tragédia.