Publicado na "Tribuna Livre" do jornal "A Tribuna", em 22/02/2022
Fantasiados à espera da chuva
Momentos
depois, ela olhava para o repórter e a câmera com um olhar ausente, dolorido,
sem conseguir responder às perguntas, ainda sem se dar totalmente conta da
tragédia. Apenas mais um drama entre os incontáveis vividos pela população de
Petrópolis. Somente uma história triste entre as tantas que se sucederam
escancaradas pela mídia.
Não sei o
nome do menino, de sua mãe e nem o final da história. Só sei que tanta dor e
tristeza não cabem no peito de uma só pessoa. Nem no de tantas outras
mergulhadas no luto e no desespero, no Rio, em São Paulo, Minas, Bahia e outras
regiões do País.
Enchentes,
lama, desmoronamentos, soterramentos. Perda de vidas e de bens materiais tão
sofridamente conquistados. Caos. A sempre solidária população brasileira ajuda
com doações de todo o tipo. Administradores transvestem-se de meteorologistas
para explicar fenômenos da natureza causadores das violentas chuvas.
Mas, não
conseguem explicar por que deixaram de aplicar recursos públicos que poderiam,
se não evitar, reduzir o caos. Em 20 de janeiro de 2011, neste mesmo espaço da
“Tribuna Livre”, após violentas chuvas e grande tragédia que atingiram a região
serrana do Rio de Janeiro, foi publicado o artigo “Tirar a fantasia antes que
chova”.
A dirigente
máxima da Nação prometia não esperar as “próximas chuvas para chorar os
próximos mortos”. Desejei que não se ficasse na frase de efeito, mas que essa
declaração fosse traduzida em ações concretas de administradores em todos os
níveis, dos locais aos federais.
Infelizmente,
nos meses de janeiro de 2012 e 2013, repetiram-se as tragédias. Que continuaram
de modo recorrente, em incontáveis regiões do País, inclusive na Baixada e
Litoral. Alguns governantes sérios tomaram atitudes para minimizar o problema. Mas, a demagogia e a corrupção na
política são uma praga que se multiplica na mesma velocidade em que as
tragédias são esquecidas.
A falta de planejamento e de aplicação de
recursos, que reduziriam o impacto das chuvas no verão, também é esquecida
rapidamente. Os meteorologistas (os verdadeiros) alertam, mas a construção de
casas em locais perigosos continua. Quando se percebe, já há duas ou três
casinhas erguidas na mesma encosta que desabou, matando pessoas.
Mas, nós só lamentamos e ajudamos como
podemos. Não cobramos de quem tem o dever de zelar pela vida e bem estar da
população. Votamos por ideologia ou simpatia, sem nos preocuparmos com
capacidade, coerência e honestidade.
Afinal, o
Carnaval já está aí, às portas. E mesmo com pandemia, vamos nos divertir. A
máscara não pode ser de paetês, mas vamos usar a outra a que já estamos acostumados,
para nos proteger do vírus e da tristeza. Vamos vestir a fantasia, mas tirá-la
antes que cheguem as próximas chuvas. Porque, atrás delas, virá o habitual
cordão de caos, horror e tragédia.