Um músico que
escreve livros
Há pessoas privilegiadas que, mesmo se
dedicando a uma expressão artística, conseguem expor seu dom em outras formas
de arte. É o caso do compositor santista Gilberto Mendes, que projeta a cultura
da Cidade para o País e o mundo. Após incursionar pela ficção com o lançamento
recente da novela Danielle em Surdina,
Langsam, está agora nas livrarias com Música,
Cinema do Som, uma reunião de crônicas, artigos e críticas musicais, muitas
publicadas em A Tribuna.
Se em Danielle, há paixão, suspense, memórias de
paisagens e monumentos, citações de artistas e obras, em Música, Cinema do Som, Gilberto compõe um retrato da música local,
nacional e internacional durante um período de 45 anos.
Além de revelar o
conhecimento do autor a respeito de cinema, teatro, artes visuais e, também, da
alma humana, Danielle é um registro
da Santos de décadas passadas, com suas construções, suas ruas, seus
interiores, seus ambientes, o Parque Balneário Hotel. E a música pode ser
sentida ao longo de todo o texto, com ritmo, com cores.
Já em Música, Cinema do Som, os artigos de Gilberto, deliciosos de ler,
fáceis de entender, são muitas vezes pontilhados por sutil ironia ou humor. Revelam
rápidas facetas do cotidiano do autor e registram nomes e momentos marcantes da
música contemporânea erudita e popular – esta, da MPB ao jazz –, sempre
interligada ao cinema e ao teatro. Há, ainda, entrevistas e posicionamentos
estéticos firmes, mas serenos.
Um dos nomes mais respeitados da música
atual, Gilberto teve contato com a arte desde criança, estimulado pelo ambiente
familiar. Para ele, música e cinema estão muito próximos, há uma identificação
entre os dois processos narrativos. Confessa ver um filme como quem ouve uma
música e ouvir uma música como quem vê um filme.
Idealizador e alma do Festival Música
Nova, internacionalmente conhecido, foi, durante muitos anos, crítico de música
e colaborador de A Tribuna, tendo
ainda escrito para outros órgãos de imprensa. Um dos destaques de Música, Cinema do Som é a crítica da
estreia, em Santos, da ópera Café, de
Koellreutter, publicada em A Tribuna,
em setembro de 1996. Além de elogiar o inusitado de uma estreia mundial de
ópera em Santos, o autor tece considerações sobre o espetáculo, definindo-o
como belo e funcional.
Música, Cinema do Som faz parte da coleção Signos/Música,
da Editora Perspectiva. Tem prefácio do também compositor Livio Tragtenberg e
reúne textos assinados por Gilberto Mendes, de 1966 a 2011, para A Tribuna e jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde.
Para tornar
o livro ainda mais saboroso, há um texto em que o compositor fala dele próprio,
intitulado Gilberto Mendes Por Ele Mesmo.
Para completar, três composições de Gilberto, de períodos diferentes, rico
material para estudantes e musicistas.
Danielle em Surdina, Langsam foi lançada pela Algol Editora, com prefácio do escritor
Flavio Viegas Amoreira. Contém
ainda uma ilustração – desenho do antigo Parque Balneário Hotel, feito por
Eliane Mendes, esposa do autor. Como Música,
Cinema do Som, um livro para quem sabe dar valor à cultura.