sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Gilberto Mendes


                                          

                                             Um músico que escreve livros

Há pessoas privilegiadas que, mesmo se dedicando a uma expressão artística, conseguem expor seu dom em outras formas de arte. É o caso do compositor santista Gilberto Mendes, que projeta a cultura da Cidade para o País e o mundo. Após incursionar pela ficção com o lançamento recente da novela Danielle em Surdina, Langsam, está agora nas livrarias com Música, Cinema do Som, uma reunião de crônicas, artigos e críticas musicais, muitas publicadas em A Tribuna.

Se em Danielle, há paixão, suspense, memórias de paisagens e monumentos, citações de artistas e obras, em Música, Cinema do Som, Gilberto compõe um retrato da música local, nacional e internacional durante um período de 45 anos.

 Além de revelar o conhecimento do autor a respeito de cinema, teatro, artes visuais e, também, da alma humana, Danielle é um registro da Santos de décadas passadas, com suas construções, suas ruas, seus interiores, seus ambientes, o Parque Balneário Hotel. E a música pode ser sentida ao longo de todo o texto, com ritmo, com cores.

Já em Música, Cinema do Som, os artigos de Gilberto, deliciosos de ler, fáceis de entender, são muitas vezes pontilhados por sutil ironia ou humor. Revelam rápidas facetas do cotidiano do autor e registram nomes e momentos marcantes da música contemporânea erudita e popular – esta, da MPB ao jazz –, sempre interligada ao cinema e ao teatro. Há, ainda, entrevistas e posicionamentos estéticos firmes, mas serenos.

Um dos nomes mais respeitados da música atual, Gilberto teve contato com a arte desde criança, estimulado pelo ambiente familiar. Para ele, música e cinema estão muito próximos, há uma identificação entre os dois processos narrativos. Confessa ver um filme como quem ouve uma música e ouvir uma música como quem vê um filme.        

Idealizador e alma do Festival Música Nova, internacionalmente conhecido, foi, durante muitos anos, crítico de música e colaborador de A Tribuna, tendo ainda escrito para outros órgãos de imprensa. Um dos destaques de Música, Cinema do Som é a crítica da estreia, em Santos, da ópera Café, de Koellreutter, publicada em A Tribuna, em setembro de 1996. Além de elogiar o inusitado de uma estreia mundial de ópera em Santos, o autor tece considerações sobre o espetáculo, definindo-o como belo e funcional.    

Música, Cinema do Som faz parte da coleção Signos/Música, da Editora Perspectiva. Tem prefácio do também compositor Livio Tragtenberg e reúne textos assinados por Gilberto Mendes, de 1966 a 2011, para A Tribuna e jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde.

            Para tornar o livro ainda mais saboroso, há um texto em que o compositor fala dele próprio, intitulado Gilberto Mendes Por Ele Mesmo. Para completar, três composições de Gilberto, de períodos diferentes, rico material para estudantes e musicistas.

Danielle em Surdina, Langsam foi lançada pela Algol Editora, com prefácio do escritor Flavio Viegas Amoreira.   Contém ainda uma ilustração – desenho do antigo Parque Balneário Hotel, feito por Eliane Mendes, esposa do autor. Como Música, Cinema do Som, um livro para quem sabe dar valor à cultura.