A respeito dos ataques terroristas a Paris, neste mês de novembro, e de outras tragédias provocadas pelo terror, uma crônica publicada na "Tribuna Livre", do jornal "A Tribuna", em 25/11/2015.
Que pena, Swami!
Que pena, Swami!
Em 1893, emblematicamente no 11 de
setembro, Swami Vivekananda iniciou sua curta fala no Parlamento das Religiões,
no Instituto de Arte de Chicago, EUA, com um simples “Irmãs e irmãos da
América”. Foi aplaudido de pé por sete mil pessoas, durante dois minutos. Uma
recepção à altura para o monge que representava a Índia e o Hinduísmo.
Depois,
durante seu discurso, acentuou com veemência a necessidade da convivência entre
todas as religiões, citando passagens do Bhagavad Gita: assim como águas
provenientes de várias fontes se misturam no mar, também os diferentes caminhos
que são tomados pelos seres humanos, em busca de Deus, conduzem todos a Ele.
A
repercussão de sua fala foi imensa, inclusive nos principais órgãos de
imprensa; em todas as outras vezes em que discursou no Parlamento das
Religiões, destacou a importância da tolerância religiosa e da aceitação
universal. Carismático e culto, Vivekananda viajou por diversos países, fazendo
palestras sobre vários temas, sem nunca se esquecer da universalidade da fé.
Infelizmente,
as sementes espalhadas por suas palavras não caíram todas em terra fértil.
Foram levadas pelo vento ou perdidas em terra de espinheiros. Se estivesse vivo
hoje, ou no 11 de Setembro de 2001, Swami Vivekananda constataria que é muito
duro o coração humano. Que a inteligência do homem não é usada em plenitude. E
que, em pleno século XXI, ainda nos odiamos e nos matamos em nome de Deus.
Os atentados
este mês, em Paris, e os de 2001 em Nova Iorque e Washington, são a prova da
miséria moral da humanidade. Tudo precedido de atos dramáticos e revoltantes, e
tudo escancarado pela mídia para o mundo inteiro, cenas mostradas em um palco onde
se sucedem, a cada hora, cada minuto, o suspense sórdido e revoltante.
Mas, será
mesmo apenas por causa de visões religiosas opostas ou distorcidas que chegamos
a isso? Dificilmente! Manipuladas por governos hipócritas, por interesses
econômicos de submundo, pela ânsia do poder e do dinheiro, cabeças jovens,
vazias e sem perspectivas, são facilmente atraídas por grupos terroristas. Em
troca de se despirem de sua humanidade, são-lhes oferecidos algum dinheiro, o
respeito de seus companheiros e uma eternidade feliz e suntuosa para suas
almas.
Enquanto
isso, as ameaças e a matança continuam, a vida segue estradas repletas de
armadilhas e o ser humano abdica de sua evolução. Coragem é palavra linda. Mas,
e as ações? E a erradicação da miséria, a atenção e carinho na formação dos
filhos? Crianças e jovens crescendo com dignidade e amor dificilmente se
tornarão joguetes em mãos terroristas.
Valores da
cultura ocidental – que o terror quer destruir – são impecáveis no papel, mas
precisam ser realmente praticados. Precisamos
agir pela ampliação da percepção de humanidade em cada um de nós. Precisamos
parar com essa bobagem de guerra na Internet pelo maior destaque para a
tragédia de Paris ou de Mariana. Precisamos aproveitar nosso precioso tempo em
ações úteis. Precisamos nos defender do terror, impor nossa humanidade e agir
pela paz, ainda que em pequenos atos.
E
precisamos, principalmente, praticar a tolerância universal e a confraternização
entre as religiões, a começar por aquelas instaladas no quarteirão de nossas
casas. Ou será que vamos continuar caminhando para o caos de olhos vendados, ao
mesmo tempo em que deixamos esquecidas para sempre as palavras de Vivekananda?