quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Armando Sendin

 

                               

                             A leveza do mar

                                                          

                         

 

As transparências, a leveza e a cor de seus óleos sempre impressionaram. E a simplicidade e cavalheirismo do pintor, também. Armando Sendin, que faleceu em 30 de julho, na Espanha, deixa uma obra que ajudou a projetar Santos nacional e internacionalmente.

Nas décadas de 60 a 90, a Cidade era fértil em produção artística de qualidade, com importantes festivais de teatro, literatura que se beneficiava do embate entre academicismo e modernismo, grupos de música erudita e corais, espetáculos amadores que rivalizavam com profissionais. Até festival de MPB tivemos e – diga-se – com excelente nível!   Vinham a Santos, consagrados pintores, atores, pianistas, cantores, compositores e humoristas, que lotavam os salões e ginásios de clubes, agitando associações culturais, produtores, jornalistas, críticos e público e interessado em cultura e entretenimento de bom nível.

Foi nesse clima que o pintor, ceramista, escultor, gravador, professor e desenhista Armando Moral Sendin optou por se mudar para a Cidade, junto com sua esposa Sita, a jovem artista que ele havia conhecido na Escola de Belas Artes, em Barcelona, Espanha. Sendin era já então um nome respeitado da arte contemporânea.

 Mas, Santos, onde havia passado alguns anos de sua infância, deixara marcas em sua memória. O mar não se faz de rogado em seu trabalho, como tema recorrente e inspirador de um clima de sonho. As figuras nas obras de Sendin surgem em atividades prosaicas ou de lazer, em um realismo perfeito, que não exclui o impressionismo. Um trabalho muito pessoal, com grande aceitação de público e crítica. O artista dominou como poucos a técnica da cerâmica, tendo sido o autor, junto com o irmão Waldemar Sendin, do painel da Biquinha de Anchieta, em São Vicente.

Armando Sendin nasceu no Rio de Janeiro, em 1928, filho de pais espanhóis, e foi com a família, ainda criança, morar naquele país. Apaixonado por arte e filosofia, estudou em importantes universidades europeias. Difícil é destacar um prêmio ou uma individual nacional ou internacional em seu longo currículo, com exposições nos Estados Unidos, França, Espanha e Japão, além de importantes espaços brasileiros, prêmios em bienais, como a Internacional de São Paulo e a de Santos – sim, Santos já teve bienal! – e obras em acervos particulares e oficiais, em todo o mundo.

Em Santos, suas individuais, na galeria do então Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, atraiam tantos admiradores que, muitas vezes, era preciso esperar um grupo sair para outro poder entrar. No final da década de 90, Sendin e Sita voltaram a residir na Espanha, em Marbella, sem nunca perderem contato com a Cidade. Nos finais de ano, muitos amigos recebiam de além-mar a arte de Sendin, em cartões de Boas Festas.

Em 7 de outubro de 2014, em noite memorável e superlotada, Sendin voltou a Santos para doar parte de seu acervo – quadros e cerâmicas – à Pinacoteca Benedicto Calixto, para fazerem parte do futuro Museu de Arte Moderna de Santos. E para a Cidade nunca esquecer que já viveu um período de ouro na cultura.