A leveza do mar
As transparências, a leveza e a cor de
seus óleos sempre impressionaram. E a simplicidade e cavalheirismo do pintor,
também. Armando Sendin, que faleceu em 30 de julho, na Espanha, deixa uma obra que
ajudou a projetar Santos nacional e internacionalmente.
Nas décadas de 60 a 90, a Cidade era
fértil em produção artística de qualidade, com importantes festivais de teatro,
literatura que se beneficiava do embate entre academicismo e modernismo, grupos
de música erudita e corais, espetáculos amadores que rivalizavam com
profissionais. Até festival de MPB tivemos e – diga-se – com excelente nível! Vinham a Santos, consagrados pintores, atores,
pianistas, cantores, compositores e humoristas, que lotavam os salões e
ginásios de clubes, agitando associações culturais, produtores, jornalistas,
críticos e público e interessado em cultura e entretenimento de bom nível.
Foi nesse clima que o pintor,
ceramista, escultor, gravador, professor e desenhista Armando Moral Sendin
optou por se mudar para a Cidade, junto com sua esposa Sita, a jovem artista
que ele havia conhecido na Escola de Belas Artes, em Barcelona, Espanha. Sendin
era já então um nome respeitado da arte contemporânea.
Mas, Santos, onde havia passado alguns anos de
sua infância, deixara marcas em sua memória. O mar não se faz de rogado em seu
trabalho, como tema recorrente e inspirador de um clima de sonho. As figuras
nas obras de Sendin surgem em atividades prosaicas ou de lazer, em um realismo
perfeito, que não exclui o impressionismo. Um trabalho muito pessoal, com
grande aceitação de público e crítica. O artista dominou como poucos a técnica
da cerâmica, tendo sido o autor, junto com o irmão Waldemar Sendin, do painel
da Biquinha de Anchieta, em São Vicente.
Armando Sendin nasceu no Rio de
Janeiro, em 1928, filho de pais espanhóis, e foi com a família, ainda criança,
morar naquele país. Apaixonado por arte e filosofia, estudou em importantes
universidades europeias. Difícil é destacar um prêmio ou uma individual
nacional ou internacional em seu longo currículo, com exposições nos Estados
Unidos, França, Espanha e Japão, além de importantes espaços brasileiros,
prêmios em bienais, como a Internacional de São Paulo e a de Santos – sim,
Santos já teve bienal! – e obras em acervos particulares e oficiais, em todo o
mundo.
Em Santos, suas individuais, na
galeria do então Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, atraiam tantos
admiradores que, muitas vezes, era preciso esperar um grupo sair para outro
poder entrar. No final da década de 90, Sendin e Sita voltaram a residir na
Espanha, em Marbella, sem nunca perderem contato com a Cidade. Nos finais de
ano, muitos amigos recebiam de além-mar a arte de Sendin, em cartões de Boas
Festas.
Em 7 de outubro de 2014, em noite
memorável e superlotada, Sendin voltou a Santos para doar parte de seu acervo –
quadros e cerâmicas – à Pinacoteca Benedicto Calixto, para fazerem parte do futuro
Museu de Arte Moderna de Santos. E para a Cidade nunca esquecer que já viveu um
período de ouro na cultura.