quarta-feira, 13 de julho de 2011

Falta um Festival

   Aqui, crônica publicada no jornal "A Tribuna", de Santos, na seção "Tribuna Livre", em 13/07/2011.


                           Pouca cultura, muito frio


Sesc, Pinacoteca Benedicto Calixto, Secretaria de Cultura de Santos. Três entidades que vêm contribuindo, cada uma à sua maneira, para oferecer um pouco de arte à população santista. Será suficiente? Definitivamente, não! Principalmente em meses de férias, como este frio julho.

É nesta época que a Cidade recebe maior número de visitantes, oportunidade das melhores para colocar na vitrine seu amor à cultura. É repetitivo, mas não dá para esquecer o quanto Santos contribuiu para a arte brasileira, quantos nomes importantes do setor despontaram aqui, quantos festivais, eventos e outras iniciativas atraíram os olhares de brasileiros de todas as regiões e fartaram o público com sua arte de alto calibre.

E agora? Infelizmente, parece faltar empenho para aglutinar o que acontece na área cultural. E também para incrementar essa agenda com espetáculos patrocinados por outras entidades e fundações particulares e pelo Governo Estadual. Afinal, Santos não é cidade turística? Não estamos em mês de férias? Não recebemos mais visitantes? Com frio na praia, restam shoppings, cinemas e festas julinas estilizadas.

Bem pouco! Santos merecia programação elaborada em forma de festival, com atrações diversificadas, reunindo as mais variadas expressões artísticas. Da música erudita e popular às artes visuais, do teatro à dança, enfim, tudo o que fosse de boa qualidade e atraísse o público.

Infelizmente, no quesito atração do público, um grande obstáculo é a falta de divulgação. Coisas muito boas, de qualidade, são muitas vezes oferecidas a salas vazias. Falta interesse? Sem dúvida, mas há uma boa parcela de santistas e turistas que não são informados sobre o que Santos tem a lhes oferecer.

Daí, as salas vazias, às vezes acarretando vexames, como um grande artista nacional ou internacional sem ninguém para aplaudi-lo. Falta o quê? Dinheiro para ingresso? Muitos excelentes espetáculos são gratuitos ou têm preços irrisórios. Oportunidade? É só fazer a divulgação correta, que a plateia aparece. Mentalidade superficial da população, diferente do público de algumas décadas atrás? Motivemos as pessoas, prometendo-lhes programas que as façam sonhar e, paralelamente, pensar.

Às entidades públicas e privadas que tentam cumprir seu papel, poderiam se juntar outras, num grande esforço para a realização de evento de férias com repercussão estadual e nacional. Em alguns casos, bastam contatos com pessoas certas para acrescentar ao programa iniciativas isoladas; em outros, esses contatos precisam ser feitos para que mais e melhores atrações cheguem à Cidade.

É preciso unir o que de bom os artistas de Santos produzem com o que vem de fora. É preciso divulgar e prestigiar o que acontece nos teatros Guarany, Municipal e Coliseu. O que há para ser visto, por exemplo, nas ricas programações do Sesc e da Pinacoteca. Filtrar o melhor dos espetáculos populares, para muitos, e dos programas onde o intelecto é exigido, para menos.

Não queremos atrair turistas? Não pretendemos oferecer muito mais aos santistas? Para isso não podemos ser a Cidade que deixou morrer o Festival Música Nova. Para isso, são necessárias verbas oficiais e apoio de quem tem dinheiro para investir em arte. Então, mãos à obra. Comecemos já a trabalhar por esses objetivos. Julho está passando, pouco mais pode ser feito, a não ser divulgar o que já está programado. Mas as férias de verão não demoram. E aí? Praia, shopping e cinema, como sempre. Nada mais?

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tango e tambores

Dois excelentes espetáculos no último fim de semana tiveram casa lotada, o que confirma o já sabido: é só oferecer coisa boa, que o público comparece. E, principalmente, a precinhos altamente convidativos! Estou falando do Sesc, essa entidade à qual o Brasil em geral e Santos em particular devem muito na área de arte e cultura. Promotor, gerenciador e patrocinador de espetáculos de nível, o Sesc - o Sesi também - garante o acesso do público à arte bem feita, inclusive a espetáculos contemporâneos e até experimentais.
Nos últimos dias 8 e 9, uma plateia lotada e entusiasmada aplaudiu, respectivamente, o tango do grupo Lo Mejor Del Tango e o ritmo do grupo Taiko Wadaiko Sho. Lo Mejor Del Tango reúne argentinos e uruguaios e tem como grande estrela a cantora Susana Di Karlo, comunicativa e simpática, interagindo com instrumentistas e dançarinos de nível. Já o Taiko Wadaiko conseguiu também uma execlente comunicação com a plateia, utilizando apenas mímica, simpatia e um extraordinário ritmo nos tambores. Ambos os grupos levam de Santos ótimas lembranças, graças ao calor do público.
Por isso afirmo: não vale a pena promover e divulgar Santos para o turismo brasileiro como uma cidade onde bons espetáculos podem ser vistos?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pura barbárie

Comentário rápido, apenas para expressar o horror e a decepção com o ser humano: no povoado de Piargaon, distrito de Sunamjanj, no interior do nordeste de Bangladesh, uma mulher jovem foi intencionalmente queimada, enquanto dormia. Horror dos horrores: com ela dormiam seus dois filhos, de 3 e 5 anos. Sobre os três, foi atirado querosone e, em seguida, o fogo. As crianças morreram na hora e a mulher, Sabiha Begun, agoniza em um hospital em cidade próxima a Piargaon.
Quem socorreu as vítimas? Os vizinhos, atraídos pelos gritos de dor e que ,incrédulos, ainda tentaram salvar os três.O marido? Trabalhando em outro país, no Kuwait.  Os autores do crime? A família do marido de Sabiha - pai, irmão e irmã.O motivo? A família de Sabiha ainda não havia pago o dote de casamento.
Esse costume antigo, do dote a ser pago pela família da noiva, parece que foi abolido em Bangladesh, mas, no interior do país, nos povoados mais atrasados, ainda é levado muito a sério, podendo resultar em tragédias como esta.
Os três assassinos foram presos e o mínimo que a comunidade internacional espera é que paguem à altura pelo crime hediondo. Ou será que, em nome de tradições infames, vão abafar o caso? E, mais uma vez, mulher e crianças se transformarão em vítimas fatais, indefesas e sem qualquer valor? ´
É uma pena, lamentável que o ser humano, em muitos casos, ainda não tenha saído da barbárie. Assim como no Brasil se incendeiam mendigos, em Bangladesh se atira fogo em uma família. Motivos? Os mais torpes possíveis, de puro divertimento dos incendiários, a dinheiro amaldiçoado. Quando poderemos falar, realmente, em evolução humana? 

domingo, 3 de julho de 2011

Mais uma incômoda "Cãominhada"

Felizmente, a chuva deu uma mãozinha e a tal "Cãominhada" ficou reduzida aos fanáticos e aos que gastaram dinheiro nos pet shops da vida para enfeitar seus amigos caninos. Dessa forma, as duas pistas da praia - como sempre, totalmente interditadas ao trânsito - não foram tomadas pela multidão de humanos e animais, permitindo que a festa acabasse mais cedo e que os moradores da avenida da praia, com seus veículos "ilhados" nas garagens, pudessem sair devagarzinho, sem risco de causar acidentes ou de serem linchados pelos orgulhosos donos de cãezinhos.
Não é exagero! Isso vem acontecendo todos os anos por ocasião desse evento, deixando moradores da praia, entre Av. Conselheiro Nébias e Canal 6, com os nervos à flor da pele. Sim, porque além de todo o transtorno de se sentirem isolados - correndo o risco de não poderem ser atendidos em situação de emergência, como doença e incêndio - ainda são obrigados a ouvir as palavras de ordem do animador da "festa" e a música, no mais alto volume, sem contar os latidos dos estressados cachorros, que parecem perdidos no meio de tanta gente e tantos outros indivíduos de sua espécie.
Sim, há, como sempre, o lado positivo, com atendimento veterinário aos animais participantes do evento, recolhimento de ração para animais abandonados e até embelezamento dos cachorros, o chamado "tapa no visual".
Mas, será que compensa? Paralisa-se literalmente uma cidade - as ruas próximas à avenida da praia apresentam congestionamentos monstros - para que os cachorros sejam exibidos, com suas roupas e acessórios que chegam a ser ridículos. E que devem incomodar sobremaneira os bichinhos! Está certo tudo isso?
Eu sou contra. Acho o local inadequado e acho, também, que, apesar da movimentação de dinheiro gerada pela "Cãominhada", beneficiando pet shops, veterinários, empresas e publicitários, essa quantia poderia ser melhos utilizada. Como disse o zelador do meu prédio, em sua filosofia simples: "Não fariam melhor se, em vez de cães, fizessem tudo isso para crianças que passam necessidades"?