Crônica publicada no último dia 24, na seção "Tribuna Livre", do jornal "A Tribuna"
O Papai Noel
baterista
Todos orgulhosos, os dois meninos
mostravam às visitas a Árvore de Natal que haviam ajudado a decorar. Mas, o
mais velhinho logo apontou para os Papais Noéis de brinquedo perfilados em
baixo da árvore: “Este, que tocava bateria, não toca mais”! E o menorzinho,
igualmente pesaroso: “É, quebrou”! Os visitantes procuraram consolar os pequenos,
mas logo o assunto foi esquecido.
Menos pelos dois anjos da guarda dos meninos,
que, agora, tinham uma preocupação: não deixar os pequenos – que não
acreditavam em Papai Noel de verdade – ficarem tristes com o brinquedo que não
mais tocava bateria. O anjo um pouco maior e já mais realista tentava explicar
ao menor que, há muito, a humanidade deixara de acreditar em Papai Noel. E –
pior! – deixara também de se importar com os valores que a época colocava em
evidência, como amor e fraternidade.
Eles mesmos,
anjos-crianças, sabiam que Papai Noel não existe. Mas queriam ajudar seus
protegidos, e decidiram que iam fazer os meninos sonhar o mesmo sonho. Juntos,
os quatro voaram pela Terra, às vezes encantados com a beleza de luzes e paisagens,
outras, tristes pela realidade de devastação e miséria. Queriam proporcionar
uma noite divertida aos meninos, porém a realidade se sobrepunha: eram muitos
os contrastes de vida e de sentimentos.
Mas, alguma
coisa estava diferente. A noite estava mais iluminada, havia música subindo da
Terra e várias pessoas usando roupa vermelha, com barba branca e carregando um
saco às costas. Eles conheciam a figura, mas, como não acreditavam, nunca
tinham visto Papai Noel de verdade. Meninos e anjos foram se aproximando das
pessoas e constatando a alegria que aquelas figuras de vermelho causavam não só
em crianças, mas também em adultos.
Havia Papais Noéis de todos os tipos, vestidos
de cetim ou veludo vermelho, distribuindo presentes em ambientes ricamente
decorados, e também havia outros, usando tecidos simples de vermelho já
desbotado, mas igualmente distribuindo doces, brinquedos baratos e esperança em
lugares feios e tristes.
Estavam tão distraídos,
que nem notaram a aproximação de um trenó puxado por renas, deslocando-se no
ar. Só quando foram saudados pela figura de vermelho, perceberam que, pela
primeira vez, estavam vendo Papai Noel. Que, aliás, não se fez de rogado, e
logo foi mostrando como o Natal transforma boa parte da humanidade. Crianças
tristes e solitárias estavam felizes com seus ricos ou pobres brinquedos;
adultos acabrunhados abriam seus corações à esperança de receber saúde, amor e
felicidade. “É Noite de Natal, quando as pessoas se recordam da mensagem de paz
e amor trazida à Terra por um Ser Iluminado, há 2019 anos. É quando o mal é suplantado
pelo bem, em inúmeros corações”.
Mas,
crianças e anjos só tinham uma pergunta: então, Papai Noel existe?! “Sim, para
muitas crianças. Os outros dizem que não há Papai Noel, mas, no fundo, nunca se
sabe... O Natal é mágico”! E, todo animado, propôs uma festa para celebrar o
Natal. Todos concordaram e Papai Noel foi logo assumindo as baquetas de uma...
reluzente bateria! Foi assim que a música da Noite de Natal rolou animada até o
amanhecer.
Quando acordaram, os meninos correram para ver
o Papai Noel baterista, em baixo da Árvore de Natal. Mas, ele continuava lá,
quietinho, ao lado dos outros brinquedos. Compreenderam que tinha sido uma
noite de fantasia, para celebrar o amor. Voando por sobre eles, os dois
anjinhos da guarda piscaram, felizes, um para o outro.