As duas máscaras
Há um símbolo artístico, que traduz
muito bem as emoções humanas: as duas máscaras teatrais. Colocando entrelaçados
o riso e o choro, a alegria e a tristeza, não poderia ser mais adequado aos
dias que estamos vivendo. Não há consenso sobre a origem da palavra máscara: do
latim “masca”, ou seja, fantasma; do hebraico “masecha”, zombaria, ou do árabe
“maskhara”, palhaço. Mas, os três estão muito próximos da nossa realidade.
Enquanto uma parte da população já
vive o Carnaval, atirando-se na folia das bandas, ensaiando para seguir os
trios elétricos, preparando a fantasia para desfilar na avenida e comprando
máscaras – sempre elas! – que reproduzem personagens famosos, outra parte ainda
chora as tragédias-2019, uma triste marca deste início de ano.
Na verdade,
a história das máscaras sempre esteve ligada às emoções. Na commedia dell´arte,
com as paixões, dramas e alegrias de Arlequins, Colombinas e Pierrôs; no Carnaval
veneziano; nos rituais fúnebres; nas danças de sociedades milenares integradas
à natureza; em eventos sociais e ajudando a compor fantasias de Carnaval, que
liberam criatividade e sentimentos.
São máscaras
de dor e riso assumidas não só física, como emocionalmente. Ou serão mesmo autênticos
o desconsolo e a tristeza demonstrados na mídia por responsáveis pelas recentes
tragédias? E será sincero o conformismo de algumas vítimas?
Em meio à
dor profunda, chegam a defender seus algozes, alegando que não havia como
prever o colapso, a enchente ou o fogo. E, até, que as instalações destruídas e
arrasadas, eram “de primeiro mundo”! São as máscaras afiveladas por quem
gostaria de gritar sua revolta, mas prefere se calar, temendo futuras
consequências e, até, na expectativa de recompensas.
Estes são os
fantasmas que vagam com máscaras, a disfarçar suas verdadeiras emoções. Os
outros, quando em público, não se esquecem de usar a máscara da dor, quando, na
verdade, estão zombando de uma Nação. E nós somos os palhaços – no mau sentido
–, que usamos a máscara da indignação, mas sabemos, perfeitamente, que pouco ou
nada será mudado e que as tragédias continuarão se sucedendo.
E, como é
Carnaval, vamos escolhendo as mais bonitas e coloridas máscaras da alegria, da
cor, da música. É tempo de rir para a Folia, de pular e sambar até “cair no
chão”, ou, até, de organizar, sorridentes, aquela viagem, em que descansaremos
junto à natureza e nos divertiremos com nossas famílias.
O medo que
sentimos da violência, dos bêbados e drogados, dos acidentes de trânsito, da
irresponsabilidade, é escondido por nossas máscaras. Continua no ar o clima
pesado da tragédia. Pensamos na brevidade e fragilidade da vida quando
lembramos da partida repentina de famoso jornalista.
Sofremos,
mas temos que demonstrar ao mundo outro tipo de sentimento. E nos esquecemos de
que a vida é um palco, onde as duas máscaras têm peso igual. E, com nossa
máscara de indiferença, damos adeus à grande dama do teatro, que durante sua
longa vida soube sempre interpretar com equidade as duas emoções.
É Carnaval!
Arlequins, Pierrôs, Colombinas e, principalmente, palhaços coloridos estão nas
ruas. A máscara é a do riso. Porém, entrelaçada e intimamente ligada a ela,
está a máscara por onde escorrem nossas lágrimas!