sábado, 2 de março de 2019

Rir e chorar





                         As duas máscaras

                                                                       

            Há um símbolo artístico, que traduz muito bem as emoções humanas: as duas máscaras teatrais. Colocando entrelaçados o riso e o choro, a alegria e a tristeza, não poderia ser mais adequado aos dias que estamos vivendo. Não há consenso sobre a origem da palavra máscara: do latim “masca”, ou seja, fantasma; do hebraico “masecha”, zombaria, ou do árabe “maskhara”, palhaço. Mas, os três estão muito próximos da nossa realidade.

            Enquanto uma parte da população já vive o Carnaval, atirando-se na folia das bandas, ensaiando para seguir os trios elétricos, preparando a fantasia para desfilar na avenida e comprando máscaras – sempre elas! – que reproduzem personagens famosos, outra parte ainda chora as tragédias-2019, uma triste marca deste início de ano.

            Na verdade, a história das máscaras sempre esteve ligada às emoções. Na commedia dell´arte, com as paixões, dramas e alegrias de Arlequins, Colombinas e Pierrôs; no Carnaval veneziano; nos rituais fúnebres; nas danças de sociedades milenares integradas à natureza; em eventos sociais e ajudando a compor fantasias de Carnaval, que liberam criatividade e sentimentos.

            São máscaras de dor e riso assumidas não só física, como emocionalmente. Ou serão mesmo autênticos o desconsolo e a tristeza demonstrados na mídia por responsáveis pelas recentes tragédias? E será sincero o conformismo de algumas vítimas?

            Em meio à dor profunda, chegam a defender seus algozes, alegando que não havia como prever o colapso, a enchente ou o fogo. E, até, que as instalações destruídas e arrasadas, eram “de primeiro mundo”! São as máscaras afiveladas por quem gostaria de gritar sua revolta, mas prefere se calar, temendo futuras consequências e, até, na expectativa de recompensas.

            Estes são os fantasmas que vagam com máscaras, a disfarçar suas verdadeiras emoções. Os outros, quando em público, não se esquecem de usar a máscara da dor, quando, na verdade, estão zombando de uma Nação. E nós somos os palhaços – no mau sentido –, que usamos a máscara da indignação, mas sabemos, perfeitamente, que pouco ou nada será mudado e que as tragédias continuarão se sucedendo.

            E, como é Carnaval, vamos escolhendo as mais bonitas e coloridas máscaras da alegria, da cor, da música. É tempo de rir para a Folia, de pular e sambar até “cair no chão”, ou, até, de organizar, sorridentes, aquela viagem, em que descansaremos junto à natureza e nos divertiremos com nossas famílias.

            O medo que sentimos da violência, dos bêbados e drogados, dos acidentes de trânsito, da irresponsabilidade, é escondido por nossas máscaras. Continua no ar o clima pesado da tragédia. Pensamos na brevidade e fragilidade da vida quando lembramos da partida repentina de famoso jornalista.

            Sofremos, mas temos que demonstrar ao mundo outro tipo de sentimento. E nos esquecemos de que a vida é um palco, onde as duas máscaras têm peso igual. E, com nossa máscara de indiferença, damos adeus à grande dama do teatro, que durante sua longa vida soube sempre interpretar com equidade as duas emoções.

            É Carnaval! Arlequins, Pierrôs, Colombinas e, principalmente, palhaços coloridos estão nas ruas. A máscara é a do riso. Porém, entrelaçada e intimamente ligada a ela, está a máscara por onde escorrem nossas lágrimas!