sexta-feira, 23 de abril de 2010

Benedicto Calixto

Aqui vai uma reflexão que escrevi há algum tempo, sobre a importância da obra do pintor Benedicto Calixto. Foi publicada na revista “Depois da Cena”, lançada por “A Tribuna” em março de 2008.

O retratista do mar

Um fiel e apaixonado retratista do mar e das belezas de Santos e região. Talvez seja essa a melhor definição de Benedicto Calixto de Jesus, pintor que adotou esta terra como tema e obteve reconhecimento nacional e internacional do seu trabalho. Nos dias atuais, Benedicto Calixto seria provavelmente chamado de “embaixador santista”, tão recorrentes foram seus temas a focalizar belos aspectos da Cidade.

Calixto soube registrar com técnica e sensibilidade o período da passagem do século XIX para o século XX. Por isso, diz um verso que “de cada janela que se abre em Santos vê-se uma tela de Calixto”. Hoje em dia, claro, com muitas diferenças entre obra e “modelo”. A paisagem se modificou, o progresso foi implacável. A beleza às vezes serena, outras explosiva e selvagem das cenas pintadas por Calixto foi alterada. Vieram as construções, a deterioração, poluição.

Embora esses fatores não tenham conseguido arruinar totalmente a cena santista, não se pode negar que, ao contemplar um trabalho do pintor, o observador sente certa nostalgia, um quê de saudade. Mas, ao olhar bem devagar, com bons olhos, minimiza essa saudade e mata a curiosidade sobre o passado não assim tão distante. São quadros que contam um pouco das nossas raízes e da nossa História, não tivesse Calixto sido também professor, pesquisador e historiador.

A extensa obra de Benedicto Calixto não se restringiu à natureza e à paisagem. Ele deixou para a posteridade retratos, cenas do cotidiano, o embarque do café, a vida, as cerimônias religiosas, o combate às doenças infecciosas, o lazer simples, o trabalho. E, também, as construções, os trajes da época, ou seja, um panorama muito rico do seu tempo.

Até hoje se discute o seu estilo: acadêmico, realista, naturalista. Alguns críticos dizem até ter sido Calixto um precursor do naif. E há os que apontam influências européias em sua obra, resultado de sua não muito longa temporada em Paris. Ao lado de Almeida Jr. e Pedro Alexandrino, formou a tríade de pintores que reuniam as principais tendências da pintura paulista de sua época. Ao redor de seu trabalho, uma única unanimidade: ele foi um criativo pintor que nunca se cansou de mostrar o Brasil.

Com a mesma sensibilidade com que retratou o mar e o litoral, pôs em suas telas outras paisagens brasileiras, o interior, seus personagens, seu clima. Há trabalhos de Benedicto Calixto em acervos oficiais e coleções particulares de todo o Brasil. Várias vezes premiado em sua carreira, no País e no exterior, participou de salões de arte e dedicou-se também à decoração e murais em igrejas do interior paulista. Pela precisão dos detalhes, às suas obras é atribuído valor iconográfico.

Santos preserva e divulga sua obra principalmente por meio da Pinacoteca Benedicto Calixto, o belo casarão branco de frente para o mar do Boqueirão. Afinal, o pintor foi um caiçara de Itanhaém, nascido em 14 de outubro de 1853, criado à beira-mar, que guardou sempre na alma, até sua morte em São Paulo, em 31 de maio de 1927, o fascínio e mistério das ondas, a solidão das praias e a beleza da paisagem marítima.

Onde ver: Pinacoteca Benedicto Calixto, Av. Bartolomeu de Gusmão, 15, Boqueirão, tel. 3288-2260. De terça-feira a domingo, das 14 às 19 horas. Entrada franca.

Prefeitura Municipal de Santos, Praça Mauá, s/n, Centro, tel. 3201-5000. De segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas.

Museu dos Cafés do Brasil (Bolsa Oficial de Café), Rua XV de Novembro, esquina de Rua Frei Gaspar, Centro. Sábados, das 9 às 17 horas; domingos, 10 às 17 horas.

Conjunto do Carmo, Praça Barão do Rio Branco, s/n, Centro, tel. 3261-2793. Verificar disponibilidade de horários.

Catedral de Santos, Praça José Bonifácio, s/n, Centro, tel. 3232-4593. Verificar disponibilidade de horários.

Obs. – Obras de Benedicto Calixto fazem parte do acervo de diversas outras entidades santistas. Informações na Pinacoteca Benedicto Calixto.