domingo, 27 de dezembro de 2020

Natal e Ano Novo

 

                                   "Espírito de Réveillon”


          "O que é  Espírito de Natal para você?” Se essa pergunta fosse feita a pessoas sem distinção de raça ou sexo, de todas as idades, crenças (ou descrenças) religiosas, níveis cultural e econômico, honradas ou bandidas, felizes ou amarguradas, as respostas seriam variadas, mas não se afastariam muito do denominador comum: “É o tempo da felicidade”.

            E quantos sentimentos e atitudes cabem no Espírito de Natal! Começando pelo sentimento maior, o amor, que origina a bondade, a solidariedade, o domínio da raiva e do rancor, o respeito, a alegria, os desejos de saúde, sucesso e paz autêntica para a humanidade. Passando pela vontade de ajudar todos que sofrem e desembocando na recordação da mensagem deixada pelo Aniversariante da época, de amor e retidão acima de tudo.

            Este Natal de 2020 não perdeu o seu Espírito, mas não se pode negar que foi mais triste. Culpa da pandemia, que levou incontáveis e preciosas vidas, trouxe dificuldades financeiras, impossibilitou beijos e abraços nas pessoas queridas – nem as crianças puderam abraçar Papai Noel! – e deixou as cidades mais tristes, com o preto e branco substituindo as cores das luzes e dos enfeites.

            E o “Espírito de Réveillon”, como será? Também mais triste, sem os coloridos fogos de artifício para saudar 2021. Sem as comemorações de rua, sem muito da alegria que tradicionalmente, nessa noite, insiste em invadir os corações das pessoas, naquela inexplicável esperança da chegada de tempos melhores.

            Mas, é essa ansiedade pelo bom e pelo alegre que vai nos manter em movimento. Que nos vai fazer seguir em frente. É o Espírito de Natal que vai sobreviver no “Espírito de Réveillon”. À exceção de pessoas passando por períodos excepcionalmente adversos, é da natureza humana buscar o melhor. Esperar a vitória sobre a doença, seja de que maneira for, venha mais célere ou mais lenta.

            E, se fôssemos mais espertos, o Réveillon significaria não apenas promessas de Ano Novo, mas o início de um tempo que perpetuaria o tripé do verdadeiro Espírito de Natal: amor, retidão de conduta e combate ao sofrimento. Então, voltaríamos a anotar e nos inspirar em gestos de bondade e solidariedade. Combateríamos, com todas as armas disponíveis, a mentira e a maldade.

            Quem tem o poder nas mãos deixaria de se preocupar apenas em mantê-lo, passando a cuidar mais da população pela qual é responsável, diminuindo a miséria, a fome, a violência e o sofrimento. Os anjos do Natal voltariam a povoar os sonhos dos meninos. As luzes coloridas tornariam a se acender. A música – ainda que não fosse a de Natal – fluiria no ar, penetrando nas casas, nos hospitais e nos corações.

            E, quando pudéssemos voltar a nos abraçar, quem sabe, olhando para o céu, teríamos a impressão de ver uma figura de vermelho, dirigindo um trenó puxado por renas e sorrindo com seu infalível “Ho! Ho! Ho!”  Mas, no lugar dos presentes, estariam mais amor, honestidade e felicidade sendo derramados sobre a multidão. 


(Crônica publicada em 27/12/2020, na seção "Tribuna Livre", do jornal "A Tribuna")