"Espírito de Réveillon”
E quantos
sentimentos e atitudes cabem no Espírito de Natal! Começando pelo sentimento
maior, o amor, que origina a bondade, a solidariedade, o domínio da raiva e do
rancor, o respeito, a alegria, os desejos de saúde, sucesso e paz autêntica
para a humanidade. Passando pela vontade de ajudar todos que sofrem e
desembocando na recordação da mensagem deixada pelo Aniversariante da época, de
amor e retidão acima de tudo.
Este Natal
de 2020 não perdeu o seu Espírito, mas não se pode negar que foi mais triste.
Culpa da pandemia, que levou incontáveis e preciosas vidas, trouxe dificuldades
financeiras, impossibilitou beijos e abraços nas pessoas queridas – nem as
crianças puderam abraçar Papai Noel! – e deixou as cidades mais tristes, com o
preto e branco substituindo as cores das luzes e dos enfeites.
E o
“Espírito de Réveillon”, como será? Também mais triste, sem os coloridos fogos
de artifício para saudar 2021. Sem as comemorações de rua, sem muito da alegria
que tradicionalmente, nessa noite, insiste em invadir os corações das pessoas,
naquela inexplicável esperança da chegada de tempos melhores.
Mas, é essa
ansiedade pelo bom e pelo alegre que vai nos manter em movimento. Que nos vai
fazer seguir em frente. É o Espírito de Natal que vai sobreviver no “Espírito
de Réveillon”. À exceção de pessoas passando por períodos excepcionalmente
adversos, é da natureza humana buscar o melhor. Esperar a vitória sobre a
doença, seja de que maneira for, venha mais célere ou mais lenta.
E, se
fôssemos mais espertos, o Réveillon significaria não apenas promessas de Ano
Novo, mas o início de um tempo que perpetuaria o tripé do verdadeiro Espírito
de Natal: amor, retidão de conduta e combate ao sofrimento. Então, voltaríamos
a anotar e nos inspirar em gestos de bondade e solidariedade. Combateríamos,
com todas as armas disponíveis, a mentira e a maldade.
Quem tem o poder
nas mãos deixaria de se preocupar apenas em mantê-lo, passando a cuidar mais da
população pela qual é responsável, diminuindo a miséria, a fome, a violência e
o sofrimento. Os anjos do Natal voltariam a povoar os sonhos dos meninos. As
luzes coloridas tornariam a se acender. A música – ainda que não fosse a de
Natal – fluiria no ar, penetrando nas casas, nos hospitais e nos corações.
E, quando pudéssemos voltar a nos abraçar, quem sabe, olhando para o céu, teríamos a impressão de ver uma figura de vermelho, dirigindo um trenó puxado por renas e sorrindo com seu infalível “Ho! Ho! Ho!” Mas, no lugar dos presentes, estariam mais amor, honestidade e felicidade sendo derramados sobre a multidão.
(Crônica publicada em 27/12/2020, na seção "Tribuna Livre", do jornal "A Tribuna")