terça-feira, 29 de março de 2011
Um homem chamado Coragem
terça-feira, 22 de março de 2011
O bonde da evolução
Envio de toda a ajuda possível, material, tecnológica, psicológica e muito mais. Nada de se pensar em guerras, revoluções, ataques pró ou contra governos ou ditaduras. Enfim, seria tempo de o mundo se unir em prol do Japão, se não por outro motivo, pelo simples fato de sermos todos pertencentes à raça humana. Mas, não! Não foi o que aconteceu.
O Japão sofre, o mundo tem medo da ameaça nuclear, mas não se intimida em provocar novas guerras, batalhas, conflitos, mais mortes, mais sofrimento! Não julgo méritos de guerras, não discuto quem está com ou sem razão, não nego que a miséria pode, sim, levar à revolta justificada. Mas, não seria possível ao ser humano se esquecer um pouco de seu próprio umbigo, tentar solucionar seus problemas com paz e dignidade, pedir auxílio a outros que pensam e agem pacificamente?
Sim, é utópico querer que nossa raça tome esse tipo de atitude. É mais fácil encontrar na Internet imagens de bichos tradicionalmente inimigos se apoiando, se ajudando, se acariciando. Nós, homens, com nossa brilhante inteligência, somos muito orgulhosos para isso. Criamos mil desculpas para a violência. E não percebemos que, ao agir assim, por fazermos parte de um todo, de um corpo único, que é a humanidade, estamos nos prejudicando, atrasando, perdendo o bonde da evolução e sendo menores do que o cachorro e o gato que brincam juntos e mutuamente se protegem.
sexta-feira, 11 de março de 2011
Mulher
Em vez de flores, dignidade
De bom grado eu trocaria todas as homenagens que se fazem às mulheres, no dia internacionalmente a elas dedicado, por um pouco de paz às que fogem da guerra; por respeito às que são tratadas como lixo; por um mínimo de segurança às que são obrigadas a andar pelas ruas ou permanecer em suas casas sempre assombradas pela possibilidade de serem atacadas.
Ah! Eu trocaria as belas flores enviadas com carinho às mulheres, por comida para as que não têm como se alimentar, nem a seus filhos; as belas palavras dos discursos dos governantes, por assistência médica às que estão morrendo sem possibilidades materiais de buscar ajuda; a publicidade da data, por amparo real às que querem se ver livres das drogas e dos traficantes.
Eu trocaria, sim, presentes e jóias, por um olhar com mais dignidade às mulheres; paetês, por uma sociedade que desse menos valor a seios e glúteos e mais valia a caráter e personalidade; falsa compaixão, por um sistema de recuperação real das condenadas; esmolas, por condições de sobrevivência digna às mulheres chefes de família.
Se eu pudesse, trocaria discursos em louvor ao feminino, por trabalho duro para tirar das ruas e das estradas tantas meninas, jovens e idosas que também trocam seus corpos por um prato de comida ou por “uma pedra falsa, um sonho de valsa ou um corte de cetim”.
Até um jantar à luz de velas seria trocado com satisfação por reconhecimento à capacidade e ao trabalho estafante de executivas com filhos, maridos e casas para cuidar; e o que dizer de e-mails e cartões de felicitações, se pudessem ser trocados por salários mais justos para médicas, dentistas, enfermeiras, advogadas, arquitetas, balconistas e tantas outras profissionais?
Não poderíamos trocar simples cumprimentos às nossas empregadas domésticas por um gostoso abraço e um muito obrigado do fundo dos nossos corações? Sem dúvida, eu trocaria honrarias, por uma plena aplicação, em nosso País, da Lei Maria da Penha, e, no exterior, pela execração de leis pseudo-religiosas ou pseudopolíticas, capazes de levar uma mulher às piores circunstâncias de cárcere e morte.
Só não abriria mão de trocar as homenagens a todas as mulheres que, na história da humanidade, deixaram sua marca na luta por condições melhores para suas irmãs, pelo fim do preconceito, pela diminuição da miséria moral e material, pela tentativa de transformar homens e mulheres em seres melhores. Essas guerreiras, santas, mártires, heroínas, merecem ser homenageadas não em um único dia, mas sempre.
Assim como merecem, sim, carinhos, flores, abraços e mimos todas as mulheres de coração largo, que não se deixam contaminar pelo lado escuro da alma humana. E, se homens simples ou cultos, mas também sábios, souberem contribuir para diminuir o sofrimento de tantas mulheres, então, todos juntos, comemoraremos o Dia Internacional do Ser Humano. Sem precisar trocar por qualquer outra coisa, flores e carinhos que, convenhamos, nós, mulheres, adoramos!
sábado, 5 de março de 2011
Conto de Carnaval
Um conto bem a propósito da data. Inspirei-me em histórias de pessoas que têm medo de palhaços. Medo estranho, sem dúvida, mas cada um tem direito de ter o medo que quiser. Ou de que não pode se livrar. Divirtam-se!
Bendita coulrofobia!
A chuva lhe escorria pelo rosto, não mais forte do que as grossas lágrimas que teimavam em misturar-se às gotas d´água. Não conseguia evitar a íntima ironia: água doce do céu carrancudo somada à água salgada de um coração ainda mais sombrio. Na verdade, ainda não atinava com o motivo de estar ali, sentada naquela arquibancada, onde todos pareciam explodir de felicidade.
A chuva pesada não impedia que aqueles milhares de rostos se iluminassem e sorrissem a cada colorida fantasia, a cada bela mulher seminua, a cada samba bem marcado. Passistas, baterias, carros alegóricos capazes de fazer inveja, por sua beleza e riqueza, ao Rei de Sião. Seria lindo – e sempre fora, ao longo dos anos – se, naquela noite, ela não se sentisse tão insignificante quanto serpentinas molhadas e pisoteadas pela multidão.
Colados a seu corpo e suas roupas, confetes que já haviam tido cores brilhantes formavam agora uma espécie de massa disforme e sem cor. Olhou para os lados, viu as amigas de toda a vida pulando, cantando, batucando, azarando. Vez ou outra tentavam fazê-la reagir, o que a deixava ainda mais magoada. Ou raivosa, já nem sabia distinguir seus sentimentos.
O samba era cada vez mais ritmado, e ela fazia um balanço de sua vida. Desempregada, sem apoio de pai e mãe, sem irmãos, de mudança para um quartinho de favor e abandonada por seu grande amor. Para coroar o desfile de desgraças, fortemente gripada, com febra, a caminho de uma pneumonia.
O que fazia, então, na arquibancada do desfile? Por que não ouvira a razão e ficara em casa, remoendo a tristeza? As amigas, sim, a haviam influenciado, quase intimado a ir. Ou seria uma espécie de tradição, daquelas impossíveis de quebrar? Como tinham sido bons todos aqueles anos! Ao lado da grande paixão, trocando carícias e beijos e sendo zoados pelo grupo. Podiam se considerar, com os namorados, maridos e filhos das amigas, uma grande família.
E como era bom assistir aos desfiles, cantar bem alto, dançar, gritar, torcer pelos prediletos! Aquilo era alegria em sua melhor expressão. A essência da felicidade. Ela não contava com o reverso. Que veio avassalador, uma espécie de bola de neve arrasando tudo em seu caminho. A separação e mudança dos pais, a dispensa do emprego estável da firma em dificuldades financeiras.
Sem dinheiro, sem parentes na cidade grande, só lhe restaram o grande amor e as amigas. Foram estas que a socorreram quando teve que deixar o apartamento por não poder pagar o aluguel. Arrumaram o pequeno quarto na casa de uma avó, onde ela deu graças aos céus por não ter que ir para a rua. E tinha a grande paixão, a força que, apesar de tudo, a sustentava.
Com carícias e promessas de ficarem juntos, superando todas as dificuldades, ela conseguia dormir feliz, enquanto, durante o dia, aceitava pequenos trabalhos e buscava com garra um novo emprego. Carnaval se aproximando, ela economizando para assistir ao desfile junto com os amigos e o grande amor. Até que, bem antes da Quarta-Feira, a grande paixão virou Cinzas.
Falta de sintonia, relação desgastada e uma série de desculpas das quais ela nem queria se lembrar. E ele partiu, sem um carinho, um beijo de despedida, sem nem olhar para trás. Para ela, mundo desabado. Reagir à tristeza, não podia. E nem queria. Soube depois, por proposital indiscrição dos amigos, que ele não curtia mulher sem emprego e sem dinheiro.
Por que, então, estava ali? O pensamento recorrente na cabeça que estalava de dor, não a deixava raciocinar. Teve que fazer esforço para entender o que uma das amigas lhe dizia ao ouvido: alguém estava muito intrigado com a tristeza dela, gostaria de lhe falar, se aproximar, ver alegria naqueles olhos molhados. Ela gostaria?
Em meio a um acesso de tosse e já quase sem forças para decidir qualquer coisa, concordou com um aceno de cabeça. A amiga sorriu e apontou para o outro lado. Ali, bem pertinho de seu rosto, com os olhos brilhando de excitação, estava... um enorme palhaço.
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Ela acordou no hospital, o barulho das baterias substituído por um silêncio quase absoluto. Enxuta, quentinha embaixo das cobertas, sem pensar, sem sofrer. Paz tomando conta de seu corpo e mente. A seu lado, um homem ainda jovem, com ar de preocupação:
– Que bom você acordou! Como se sente?
– Muito bem! O que houve? Você é médico?
– Não, apenas alguém que se preocupa com você. Me desculpe, eu jamais poderia imaginar que você sofresse de coulrofobia.
– ?????????
– É, medo de palhaço.
– Medo de palhaço, eu sempre tive, nunca fui a circos, nunca pude tocar em bonecos vestidos de palhaços. Chama-se coulrofobia? Mas o que tem isso a ver com este lugar, parece um hospital...
Só então a cena voltou à sua mente, o palhaço sorrindo, se aproximando dela na arquibancada, os olhos faiscando, a alegria no ar...
Deu um grito, quase desmaiou novamente. Recuperou-se, raciocinou e, só então, conseguiu perguntar bem baixinho:
– Você era o palhaço?
Diante da afirmativa dele, com a cabeça, ela conseguiu sorrir. E diante da pressa dele, de dizer que nunca mais se fantasiaria de palhaço, o sorriso ficou mais largo. Carnaval tem tudo a ver com palhaço. Mas, se ele não fazia questão da fantasia, quem sabe os próximos Carnavais não poderiam ser muito melhores? Com a tal de coulrofobia, mas também com muito confete, serpentina e samba no pé.