Este texto foi publicado na coluna "Tribuna Livre", do jornal "A Tribuna", de Santos, em 13/06/2011. Vejam se não tenho razão...
Preservar as lendas juninas
Onde foram parar Santo Antônio, São João e São Pedro? Sim, eles continuam nos altares, a receber pedidos e súplicas de seus devotos. Mas, o que aconteceu com as suas festas? Neste mês de junho, as noites frias costumavam ser aquecidas pelas fogueiras, enquanto fogos coloridos riscavam o céu escuro e sem nuvens. Hoje, os balões, real perigo ambulante, foram banidos; em lugar da beleza dos fogos de artifício, estrondos assustadores. As fogueiras são feitas de tiras de papel laminado e a simplicidade do “correio elegante” é substituída pelo “ficar”, de preferência com vários pares diferentes, na mesma noite. Cuidados especiais são tomados para impedir, em algumas quermesses, drogas, desrespeito, confusão, preconceito, brigas e agressões.
Felizmente, a maioria das festas juninas mantém a ordem e a alegria. Frequentadas por famílias, são realizadas em residências, escolas, associações, igrejas, clubes e outras entidades. Algumas têm caráter beneficente, mas, à exceção das festas nordestinas, perdeu-se muito do encanto e da autenticidade das quermesses. As raízes folclórico-culturais foram esquecidas, privilegiando-se, em contrapartida, comidas e bebidas – nem sempre da época – e música eletrônica em altíssimo volume.
Em que ponto deixamos para trás as sanfonas e as modinhas, as quadrilhas de movimentos espontâneos, os trajes autênticos – com os “noivos” e o “padre” –, os arraiais ao ar livre, as histórias contadas na roça, a origem das homenagens aos santos juninos? Certamente, em alguma curva de antiga estrada de terra. Mas, apesar do asfalto, da velocidade e do progresso, não seria possível retornar àquela curva? Não poderíamos resgatar o antigo encanto?
Se não sob o céu escuro, embaixo de tetos acolhedores. Se não com fogos de artifício, com pequenas “estrelas” a brilhar nas mãos das crianças. Mas, a essência da festa poderia ser preservada. O levantamento do mastro, por exemplo, de origem européia – como muitos dos costumes adotados nas festas juninas –, significa a garantia de fartura nas colheitas e de saúde para os animais domésticos. No Brasil, costuma-se adorná-lo com as bandeirinhas dos três santos juninos.
Quanto ao “casamenteiro” Santo Antônio, seria bom saber que essa crença teve origem em decisão do frei nascido de nobre família portuguesa: casar jovens que se amavam, mesmo pertencendo a classes sociais diferentes, o que, na época, era proibido. As quadrinhas que exaltam o milagroso santo são muitas: “Santo Antônio me case já/ enquanto sou moça e viva./ Porque o milho colhido tarde/ não dá palha nem espiga”.
Já na noite de São João, a tradição aponta para as adivinhações: as moças aproveitam que o santo está sempre dormindo em sua festa e tiram a sorte para saber com quem vão se casar. Lendas seriam preservadas: o santo teria nascido em uma noite muito bonita e sua mãe Isabel, para avisar Maria, mãe de Jesus, teria mandado erguer um mastro em sua casa e acender uma fogueira para iluminá-lo.
O protetor dos viúvos é São Pedro e, a ele, muitos recorrem com fé, especialmente na noite de sua festa. Também protetor dos pescadores, são incontáveis as embarcações coloridas e enfeitadas que percorrem mares e rios em louvor ao santo. Tudo isso seria contado, lembrado e revivido nas festas juninas. Pequenos exemplos do rico folclore que as cidades grandes ajudariam a preservar. Histórias, tradições e lendas que fazem parte da alma do nosso povo e que, lamentavelmente, correm o risco de não chegar às novas gerações.
2 comentários:
Tem razão Ana, corre o risco de não chegar às novas gerações. Mas está documentado e saberão que existiu.
Um abração
Luara
Hoje vi aqui em São Vicente algumas lojas com todos os acessórios para festa junina. Bandeirinhas, vestimentas para dançar quadrilha, balões. Esse folclore brasileiro ainda não sumiu de todo.
Luara
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