sexta-feira, 11 de setembro de 2020

João Vitor - 9 anos

 

                        

                     Tico-tico inesquecível

 



Você olha para mim, com uma expressão desconsolada, e declara: “Não dá, vovó, tico-tico acabou pra mim”! Eu observo você sentado no tico-tico, as pernas compridas, os joelhos quase encostando no queixo, e concordo. Você cresceu, João Vitor, o tico-tico fica difícil para você pedalar. Não posso deixar de sentir uma certa tristeza: embora você goste muito de sua linda bicicleta, ainda tem vontade de pedalar o tico-tico, único veículo compatível com a área na casa da vovó, onde você pode “apostar corrida” com seu irmãozinho Luiz Felipe. E tenho pena. É lindo ver você crescer, mas isso significa renunciar a outras alegrias, de um tempo em que você era um garotinho e o tico-tico, uma grande diversão.

 Mas não importa: atendo ao seu pedido e faço as vezes de sinal aberto ou fechado e “dou as partidas” nas “corridas de Fórmula 1”, vocês de tico-tico ou patinete, eu, de coração feliz por poder participar desses momentos mágicos. Você chegou aos nove anos pleno de alegria e disposição, mesmo vivendo esta quarentena, que já está se estendendo muito além do que imaginávamos no início. A rotina foi alterada, os hábitos tiveram que se adaptar, a escola e os amigos entraram no modo on-line. As saídas de casa são raras, o estudo modificou-se, e a diversão, também. E, embora com o crescimento, você tenha mais momentos de quietude e reflexão, nada tira sua alegria, sua vontade de correr e de brincar. Afinal, você é uma criança!

            Uma criança amorosa e algumas vezes emburrada ou explosiva, principalmente quando as coisas não correm como você quer. Mas, logo depois está rindo e encantando quem está à sua volta. Uma noite, em sua casa, a briga com o Tite havia sido “séria”. Você, ainda bravo com seu irmão, viu que ele queria tomar água antes de dormir, e não teve dúvidas: foi na cozinha buscar o copo d´água, que o Luiz Felipe agradeceu e tomou com prazer. Você é assim, João: não tem espaço para ressentimentos em seu coraçãozinho.

            Muitas vezes, você surpreende com seus comentários e atitudes que já revelam a aproximação de uma certa maturidade. Como quando, em sua casa, depois da vovó e vovô Paulo passarem alguns dias, na hora de despedir, você, como gente grande, colocou a mão na cintura e perguntou: “Bom, agora, até quando”?.... Ou quando você chega em nossa casa e logo vai conferindo se o vovô Paulo está por perto. E cobra: “Cadê o vovô?”

            Nesta quarentena por causa do coronavirus, você, Tite, mamãe e papai estão tendo oportunidade de exercitar muita paciência e amor. Muitos dias fechados em casa, você e seu irmão acostumados com as diversas atividades escolares e com a convivência com os amigos, o jeito é apelar para a web. Aí entram a paciência da mamãe para ajudar nas conexões e nas lições on-line; do papai, que mesmo em home office, auxilia quando pode; e a paciência sua e do Luiz Felipe, que tiveram que se adaptar ao espaço entre as paredes do apartamento. É assim que vocês exercitam o amor em família, ainda mais unida nestes tempos complicados.

            Com os vovós Ana e Paulo, Janne e Santiago, a comunicação foi inúmeras vezes por vídeo, um jeito de matar a saudade. O dia em que o Tite me mostrou o livro dos Monsters Jam, que ele havia colorido, você mostrou o seu, dos prédios mais altos do mundo. Com capricho, você anotou altura e número de andares de todos eles. Vi um por um e, mais uma vez, me surpreendi com seus comentários e entonação de gente grande. Quando eu disse para você guardar bem o álbum, porque ia gostar de ver daqui a alguns anos, você me “explicou”: “Mas, vovó, aí já vai ter prédios ainda mais altos”!

            E confirmando que você está se tornando um rapazinho, você me contou dia destes: “Você sabe que agora eu gosto de pizza”? Curiosa, perguntei: Pizza de quê”? E você, rápido: “De calabresa, claro. Até experimentei uma de queijo – “muçarela”, soprou a mamãe – mas não gostei muito”. E como alguém entendido em pizza, declarou: “Prefiro a de calabresa, é bem melhor”!

            Já sabe lidar com a internet, sempre sob a supervisão da mamãe e do papai, e até tem um grupo no Messenger, do qual fazem parte você, eu, vovó Janne e memê Rosário. E se diverte mandando figurinhas para nós ou acrescentando desenhos engraçados em você mesmo quando a comunicação é ao vivo. Mas, também se diverte brincando de bartender, usando copos de plástico e enfeites da casa da vovó. Quer todos os membros da família como “clientes”. Há pouco tempo, vovó precisou ir na cozinha e não tinha mais ninguém para brincar. E você; “Não vai, não, senão fico sem fregueses”!

            Carinhoso, alegre – embora atualmente um pouco mais introvertido –, você ainda brinca com carrinhos e caminhões, junto com o Tite. Não abre mão de acompanhar a Fórmula 1, e seus programas de TV prediletos tanto podem ser um desenho quanto a filmagem de uma corrida de anos passados. Gosta de desenhar – e desenha bem – mas é imbatível na construção de maquetes de prédios, ruas e cidades, utilizando materiais comuns, como pedrinhas e papelão pintado.

            Aí está um pouco de você, João Vitor, aos 9 anos. Nosso bebê de nove anos atrás continua cada vez mais amado pela família e pelos amigos. Nas “janelas” deixadas pelos dentinhos que caíram já se debruçam os novos e definitivos dentes, anúncio da chegada de uma nova fase em sua vida. Que – tenho certeza – continuará cheia de luz e confiante nas conquistas que estão por vir. Porque você já descobriu que persistir é preciso. E, se depender do pensamento positivo desta vovó Ana, a Proteção Divina nunca vai abandoná-lo.