segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Hélio Oiticica

Sem segurança, arte vira cinzas

A perda da maior parte das obras de Hélio Oiticica é mais uma consequência da falta de respeito com que a arte é tratada neste País. É o mínimo que se pode afirmar após o incêndio que atingiu, na última sexta-feira, a casa do irmão do artista, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Se somarmos este a outros incidentes, teremos uma boa idéia da falta de recursos e do pouco caso com a segurança das obras de arte no Brasil.

Incêndios, perdas e roubos de obras não são novidade por aqui. As notícias se sucedem, mas não sensibilizam autoridades nem demais responsáveis. A grande maioria da população, por sua vez, com sua crônica falta de interesse pela cultura, não reclama. E assim vamos caminhando, eufóricos com a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, mas fornecendo combustível para a fogueira onde a arte é atirada.

Há também brigas entre egos inflamados e tentativas de se levar vantagem. Enquanto isso, trabalhos importantes permanecem em exposição sem cuidados básicos ou ficam amontoados em alguma sala escura e mal ventilada.

No caso do acervo de Hélio Oiticica, declarou César, o irmão e dono da casa, que estava em local com sensores de temperatura e umidade, além de alarme anti-incêndio. Só que um possível curto-circuito iniciador do fogo não foi capaz de fazer o alarme funcionar e, em pouco tempo, pinturas, esculturas, os famosos parangolés e até textos manuscritos nos quais o artista exprimia seu pensamento desapareceram.

O prejuízo material foi avaliado em US$ 200 milhões – as obras não estavam no seguro. Já se fala em tentativas de refazer alguma coisa salva das cinzas e existem ainda registros em CDs e arquivos de computador não atingidos pelo fogo. Discordâncias entre a família do artista e o Centro de Artes Hélio Oiticica, da Prefeitura do Rio, em nada contribuíram para a segurança dos trabalhos.

Falecido em 1980, Oiticica começou a se destacar internacionalmente nos anos 50. Morou algum tempo em Nova Iorque e tem obras em museus como o Tate Modern, de Londres, o MoMa, de Nova Iorque, e o Malba, de Buenos Aires. No Rio, estava a maior parte do seu trabalho, agora destruída. Fez parte do movimento neoconcretista, inspirou o Tropicalismo com sua obra “Tropicália”, polemizou na arte, destacou-se com seus parangolés (espécie de capas para serem vestidas e movimentadas por pessoas) e penetráves (instalações).

Pode-se gostar ou não de seu trabalho contemporâneo, concordar ou não com suas idéias. Mas não se pode negar a repercussão nacional e internacional de sua obra. Com a notícia do incêndio, que provavelmente teve mais destaque no exterior do que no Brasil, fica a pergunta: que país terá coragem de enviar para ser exposta aqui qualquer obra valiosa? Afinal, se nem cuidamos do que é nosso...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Tribuna Livre

Emoções do galo

Olá amigos. Aí está a crônica que foi publicada na edição de 09/10/09 , no jornal “A Tribuna”. Também postei a imagem digitalizada, como saiu na página 2 do jornal

O galo que gostava de gente

Inesquecível é o sol das manhãs de primavera na imensa varanda do casarão da minha infância. Dali, podia ver o quintal, onde árvores frutíferas garantiam o ar fresco até mesmo quando os dias iam se tornando mais quentes. Ali, eu olhava, brincava e sonhava. Pois foi nessa varanda dos meus sonhos que aconteceu o que, para mim, foi admirável. Havia cachorros no casarão, havia pássaros nas árvores, mas o pintinho comprado na feira era o centro das minhas atenções.

Bem alimentado, bem tratado, “ouvindo” minhas confidências, logo se tornou um frango esperto e, pouco depois, um imponente galo branco, de peito estufado e crista altiva. Não era considerado animal de estimação, não fazia gracinhas nem abanava o rabo. Até o dia em que resolveu demonstrar suas “emoções”. Na manhã preguiçosa, sentada em um banquinho, estiquei as pernas. Silenciosamente, ele veio. Fez o possível para chamar minha atenção, e eu fingi que não o estava vendo. Foi quando ele começou, cuidadosamente, a “escalar” uma de minhas pernas.

Apesar da surpresa, permaneci imóvel. A escalada continuou até meu colo e, quando ele se sentiu seguro, começou a fazer, baixinho, o som que sempre fazia quando “conversava” comigo. Não queria alimento, só queria atenção. A partir desse dia, a cena se repetiu muitas vezes, naquilo que interpretei como demonstração de carinho.

Na verdade, apesar de tudo o que aprendi a respeito do cérebro dos galos – do tamanho de uma ervilha –, até hoje penso se não era isso mesmo. Um simples galo, de cérebro pequeno, mas com apego ao ser humano! E penso nos homens que escalaram o muro de uma casa para roubar e aterrorizar os moradores. Em busca de um possível cofre, não se detiveram nem com a presença de uma criança. Ao contrário, usaram-na nas brutais ameaças aos adultos.

E penso no assaltante que, ao verificar que sua vítima não tinha dinheiro, atirou contra ela e contra a criança de pouco mais de um ano que o homem carregava no colo. Na Guiné, onde, por participarem de ato em favor da democracia, mulheres foram estupradas e homens, fuzilados. Nos homens-bomba a se explodirem em nome de Deus e a levarem com eles dezenas, centenas de inocentes. Nos pais que vendem seus filhos para a prostituição e até para serem transformados em crianças-bomba. Nos sequestros de toda a ordem.

Como em um carrossel de terror, a violência se sucede no Brasil e no mundo. Algumas vezes, por golpe de sorte ou porque o Poder Superior assim determina, vítimas escapam com vida, mas com ferimentos no corpo e na alma. Os do corpo curam-se, já os da alma...

No entanto, os autores de tamanhas atrocidades têm cérebro complexo, podem raciocinar. Mas não demonstram qualquer emoção. Sem sentimentos, não agem como gente. No lugar de contribuírem para a evolução, voltam aos tempos da barbárie. Culpa de quem? Da fome e da miséria? Do fanatismo? Da falta de educação? Dos governos? Da sociedade? Nossa?

Um pouco de tudo. Razões são muitas, cada bandido, cada causador de sofrimento tem uma história para contar, quase sempre datada do início de suas inúteis vidas. Mas eles podem pensar e sentir. Se não o fazem é porque não querem, anestesiados pela maldade. O semelhante, para eles, é nada, assim como nada significam a repressão do Estado ou os caminhos além do mundo material. Enfim, não são humanos. Seriam animais? Penso no galo de cérebro pequenininho que gostava de gente. Não, os animais não merecem essa ofensa.

domingo, 4 de outubro de 2009

Domingo na praia

Crônica escrita no dia da "Cãominhada"

“De cachorro, já é demais”!

As manhãs de domingo continuam sendo uma “festa” para os moradores da orla da praia, em especial do Embaré, Boqueirão e Gonzaga! Eventualmente, Ponta da Praia e José Menino. Quando o tempo permite, é só descer dos prédios e aplaudir participantes das mais variadas corridas, de maratonas a passeios a pé, passando por biathlons, triathlons e desafios. O clima de festa fica por conta de animadores que, equipados com poderosos sistemas de som, acordam os moradores quase sempre bem cedinho, com músicas barulhentas e palavras de ordem.

Como não dá para continuar no delicioso sono das manhãs de domingo, o cidadão levanta-se, toma café ao som das músicas que organizadores da corrida consideram apropriadas – ainda que algumas nem possam ser chamadas de música, tamanhas a gritaria e as letras de mau gosto –, troca de roupa e, como ler, ouvir música de seu próprio gosto, ir para o computador ou simplesmente raciocinar, fica difícil, o melhor é render-se.

Vai para a rua aplaudir atletas e apreciar o movimento. Lembra-se que melhor seria aproveitar a oportunidade para fazer sua caminhada de fim de semana. Mas é difícil caminhar nos calçadões apinhados, com adultos, crianças, cachorros, carrinhos e ambulantes disputando cada qual o seu espaço. Tudo no tal clima de festa!

Após permanecer por vários minutos caminhando lentamente atrás de “distraídos” que formam intransponíveis paredões ao ocupar as calçadas de ponta a ponta, depois de driblar buracos e “cacas de totós”, cansado do alarido que impossibilita ouvir o mar, volta para casa um tanto deprimido, mas disposto a não perder o domingo.

Vou almoçar fora, decide. Mas se esquece de que a avenida está interditada nos dois sentidos, ainda que o evento esteja ocupando apenas a pista do lado do mar. Ônibus estão impedidos de circular, motoristas de táxi se recusam a ir buscar passageiros na avenida da praia e carros particulares devem permanecer recolhidos às garagens, se seus condutores não quiserem se aborrecer e correr o risco de se envolver em algum incidente.

Só que, duro na queda, o cidadão decide sair assim mesmo. Opta por tirar o carro da garagem e ir dirigindo a um quilômetro por hora, tomando cuidado para não atingir os que caminham calmamente pela faixa de rolamento. Um pensamento aflito passa então pela sua cabeça: e se eu ou alguém da minha família, um vizinho, um amigo se machucar ou passar mal? Em quanto tempo chegará o resgate? Para afastar o temor, passa a prestar ainda mais atenção à direção do carro e às pessoas que caminham ao lado e à frente, todas olhando feio para ele, um motorista que ousa utilizar a pista, rodando no asfalto de domínio exclusivo de pedestres.

Quando finalmente consegue chegar a uma rua cuja mão de direção lhe permite sair da avenida da praia, tem que se explicar com a “autoridade” de trânsito que ali se encontra, para que esta retire o cavalete que impede a passagem de veículos. Ele se vê, então, no meio de um trânsito caótico, desviado da avenida da praia, praticamente parado, com carros e ônibus tentando cruzar em todas as direções. Após um bom tempo em meio à confusão, consegue se desvencilhar e, finalmente, chegar ao restaurante onde vai almoçar.

Exausto, acomoda-se em uma mesa, pede um chope e só então começa a relaxar. E a pensar. Reconhece que, para a imagem turística de Santos, eventos como o daquela manhã são benéficos. Mas não se conforma com a interdição das duas pistas e muito menos com o barulho, com a pseudo-música e com a montagem, durante a madrugada, das tendas de suporte ao evento. Pondera para si mesmo que paga seus impostos corretamente, sem atrasar um só dia, e que deveria receber maior consideração por parte do Poder Público. Afinal, tudo tem limite: corridas, desafios, desfiles cívicos, vá lá!... Mas passeio de cachorro, já é demais!

Voltam à sua mente as cenas que havia acabado de assistir: cachorros e seus donos desfilando a última moda para os animais; crianças correndo e gritando na disputa de bolas de gás; barulho insuportável estressando e assustando muitos cães; um cachorro “fazendo caca” na areia da praia, junto ao calçadão, sob os olhares “divertidos” de seus donos.

Claro, há o aspecto benéfico, como o atendimento veterinário e estético aos animais, o clima de confraternização. Mas tem que ser na avenida da praia? É preciso interditar as duas pistas? E se resolverem realizar também um passeio de gatos? Ou de papagaios? Olha assustado para os lados, temendo ter pensado alto e sido ouvido por algum entusiasta da idéia. Mergulha o rosto no cardápio, não sem antes resmungar: “O pior é que até taxa de marinha eu pago”!...

sábado, 3 de outubro de 2009

Olimpíadas no Rio

E então, amigos? Gostaram do Rio de Janeiro sede das Olimpíadas 2016? Não deixa de ser emocionante ver nosso País escolhido entre outras capitais mundiais tão importantes. Foi lindo ver a reação popular e, até, a emoção dos nomes importantes que estavam lá. Mas, vamos colocar nossos pés no chão e pensar na imensa responsabilidade que o Brasil assumiu perante o mundo.

Concordo com os que afirmam que o Brasil tem que fazer a "sua" Olimpíada, sem se importar com outras já realizadas e marcadas por tecnologia no mais alto grau. Mas é preciso nos conscientizarmos de que há aspectos indispensáveis de infra-estrutura, a começar por segurança, transporte, hospedagem etc. etc. etc. Enfim, é preciso começar a trabalhar já e a fiscalizar com rigor a movimentação das verbas. Será que conseguiremos?