terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Porque é Carnaval

Carnaval chegando e vêm à memória os animados bailes de apenas alguns anos atrás. Ao mesmo tempo, surge a preocupação com tanta gente nas estradas, fazendo do Carnaval tempo de viagens, aborrecimentos e perigo. Por isso esta crônica, publicada hoje, 06/02, na "Tribuna Livre", do jornal "A Tribuna".                        

                   Lantejoulas em vez de sangue

                                                                                  
Confetes, serpentinas e lantejoulas pelo chão, máscaras coloridas ainda presas a colunas, tetos, portas e janelas. No ar, um rastro de lança-perfume. Há alguns anos, esse era o cenário de muitos clubes e associações logo após o término do Carnaval. Os animados bailes com fantasias, marchinhas e músicas críticas aos costumes e acontecimentos da época empolgavam. A atmosfera era alegre, calorenta (sem ar condicionado), regada principalmente a refrigerante e cerveja.
 Namoros e até casamentos se desfaziam, enquanto outros começavam. Alguns cantavam a plenos pulmões, dançando quando havia espaço. Outros simplesmente levantavam braços e mexiam pernas, “encaixotados” na multidão de foliões quando a área ficava pequena para tanta gente.  Excessos? Havia, claro! Então, o lança-perfume foi banido, para que não fosse utilizado para fins ilícitos. Mas, os departamentos médicos dos clubes transbordavam, com gente sofrendo os efeitos do álcool em doses exageradas.
Tudo ficou na lembrança. Não mais se realizam bailes de Carnaval. A não ser matinês infantis, onde os pequenos ainda se divertem ao som de velhas músicas. Desfiles de blocos, com fantasias cuidadosamente elaboradas e animados por essas mesmas velhas músicas, também já não mais existem. Os excessos, nesse caso, nem se comparavam ao que acontece hoje, com a saída das bandas às ruas e seu rastro de roubo e vandalismo.
E já nem falo dos corsos, com carros decorados com motivos carnavalescos e batalhas de confetes, serpentinas e lança-perfumes. Saudosismo? Com certeza! Apenas o lado positivo está sendo lembrado? E os incidentes e acidentes, contravenções e até crimes da época? Mas, eram os excessos. E as exceções!
E excessos e exceções foram aumentando em número e violência. A diversão ingênua e a alegria do Carnaval, desaparecendo. Então, muita gente optou por curtir a Folia no asfalto. Das estradas. E todos os anos, nesta época, corsos intermináveis entopem as estradas, sem confete, sem serpentina, com infinita paciência para não sucumbir nos congestionamentos. E para suportar inconsequentes motoristas correndo pelos acostamentos; ou ultrapassando pela direita acima da velocidade permitida e “fechando” perigosamente o carro ultrapassado porque bobos são os que estão dentro da lei.
E as câmeras de vigilância? Ora, as câmeras! Nunca multam esses assassinos em potencial.  Quanto aos bêbados atrás dos volantes, nem as campanhas conseguem conscientizar, nem a fiscalização, apanhar e punir todos, que são muitos. E há as armadilhas muitas vezes fatais dos assaltos e tantos outros perigos espreitando quem se aventura pelas estradas.
Não há o que fazer, pensamos. Ou é assim ou ninguém mais sai de casa. Mas, poderíamos melhorar esse cenário. Refletir na inconsequência de nossos atos. Sermos mais cuidadosos com nossas crianças, tantas vezes transportadas sem os cuidados exigidos por lei. A mesma paciência que nos é pedida nos intermináveis congestionamentos deveria ser utilizada quando a estrada está livre. Paciência com os outros significa também cuidados com os nossos.
Vamos exigir mais fiscalização e repressão à violência. Sim, é Carnaval, mas não há espaço para folias nas estradas. Excessos, nesse caso, podem ser fatais. Se ser saudosista é preferir confetes e serpentinas ao sangue nas estradas, então, sou mesmo saudosista.