Este texto foi publicado na seção “Tribuna Livre”, do jornal “A Tribuna”, de Santos, no último 7 de setembro.Vejam se não tenho razão no que escrevi.
Para gritar Independência
No dia em que o Brasil nasceu como nação independente, nenhum dos envolvidos nos acontecimentos que culminaram no ato de Pedro I poderia imaginar que 188 anos depois, esta Nação estaria tão subjugada. E não se trata de situação política ou financeira, embora também nesses aspectos ainda falte muito para sermos realmente independentes.
O que dói é ver este País refém da violência que se manifesta das mais dolorosas maneiras, das metrópoles aos vilarejos, entre ricos e pobres, escancarada ou escamoteada sob aparência de normalidade. Apresenta-se sob tantas e tão variadas aparências, que mais parece um camaleão, sempre pronta a se camuflar. Mas, qual a sua origem? Inata no ser humano, convive com a bondade. Cabe a cada um decidir qual delas vai prevalecer.
E, aí, entram em cena também as circunstâncias, as motivações. Ao declarar o Brasil livre do colonizador, Pedro I teve seus motivos. Mas, impulsivo ou não, foi um ato sem violência, uma Independência sem grandes guerras, apenas com poucas resistências em algumas regiões. As circunstâncias levaram a isso. E hoje, o que gera a violência que nos oprime?
Sem dúvida, as drogas, o tráfico e a corrupção. São esses os nossos algozes, que nos mantêm aprisionados, que nos manipulam, nos oprimem. Ou alguém duvida do poder do tráfico e do rastro de violência que é capaz de traçar? Do jovem carente aliciado em sua comunidade ao usuário rico cada dia mais dependente, as correntes são enormes e pesadas. A elas estamos todos presos, escondidos em nossas casas sem nos arriscarmos nas ruas. Tentamos nos defender, mas a violência-filha-da-droga tem mão pesada, seus grilhões são fortes.
Não somos independentes, mas dependentes, ainda que não usuários. Dependemos das circunstâncias, da sorte de não nos depararmos com um assaltante ou um assassino. De não termos nossas casas invadidas por eles. De não nos encontrarmos na trajetória de uma bala perdida.
Mas, para sobreviver e tornar-se cada vez mais potente, o tráfico de drogas precisa se alimentar. De corrupção. Aí está a verdadeira tirana, que seduz tantos, dos pequenos aos mais altos níveis, de homens e mulheres simples a dirigentes entrincheirados no poder. Corrompidos, eles prestam reverências e tributos ao tráfico, estendendo tapetes vermelhos para que amplie sua trágica trajetória.
Assim, as correntes nos apertam cada vez mais. Motivadas pela droga e aproveitando-se das circunstâncias da corrupção, nos mantêm sob o domínio da violência. É medo que gera caos. Somos prisioneiros de nossa própria incapacidade de lutar contra a corrupção.
Não adianta reclamarmos. Os escravos também reclamavam, mas nada podiam alterar em suas miseráveis vidas. Talvez nós possamos. Quem sabe, aproveitar a oportunidade das eleições que se avizinham para desmascarar corruptores e corruptos, expulsando-os definitivamente do poder.
Já demos um pequeno passo com o Ficha Limpa. Vamos mais à frente. Demagogos, pequenos e grandes aproveitadores, responsáveis pelo circo com o qual se quer iludir o povo, todos precisam ser banidos da vida pública. Seria o nosso Grito da Independência. Um golpe contra a violência nos moldes de Pedro I. Não às margens do Ipiranga, mas às margens da responsabilidade. Não com a opção da morte, só a da vida. O que, com certeza, deixaria nosso primeiro imperador muito orgulhoso.