Crônica escrita no dia da "Cãominhada"
“De cachorro, já é demais”!
As manhãs de domingo continuam sendo uma “festa” para os moradores da orla da praia, em especial do Embaré, Boqueirão e Gonzaga! Eventualmente, Ponta da Praia e José Menino. Quando o tempo permite, é só descer dos prédios e aplaudir participantes das mais variadas corridas, de maratonas a passeios a pé, passando por biathlons, triathlons e desafios. O clima de festa fica por conta de animadores que, equipados com poderosos sistemas de som, acordam os moradores quase sempre bem cedinho, com músicas barulhentas e palavras de ordem.
Como não dá para continuar no delicioso sono das manhãs de domingo, o cidadão levanta-se, toma café ao som das músicas que organizadores da corrida consideram apropriadas – ainda que algumas nem possam ser chamadas de música, tamanhas a gritaria e as letras de mau gosto –, troca de roupa e, como ler, ouvir música de seu próprio gosto, ir para o computador ou simplesmente raciocinar, fica difícil, o melhor é render-se.
Vai para a rua aplaudir atletas e apreciar o movimento. Lembra-se que melhor seria aproveitar a oportunidade para fazer sua caminhada de fim de semana. Mas é difícil caminhar nos calçadões apinhados, com adultos, crianças, cachorros, carrinhos e ambulantes disputando cada qual o seu espaço. Tudo no tal clima de festa!
Após permanecer por vários minutos caminhando lentamente atrás de “distraídos” que formam intransponíveis paredões ao ocupar as calçadas de ponta a ponta, depois de driblar buracos e “cacas de totós”, cansado do alarido que impossibilita ouvir o mar, volta para casa um tanto deprimido, mas disposto a não perder o domingo.
Vou almoçar fora, decide. Mas se esquece de que a avenida está interditada nos dois sentidos, ainda que o evento esteja ocupando apenas a pista do lado do mar. Ônibus estão impedidos de circular, motoristas de táxi se recusam a ir buscar passageiros na avenida da praia e carros particulares devem permanecer recolhidos às garagens, se seus condutores não quiserem se aborrecer e correr o risco de se envolver em algum incidente.
Só que, duro na queda, o cidadão decide sair assim mesmo. Opta por tirar o carro da garagem e ir dirigindo a um quilômetro por hora, tomando cuidado para não atingir os que caminham calmamente pela faixa de rolamento. Um pensamento aflito passa então pela sua cabeça: e se eu ou alguém da minha família, um vizinho, um amigo se machucar ou passar mal? Em quanto tempo chegará o resgate? Para afastar o temor, passa a prestar ainda mais atenção à direção do carro e às pessoas que caminham ao lado e à frente, todas olhando feio para ele, um motorista que ousa utilizar a pista, rodando no asfalto de domínio exclusivo de pedestres.
Quando finalmente consegue chegar a uma rua cuja mão de direção lhe permite sair da avenida da praia, tem que se explicar com a “autoridade” de trânsito que ali se encontra, para que esta retire o cavalete que impede a passagem de veículos. Ele se vê, então, no meio de um trânsito caótico, desviado da avenida da praia, praticamente parado, com carros e ônibus tentando cruzar em todas as direções. Após um bom tempo em meio à confusão, consegue se desvencilhar e, finalmente, chegar ao restaurante onde vai almoçar.
Exausto, acomoda-se em uma mesa, pede um chope e só então começa a relaxar. E a pensar. Reconhece que, para a imagem turística de Santos, eventos como o daquela manhã são benéficos. Mas não se conforma com a interdição das duas pistas e muito menos com o barulho, com a pseudo-música e com a montagem, durante a madrugada, das tendas de suporte ao evento. Pondera para si mesmo que paga seus impostos corretamente, sem atrasar um só dia, e que deveria receber maior consideração por parte do Poder Público. Afinal, tudo tem limite: corridas, desafios, desfiles cívicos, vá lá!... Mas passeio de cachorro, já é demais!
Voltam à sua mente as cenas que havia acabado de assistir: cachorros e seus donos desfilando a última moda para os animais; crianças correndo e gritando na disputa de bolas de gás; barulho insuportável estressando e assustando muitos cães; um cachorro “fazendo caca” na areia da praia, junto ao calçadão, sob os olhares “divertidos” de seus donos.
Claro, há o aspecto benéfico, como o atendimento veterinário e estético aos animais, o clima de confraternização. Mas tem que ser na avenida da praia? É preciso interditar as duas pistas? E se resolverem realizar também um passeio de gatos? Ou de papagaios? Olha assustado para os lados, temendo ter pensado alto e sido ouvido por algum entusiasta da idéia. Mergulha o rosto no cardápio, não sem antes resmungar: “O pior é que até taxa de marinha eu pago”!...
Um comentário:
Ana, você é o máximo sempre!
GENIAL!
Parabéns!!!!!
Um grande beijo, Andréa
PS: Sem falarmos dos "Pit Bulls" sem mordaça, nem coleira...
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