Olá amigos
Esta crônica de minha autoria foi publicada na edição de 23/12/09, no jornal “A Tribuna” de Santos.
Sem medo de ficar grande
Olhos brilhantes, o garoto se aproxima mais do presépio armado com capricho no altar lateral da igreja. Procura, ansioso, a figura do Menino deitado na palha, protegido pelo amor de Maria e José, pelos olhos atentos do Anjo, pelo brilho da estrela.
“Ele está feliz”, comenta com o pai, dedinho apontado para a figura da Criança dormindo placidamente na manjedoura. “É por isso que eu não vou ficar grande nunca”! O pai reage: “Não diga isso. Você vai crescer, ser um homem... Jesus também cresceu”.
A resposta vem rápida: “E foi morto daquele jeito! Se fizeram isso com Ele, imagine o que podem fazer comigo se eu ficar grande”!
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Mais uma vez, é Natal. E este Conto Rápido ilustra o estado de espírito das pessoas, assustadas e com medo. Temos motivos para comemorar? Vejamos: a violência no Brasil e no mundo cresce e se sofistica, a ponto de, muitas vezes, duvidarmos de que seus agentes sejam humanos; a corrupção continua escancarando aos quatro ventos pessoas e hábitos que roubam o que de mais precioso um povo pode ter: seu caráter; crianças e idosos são as maiores vítimas da miséria e da fome.
Mais: para acabar com a guerra, promove-se mais guerra; fanáticos do Islã perseguem, humilham, barbarizam, torturam e matam mulheres, pelo simples fato de elas serem mulheres; ecologistas apontam dedos acusadores para os saquinhos de plástico dos supermercados, em vez de ensinarem reciclagem e temendo mais os saquinhos do que os gazes industrias atirados na nossa pobre atmosfera.
Mais ainda? É só sintonizarmos na TV as cenas de selvageria protagonizadas, nos estádios e nas ruas, por torcidas de todos os times de futebol, inclusive os fãs dos clubes campeões; as chuvas e as enchentes, que deveriam ser previstas pelos governantes, a fim de que delas se precavessem, matam, arrasam, deixam pessoas sem teto, além de manterem toda uma frota de carros, ônibus e caminhões, com seus motoristas e ocupantes, reféns dos absurdos alagamentos.
Ah, sim, e há os temidos stress e depressão, fazendo a cada dia um número maior de vítimas e resultando em assassinatos de crianças pelos próprios pais, suicídios e todo um amplo leque de dramas individuais. Enfim, horrores impossíveis de serem todos relacionados.
O que aconteceu conosco? Não levamos suficientemente a sério a mensagem de amor e paz deixada pelo Menino cujo nascimento comemoramos nestes dias. Seu tempo também era de violência e desamor, mas Ele apontou novos caminhos, trilhados por muitos. Sua importância é reconhecida no mundo todo porque, por causa Dele, evoluímos. Mas ainda falta muito. Ainda fazemos sofrer o semelhante, nosso coração não se abrandou.
Temos motivos para comemorar o Natal? Teimosos que somos, temos, sim. Porque ainda sonhamos. Com justiça, fartura, paz e amor. Sonhamos com a mensagem de Natal motivando pessoas de todas as raças, de todas as crenças, atéias, até. Sonhamos com as religiões e filosofias de vida se respeitando e compreendendo que estão todas em busca de Deus. Sonhamos com o talvez utópico mundo melhor.
Mas precisamos começar a concretizar nossos sonhos. Com solidariedade e respeito, inspirando-nos nos grandes gestos que, felizmente, ainda garantem a dignidade do ser humano. Com os pequenos gestos ao nosso alcance, estaremos contribuindo para que o Menino sorria na manjedoura. E para que, junto com a criança que o observa, não tenhamos mais medo de crescer.
Um comentário:
Querida Ana Maria, permita-me dizer umas palavras,
e perdoem-me se essas palavras contrariam as expectativas da maioria.
Muitos de nós sabemos que o mundo que nos cerca com tudo o que apresenta é uma criação pessoal e coletiva, é um sonho. O mundo é assim porque nós somos assim. Nós todos sustentamos o medo, a humilhação. Não há a quem acusar o mundo é reflexo de cada pessoa que o vê assim, quando vemos assim e sentimos assim, mantemos ele assim.
A nossa primeira educação é todo conhecimento que nos é transmitido desde o nascimento, pela família, pelo meio ambiente e pelas escolas de todos os graus. É a educação que reúne e transmite todas as idéias, convicções e os princípios de uma sociedade comum. Somente poucos dentre poucos, tem a oportunidade de encontrar as idéias e os princípios da segunda educação, que utiliza a primeira como carburante a ser transformado para a grande viagem em direção à plenitude e à integridade
A primeira educação ensina-nos a realidade como uma entidade externa capaz de decidir e agir, capaz de nos impor sua vontade. Por isso nós indivíduos humanos nos deparamos com um mundo que continuamente nos ameaça, um mundo que nos faz sua vitima... Assim, que nos tornamos anões psicológicos transitamos pelo mundo com o rabo entre as pernas, alimentamos sentimentos de culpa e sustentamos medos.. Nesse nível de degradação, só podemos trair, acusar, lamentar-nos, mentirmos a nós mesmos
Que somos bons e ajustados e o problema são os outros.
Temos acordar... lembrar porque estamos aqui... quem somos...
Recomendo o livro:
“O despertar de uma nova consciência” de Eckart Tolle. É um iluminado contemporâneo que esclarece e mostra a saída desse inferno.
Afetuosamente .. Luara Lobaz
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