terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Chuva, tragédia e fantasia

Após uns dias de recesso, volto ao blog. Passada a euforia das Festas de Fim-de-Ano, comemoradas com champanhe, fogos e alegria, a tristeza tomou conta do País. O resultado catastrófico do excesso de chuva na região serrana do Rio só podia mesmo causar choro e desespero. E não foi só o Rio a sofrer; São Paulo, Estados do Sul e até alguns do Nordeste, Norte e Centro-Oeste sentiram os efeitos dessa deformação climática, com enchentes, desabamentos, soterramentos, perda de bens materiais e - o pior - perda de vidas humanas.
De crianças a adultos e idosos, a enchente enraivecida não poupou quem se atreveu a cruzar seu caminho. E a tragédia deixou o Brasil, mais uma vez, em choque. Quem pôde, ajudou de várias maneiras, com comida, produtos, dinheiro, com trabalho voluntário e até com apoio psicológico. Os governantes também se apressaram a liberar verbas e a tomar iniciativas para minorar o sofrimento das vítimas.
Até aí, tudo bem, uma reação lógica, uma atitude humanitária. Mas, será que tudo isso não podia ser, se não totalmente evitado, pelo menos muito reduzido? Se todos nós, população e governantes, sabemos que verão, no Brasil, é tempo de calor e muita, mas muita chuva, não podiamos manter um plano de prevenção e emergência para funcionar nestas ocasiões? Está certo que o volume de chuva, este ano, ultrapassou todos os limites e todas as previsões.
Mas, se estivéssemos atentos às previsões meteorológicas; se contássemos com estações e meteorologistas bem equipados; se não tivéssemos expulsado a natureza de nossas encostas e morros para nelas erguermos casas e casebres; se tivéssemos planos eficientes de defesa civil; se verbas oficiais tivessem sido corretamente utilizadas; se não houvesse tanta demagogia e barganha de votos por parte de políticos; se...
Sempre existem vários "se". Por causa deles, lamentamos o que não deviamos lamentar; choramos nossas crianças mortas, que deveriam estar vivas e saudáveis; contamos prejuízos que não podem ser suportados em um País como o nosso. A mídia denuncia; a população, os empresários e os governos ajudam como podem; todos os dias aumentam os números de mortos e são atualizados os dos desaparecidos, temendo-se que logo cheguem aos quatro dígitos; famílias choram e ainda esperam o resgate dos corpos de seus mortos; a comoção é geral.
Mas, e depois? Aos poucos, outras notícias, outras tragédias, outros lances da vida vão tomar conta dos noticiários. Devagarzinho, novas casinhas irão surgindo no solo já seco das encostas desmoronadas; lentamente, bens materiais serão repostos, com suor e sacrifício; as equipes de socorro retornarão a seus lares; animais de estimação perdidos encontrarão novos donos; as crianças voltarão a brincar e sorrir, porque é de sua natureza; os pesadelos não serão mais tão recorrentes; os mortos serão esquecidos.
E a vida prosseguirá triunfante neste País tropical. Afinal, o Carnaval está chegando. Já é quase tempo de esquecer tudo e vestir a fantasia para cair no samba. Tomara que dê tempo de tirá-la antes que cheguem o próximo verão, as próximas chuvas e as novas tragédias...

Um comentário:

Luara Lobaz disse...

Querida Ana

Veja só que irônico, apesar de tanta aflição nos corações por causa dos desastres, o tempo leva tudo rapidinho e já está na hora de pormos a fantasia de carnaval, esquecer tudo e entrar no samba. Caramba..., este é um planeta expiatório mesmo, ou seja, de sofrimento, a menos que cada um se desperte desse sonho ainda em vida.
Beijos
Luara

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