quarta-feira, 11 de setembro de 2024

João Vitor - 13 anos

 

      O aviãozinho na prateleira

 

Dia desses você chegou em casa e junto com o “oi, vovó!”, veio me abraçar. Eu também o abracei e beijei, mas, no meio do abraço, me dei conta de que eu estava quase na ponta dos pés para alcançar seu rosto. E imediatamente me lembrei das tantas vezes em que me abaixei para ficar da sua altura e abraçá-lo e beijá-lo e acarinhá-lo, como as avós fazem. Você já não é mais o meu netinho gracioso e pequenino. É agora meu neto, um bonito pré-adolescente que continua carinhoso com a vovó, mas que, de pé, em minha cozinha, me passa a sensação de ocupar um espaço maior do que aquele a que eu estava acostumada.

Você cresceu, João Vitor. Está completando 13 anos e a vida o desafia a saber vivê-la com coragem e inteligência, qualidades que você demonstra ter junto com alguns gostos e atitudes que ainda lembram seu lado infantil. Afinal, são só 13 anos! E eu entro no escritório de casa e vejo, em cima da prateleira, coberto com um plástico transparente, o aviãozinho de brinquedo que, há muitos anos, eu resgatei do lixo reciclável de sua casa, onde tinha ido parar porque estava quebrado. Naquele dia, eu só enxergava seus olhinhos cheios de lágrimas. Estava difícil se separar do brinquedo querido!

Então eu recolhi os pedaços intactos do aviãozinho, trouxe para casa, fabriquei com material doméstico as peças que faltavam e aguardei. Na sua visita seguinte à casa dos vovós Ana e Paulo, coloquei o avião no meio dos seus brinquedos e nunca vou esquecer a sua expressão de espanto e alegria quando o viu. Por isso o aviãozinho ocupa lugar de honra na estante!!!

 Mas tudo isso não foi ontem mesmo?! Como pode aquela criança sensível, que se alegrava e inventava histórias com seus brinquedos e carrinhos, ser hoje o moço que está lá na minha cozinha, conversando, mas também fazendo graça ao tocar a campainha estridente só para ouvir as reclamações da família? Claro que pode! É a vida que segue seu curso. É tempo de se admirar com o crescimento dos netos – vovô Paulo não se cansa de dizer que você está mudado, mais tranquilo e adulto – e aproveitar o que eles ainda conservam de meninice. Assim é você, João, aos 13 anos, e assim é seu irmão Luiz Felipe, o nosso Tite, que, por ser mais novinho, deixa transparecer mais seu lado criança.  

A sua convivência com ele é a da maioria dos irmãos, que vivem implicando um com o outro e se abraçando e combinando artes – sim, você ainda gosta de aprontar –, mas agora o Tite já não recolhe as suas coisas que você vai esquecendo pela casa, como ele fazia antes. Agora, ele cresceu e também vai deixando objetos pela casa, que a mamãe faz os dois recolherem e guardarem, não sem antes dar uma bronca em ambos.

Mamãe distribui carinho, mas continua sendo a guardiã dos estudos, orientando e cobrando atenção às leituras de livros, lições de casa, preparação para provas etc. Papai procura estar presente sempre que a atividade profissional lhe permite, e você e seu irmão reclamam quando sabem que ele não vai poder estar em casa. Mas ele já é seu companheiro de passeios que você adora, como quando foram juntos a Interlagos e você ficou empolgado com o autódromo, o ambiente, o público e, principalmente, os carros e pilotos. E é claro que você torceu pelo Carlos Sainz, seu piloto predileto!

Você, como a mamãe, gosta muito de viajar. E anda se saindo muito bem como o cineasta da família, filmando e editando algumas dessas viagens, principalmente quando vai de carro e pode usar o celular para registrar paisagens e acontecimentos. Só não deu para fazer vídeo no passeio de barco, nas Cataratas do Iguaçu: era muita água, o barco se aproximando das quedas espetaculares e você não se conteve: “Meu Deus!”

Na região de Cancún, você e família curtiram as belíssimas praias e paisagens e não perderam nem o furacão que chegou adiantado ao Caribe. Tudo registrado em muitas fotos e vídeos, inclusive do dia em que ficaram no hotel protegidos dos ventos. Mas você gostou mesmo do passeio às ruínas de Chichen Itzá, com a pirâmide construída muitos anos antes de Cristo, pelos maias, sem qualquer acesso à tecnologia. Você registrou tudo no grupo de WhatsApp da família e contou toda a história daquela época, inclusive com detalhes que apreendeu do guia turístico e da professora de História, que havia lhe mostrado muita coisa a respeito, antes da viagem.

Esse seu interesse pela História antiga demonstra como você está amadurecendo. Vejo em você o jovem que já não usa fantasia no Carnaval, preferindo camisa estampada, bermudas e tênis, e o menino que, no resort em que comemoramos, em abril, o aniversário do Tite, fez meu anel voar para dentro da sobremesa na hora do jantar. Eu havia comentado que você está crescido, um pré-adolescente, e que já não tinha mais gracinhas para colocar na crônica de aniversário. Pois não é que, sentado ao meu lado na mesa, curioso como é, me fez tirar um anel para examiná-lo em sua mão?! Começou a brincar com ele e, em um descuido, o anel, em voo rasante, foi parar dentro da sobremesa. Sem jeito, você tratou de tirá-lo logo de lá e não teve outra alternativa a não ser limpá-lo direitinho e comentar com ar de resignação seguido de uma boa risada: “Já sei que essa vai para a crônica!”

No hotel, encontrou na vovó Janne uma ótima parceira de ping pong. Mas ela joga bem e, quando ganhava a partida, sabendo que você não gosta de perder, pedia desculpas!...  Hoje, você já joga muito bem tênis de mesa – gosta tanto que até vive fazendo jogadas imaginárias com as mãos, totalmente encantado com o novo esporte – e vovó Janne já não se desculpa por ganhar de você.

Mas onde você mais se divertiu no hotel foi no escorregador da piscina. Em momentos carinhosos, fazia um pouco de companhia aos vovós Ana e Paulo, que ficavam mais sentados à beira d´água. Vinha, deixava seu lado moleque aflorar cutucando e sendo cutucado pelo vovô Paulo – que não perde seu jeito brincalhão – e conversava durante algum tempo. Um dia trouxe uma pedrinha, que pediu para a vovó guardar. Mas acabou indo para o escorregador e se esqueceu da pedra em cima da mesinha da piscina. Quando a vovó perguntou o que era para fazer com ela, pediu: “Guarda para mim e leva pra Santos. Depois eu pego com você.” E pegou mesmo!

No retorno do hotel, mais um momento de carinho: ainda era o dia do aniversário do Tite e você fez questão de arrumar a mesa para o jantar com muito capricho. Depois fez seu irmão entrar de olhos fechados e só abrir na sala. Uma surpresa que o Tite adorou!

Você é assim, meu querido João. Continua firme no basquete, esporte com que se identificou. E quando, durante um almoço em família, alguém comentou que você consegue acertar facilmente as argolas nas barraquinhas de festa junina, a resposta veio rápida, aparentando indiferença, mas cheia de orgulho: “Claro, eu jogo basquete!”

Com tanta atividade física, alimenta-se bem, mas o chocolate continua entre suas paixões: quando vem almoçar na casa da vovó Ana, espera acabar o almoço para ir buscar um bombom na caixa que – como o Tite – sabe muito bem onde está.

Assim, João Vitor, você cresce, dividido entre o menino e o pré-adolescente. No lançamento do livro Vida, do vovô Titi – é assim que você e seu irmão chamam o vovô Santi até hoje – ele lhe pediu para criar o convite online para a noite de autógrafos. Ficou muito bonito e depois virou um banner muito elogiado. Era o jovem responsável caprichando no que lhe haviam pedido.

Mas a criança está presente quando recorda uma brincadeira em que o papai, ao volante do carro, saía bem devagarzinho e o vovô Santi, do lado de fora, gritava “para o carro, motorista”, só para o papai brecar e você e Tite, pequeninos, se divertirem e pedirem: “De novo, de novo!”. Pois não é que há pouco tempo, todos vocês repetiram a cena e você e seu irmão não paravam de rir e pedir “de novo, de novo!” ?!... 

 É nessa convivência de retidão, amor e compreensão da vida, ensinados por mamãe e papai, que você e seu irmão crescem. E nós, os quatro vovós, procuramos aproveitar todos os momentos de convivência com vocês. Agora, quando você chega aos 13 anos, esta vovó Ana só deseja que você continue o garotão carinhoso e alegre, querido por familiares e amigos. E que você tenha sempre a Proteção Maior para lidar com a vida, superando os inevitáveis obstáculos com trabalho e coragem e aproveitando com sabedoria todas as maravilhas que estão por vir.  

8 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns,Ana .Linda crônica.

Anônimo disse...

Obrigada!

Anônimo disse...

Ana, querida, que delícia compartilhar daqui tantos momentos deliciosos, inesquecíveis. João Vítor e o nosso Thomas se dariam muito bem com esse gosto específico pela história antiga. Consigo ver a animação dessa conversa e a descoberta de outras coisas afins. Que maravilha ele e o Tite poderem ler seus textos tão lindos e amorosos até quando forem avós também. Que Deus o proteja sempre e que ele seja feliz 🩵

Anônimo disse...

Obrigada, Leda!

Anônimo disse...

Belo texto, Ana. Uma grande declaração de amor. Parabéns a você pelo neto que tem e parabéns a seu neto pela avó que tem.

Anônimo disse...

Que lindo e emocionante texto, querida Ana… o coração da vovó aqui pulsou muito mais forte ❤️😘🌹

Anônimo disse...

Belo e sensível texto, Ana! Me emocionei com as passagens descritas, das quais, algumas, presenciei. Parabéns!!! 👏👏👏

Anônimo disse...

Obrigada, amigas queridas pelos comentários! Ainda vou achar um jeito de não ter que comentar como anônimo!😂…

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